Quinze jogos sem perder, vencendo os últimos cinco encontros. Quarto lugar na Bundesliga, que dá acesso direto à fase de grupos na Liga dos Campeões, e uma campanha europeia digna de outros tempos (o Eintracht foi finalista da Taça dos Campeões Europeus em 1960 e venceu a Taça UEFA em 1980).

Os resultados nem sempre refletem o valor das equipas, mas neste caso os dados são mais do que evidentes: só mesmo por desconhecimento total se pode considerar que o Benfica é amplamente favorito na eliminatória com o último representante alemão nas provas da UEFA.

Recrutado ao Young Boys, que conduziu à conquista do título suíço, 32 anos depois, o técnico austríaco Adolf “Adi” Hütter sentiu dificuldades iniciais para lidar com a herança de Nico Kovac, que rumou a Munique. O Eintracht começou a temporada a perder a Supertaça precisamente para o Bayern, logo a seguir foi eliminado da Taça por uma equipa do quarto escalão, e festejou apenas uma vitória nas primeiras cinco jornadas da Bundesliga, mas depois embalou para uma temporada (já) notável.

Onze-base

Apresentado normalmente em 3x5x2, o Eintracht é daquelas equipas que se superam pelo pragmatismo com quem exploram as virtudes e escondem os defeitos. Uma formação extremamente sagaz a explorar erros alheios.

Mas não se julgue que as águias alemãs ficam à espera desses deslizes alheios. O Eintracht provoca esses erros, de preferência logo no meio-campo ofensivo, com uma pressão intensa logo nessa zona do terreno, aplicável também à reação forte à perda de bola.

É uma equipa que sabe definir muito bem os momentos em que deve "disparar" uma pressão coesa e compacta, que sabe lançar armadilhas ao adversário, que rapidamente se vê preso numa rede.

Depois, conquistada a bola, a equipa de Adi Hütter é incrivelmente letal na forma como ataca verticalmente a baliza, com destaque óbvio para o “benfiquista” Jovic, já com 24 golos apontados.

Reação do Eintracht Frankfurt à perda de bola, frente ao Shakhtar Donetsk: nesta segunda imagem só não aparecem dois jogadores, o central Hasebe e o guarda-redes Trapp.

Em ataque posicional o Eintracht revela mais dificuldades, patentes logo na primeira fase de construção, apesar da elegância do defesa mais central, o japonês Makoto Hasebe (35 anos).

Ao tentar sair pelas alas, a equipa alemã sente-se mais confortável pela esquerda, sobretudo pela influência de Filip Kostic, que faz todo o corredor (aparece muito bem em zonas de finalização, de resto). Pela direita as limitações são mais evidentes, até porque o central que habitualmente joga desse lado, Martin Hinteregger, é canhoto. E Danny da Costa, o ala direito, é um jogador que se destaca mais pela capacidade física, pela potência com que explora o espaço no corredor, do que propriamente pela dinâmica que incute à circulação de bola.

E mesmo o ex-sportinguista Gelson Fernandes e Sebastien Rode, que habitualmente formam o «duplo-pivot» de meio-campo, destacam-se sobretudo pelo contributo para a pressão sufocante, assumindo pouco a construção de jogo (Jetro Willems e Jonathan de Guzmán, as alternativas, já têm um perfil ligeiramente diferente).

Ataque posicional: saída a três, assumida pelos centrais (os médios raramente baixam para a mesma linha), e alas bem projetados na frente.
Situação curiosa em ataque posicional: Rode baixa ligeiramente no terreno, para pegar no jogo, e depois Gacinovic, o «10», aparece mais próximo dos centrais do Shakhtar do que propriamente Jovic e Rebic, que procuram criar soluções de passe entre linhas. Importa referir que a equipa de Paulo Fonseca estava em inferioridade numérica, o que "obrigou" o Eintracht a assumir mais o jogo.

Posto isto, o Eintracht acaba por recorrer muitas vezes a um futebol mais direto, à procura do francês Sébastien Haller (se não for Ante Rebic), ou então com bolas colocadas por Hinteregger e Evan N’Dicka para as costas dos laterais.

Mesmo que não ganhe logo o lance, a formação alemã congratula-se por remeter o jogo para o meio-contrário e ativar a tal pressão intensa, de forma a recuperar a posse de bola. Um pouco à semelhança daquilo que o FC Porto faz muito bem.

Caso o Benfica consiga lidar com essa pressão junto da sua área e contornar o bloco subido da equipa alemã, terá então condições propícias para atacar a baliza de Kevin Trapp em transição (Rafa pode ser importante neste capítulo).

Mesmo em ataque posicional a estratégia de Bruno Lage pode tentar explorar a forma como os jogadores do Eintracht “saltam” na pressão. A formação alemã costuma controlar relativamente bem o espaço entre linhas, mas é algo vulnerável por fora, sobretudo quando o adversário consegue “atrair” o lateral e expor os centrais em zonas mais próximas das linhas.

Hinteregger é, por este prisma, um alvo a procurar - mais até do que o francês N’Dicka -, mas em contrapartida é preciso ter em conta que o defesa austríaco, que já tinha trabalhado com Hütter no Red Bull Salzburg, é uma ameaça nos lances de bola parada, procurando tirar proveito do seu 1,86m quase sempre ao segundo poste.

Este lance dá origem a um penálti a favor do Shakhtar. Kostic fecha junto dos centrais mas a linha intermédia está toda "inclinada" para a direita, o que gera um espaço entre corredores. De referir, porém, que nos últimos jogos Gacinovic tem aparecido mais próximo de Gelson e Rode em organização ofensiva, e o tridente tem controlado melhor estas situações.
Taison "arrasta" Danny da Costa e deixa o corredor para Ismaily, o que obriga Abraham, central-direito do Eintracht, a abrir na ala. Abraham fica mais exposto ao duelo individual, e para além disso abre-se uma distância para Hinteregger que pode ser explorada.