Manuel Cajuda é o convidado desta semana da entrevista Maisfutebol/Rádio Clube Português. O treinador do V. Guimarães fala da ambição de chegar a um grande, de dois convites que já recusou e da hipótese de ser seleccionador sub-21.
Continua convencido de que não vai chegar a um grande?
Nunca fiz disso um atestado de maioridade. Um dia terei de explicar que podia ter chegado a um grande com mais facilidade. Mas não é isso que ia fazer de mim um treinador melhor. Muita gente chegou a um grande e saiu pela porta do cavalo logo a seguir. Claro que se tira fotografias e que se abre telejornais. Eu tenho horror às pessoas que dizem que querem dar um salto para um grande. Não admito que um jogador meu diga isso. Ninguém está no V. Guimarães para dar o salto para um grande, está para fazer um Vitória maior.
Coloca a questão de mais tarde ou mais cedo ir par um grande?
Se fosse pelos resultados desportivos já devia ter chegado, porque não encontra nenhum treinador que tenha chegado a um grande com melhores resultados desportivos do que eu. Também me dizem que sou um desalinhado. Mas um desalinhado porquê? Apenas nunca deixei que o futebol mudasse a minha mentalidade. Eu não tenho de ter um discurso politicamente correcto, tenho de ter um discurso verdadeiro.
Ma já teve duas hipóteses de ir para um grande?
Já. Toda a gente pergunta quais são, mas não vale a pena. Isso não traz frutos a ninguém. Depois nunca foi ele que convidou, foi sempre o outro. Não fiz vida disso, não passou por aí. Quem sabe se um dia não vai acontecer, porque pode acontecer. Ainda bem que nas alturas em que tive a possibilidade de ir para um grande tive a coragem de não ir. Porque não é fácil dizer que não a um grande clube.
Porquê?
Quando tinha 30 anos deram-me uma equipa para treinar no Farense e eu disse que na altura não tinha estaleca. Passado dois anos apareci como treinador, foi o tempo necessário para amadurecer. Disse há dez anos que não tinha ainda capacidade para treinar um grande e penso que agora estou muito melhor. Muito melhor. Estou menos irreverente, mais lúcido, com um discurso menos sacanita. Mas ainda com algum bom humor. Por isso não há nada que me diga que não possa ser treinador de um grande e se o for agora estou muito melhor preparado. Muito melhor.
A Selecção Sub-21 era um desafio modesto de mais?
Nada é modesto no futebol. Para mim quem faz o momento são as pessoas. Para mim é indiferente ir almoçar a um hotel de cinco estrelas ou a uma tasquinha. Se me sentir bem numa tasquinha, sinto-me como se estivesse num hotel cinco estrelas. Nada é modesto de mais no futebol. Uma selecção portuguesa é sempre uma selecção portuguesa. Disseram-me que já estive para ser treinador da selecção sub-21, não fui, foi escolhido um colega meu e devo respeitar essa decisão. Todos vamos chegar ao fim das nossas vidas sem atingir alguns objectivos.