Lembram-se dos agentes secretos dos filmes do James Bond? Discretos, mas eficazes, sabendo que um simples descuido pode valer a própria vida? Andriy Shevchenko, o vencedor da edição deste ano da Bola de Ouro da France Football, é mais ou menos assim. Um descuido é poder falhar. Um descuido é poder falhar um golo em frente à baliza. Por isso, não falha. É tão eficaz como os agentes secretos, estejam eles ao serviço de Sua Majestade ou não. Shev está sempre ao serviço da equipa. Primeiro, o colectivo; depois o êxito individual. Por isso, os adeptos do Dínamo Kiev chamavam-lhe Arma Letal.
Hoje o mundo conhece de cor e salteado as qualidades técnicas do internacional ucraniano, mas há um par de anos era um ilustre desconhecido de uma alegada escola futebolística em decadência. Até ao dia 5 de Novembro de 1997. Aí, a Europa abriu os olhos e apercebeu-se que emergia nos relvados um talento de 19 anos que podia ser um dos melhores na sua posição. Nesse dia, o Dínamo de Kiev goleou o Barcelona, em pleno Camp Nou, por 4-0. Quatro golos encaixados na baliza de Vítor Baía, que naquela noite viveu um dos jogos mais difíceis da sua carreira. Shev marcou três, colocando um ponto final no reinado de Baía na Catalunha.
Curiosamente, Shevchenko é uma espécie de fantasma a pairar sobre o guarda-redes do F.C. Porto. Ainda no ano passado, foi ele quem abateu a tiro os azuis e brancos, no Mónaco, marcando o único golo que deixou a equipa portuguesa longe do pódio da Supertaça Europeia, o troféu que falta na vasta galeria de Vítor Baía. Ao todo são cinco golos. Uma pequena porção para quem está perto de chegar aos 100 remates certeiros na liga italiana, em cinco fulgurantes épocas ao serviço do Milan de Rui Costa. Uma marca a ter em conta num campeonato conhecido pelas defesas de armadura de ferro no combate aos avançados venenosos.
No Milan por 20 milhões de euros
Moldado pela sapiência de Lobanovsky, aprimorou as suas potencialidades em cinco ascensionais temporadas ao serviço do Dínamo de Kiev até se transferir para Itália, em 1999, pela elevada quantia de 20 milhões de euros. Logo ali, rasgou a estatística: tornou-se no primeiro estrangeiro a sagrar-se o melhor marcador do calcio na época de estreia. Com vinte e quatro golos fazia história. Aliás, bater recordes é mesmo o seu passatempo predilecto: em 2003, ao lado de Rui Costa, ganhou a Liga dos Campeões frente à Juventus e pagou a promessa feita ao antigo treinador. O primeiro jogador ucraniano a erguer o apetecido troféu.
Não é à toa que Schevchenko ganha o importante prémio da prestigiada publicação francesa, embora seja muito discutível o segundo lugar de Deco, no ano em que o luso-brasileiro venceu a Liga dos Campeões. O avançado ucraniano está no auge das suas qualidades: 28 anos (29/09/1976), faz da eficácia uma máxima e soma um título de campeão nacional transalpino (2003/04), uma Taça de Itália (2002/03), uma Liga dos Campeões (2002/03), uma Supertaça Europeia (2003) e uma Supertaça da Liga (2004).