O documentário intitulado «Maestro Rui Costa - Filho Pródigo do Benfica» estreou este domingo no canal online inglês «Copa90 Stories», uma obra do realizador português Carlos Miranda que conta a vida e carreira do atual dirigente dos encarnados.

No documentário, Rui Costa lembra a primeira vez que foi treinar às captações na antiga Luz sob o olhar atento de Eusébio.

«Comecei a vir ao estádio com os meus pais quando ainda eram bebé. Nasci e cresci praticamente nas bancadas da Luz. Quando me lembro de ser eu próprio, já era fanático pelo Benfica. Desde que comecei a gatinhar que queria uma bola comigo. Juntou-se depois a vontade e o prazer de jogar futebol pelo fanatismo do Benfica. Já não acontecem dias como aqueles. Eram dias de captações onde o treinador do Benfica era o Rei Eusébio. Eram um dia para dar oportunidades aos filhos dos sócios para jogarem na Luz. Estavam cerca de 500 crianças e chamavam-se 22 de dez em dez minutos. A coisa correu extraordinariamente bem ao ponto de nem ter feito os dez minutos. Desatei a chorar, achei que o treinador não tinha gostado de mim. Entretanto falaram com o meu pai e pediram-lhe para me levar treinar no dia seguinte. Não entendia e continuava a chorar, estava tremendamente desiludido», recorda. 

O antigo internacional português revela a relação que criou com Eusébio desde então. «É talvez o dia mais lindo da minha vida. Ali nasceu a minha carreira pelas mãos do maior símbolo que podemos ter no país. Pelo facto de tudo ter começado nesse dia com ele, eu dizia-lhe: 'Esteja calado, não critique que fui o único jogador que treinou a chegar ao futebol profissional'. Brincava muito com ele nesse aspeto. Tínhamos uma relação próxima, ele conhecia-me desde os nove anos. Não havia igual em nenhum sentido. Nunca o vi jogar, mas não era preciso para saber a enormidade de jogador que ele foi. Tínhamos a prova humana do que era no convívio diário com ele. Era uma pessoa fantástica, apaixonada por futebol. Conseguia transmitir-nos isso. Tenho o maior orgulho de ter começado a minha carreira com ele. Com o passar dos anos, fiquei ligado a ele e à família dele. Por isso, as imagens do adeus dele», conta. 

O médio estreou-se com a camisola das águias na época 1991/92 e falou sobre o carinho que sentiu dos adeptos por ser um filho da casa.

«Há um carinho especial pelo jogador que vem da formação. Há uma tentativa da bancada para que esse jogador tenha sucesso. Não conhece o seu passado, sabe que chegou da formação e é aí que se dá o primeiro carinho», atirou.

Após duas épocas no Benfica, Rui Costa transfere-se para a Fiorentina. Quis o destino que este reencontrasse o seu clube dois anos depois durante um jogo de preparação na Luz.

«Não regressava ao meu estádio, mas ia jogar contra o Benfica. Foi a primeira sensação negativa que senti por representar outra equipa que não o Benfica. Foi negativo voltar e ser bastante acarinhado. Não esperava o carinho que o estádio me foi mostrando sempre que fazia uma coisa bem. Era um jogador a jogar por eles com uma camisola diferente. Faço a jogada, que até é boa, e dá-me um arrepio. Vejo a bola entrar e choro compulsivamente. É quando percebo que estou a fazer mal ao meu clube. Começo a festejar como se estivesse a jogar em casa e só depois caiu-me a ficha. Foi o golo mais triste da minha carreira. Esse golo durou muito em mim. Foi mais uma prova de amor ao clube. Se alguma dúvida tivesse pelo sentimento que tenho pelo clube, aí ficou bem claro. Jamais conseguiria jogar noutro clube em Portugal que não o Benfica», rememorou.