Manuel Cajuda é o convidado desta semana da entrevista Maisfutebol/Rádio Clube Português. O treinador do V. Guimarães comenta as declarações de Jesualdo Ferreira e garante que ainda tem muito para dar ao futebol.
Jesualdo Ferreira comentou há pouco tempo que se gastam quinze horas por semana a falar de arbitragens. O Manuel Cajuda abriu-nos a porta de sua casa para conversar. Falta mais isto ao futebol?
Falta. Nós, os treinadores, temos alguma culpa de vocês cometerem alguns erros. Primeiro porque falamos pouco convosco. Depois porque devíamos abrir mais a ciência do futebol, parece que há uns quantos que são iluminados. E por fim porque temos a mania de acharmos que só nós é que percebemos disto. Eu gosto de falar de futebol e não me incomoda que os jornalistas me façam perguntas difíceis. Perguntas difíceis significam respostas mais brilhantes.
Quão apaixonado é pelo futebol? Em casa é um viciado pelo futebol?
Sou. Eu não faço mais nada. Não sou o tipo de treinador que não gosta de brincar. Sou um brincalhão por natureza. Tenho pago muitas vezes por isso, porque tenho um discurso humorista. Mas também não gosto de brincar com a inteligência das pessoas. Não sou o tipo de treinador que diz que pensa em futebol 24 horas por dia. Se pensar em futebol 24 horas por dia, sou um mau pai, um mau chefe de família, um mau cidadão.
Há muitos treinadores feitos à pressão, que entram no futebol muito depressa?
Há, sim. Eu fui treinador de uma equipa com 31 anos que tinha oito internacionais e isso não é fácil. Mas o que acho é que há duas maneiras de singrar no futebol: ou vindo da faculdade ou vindo da carreira de jogador. É bom lembrar o que os homens que vieram da faculdade trouxeram ao futebol. Eles não sabem, mas eu sei. Eu passei por esse processo todo e sei que o futebol há quinze anos era muito estúpido. Mas só há dois caminhos: o que vem da faculdade pratica a sua teoria e o que vem do futebol teoriza a sua prática. Juntando as duas coisas pode dar um bom treinador de futebol.
Passados estes anos todos, o que sente que o futebol ainda tem para lhe dar?
Eu nunca me utilizei do futebol e deixei sempre que o futebol me utilizasse a mim. O que aproveitei do futebol foi ganhar dinheiro e pagar impostos. E fazer o que gosto. O que tem o futebol para me dar? Tudo. O que eu tenho para dar ao futebol? Cada vez mais. O que eu tenho para tirar do futebol? Alegria. O que tenho para dar ao futebol? Trabalho e mais trabalho. Em vez de mostrar às pessoas que sei muito, mostrar que sei cada vez menos.
Porquê?
Comecei a aprender muito quando mostrei aos outros a minha ignorância. Se eu admitir que não sei uma coisa e você me ensinar, fico a ganhar, não fico a perder. Tenho tudo a ganhar em questionar o que sei. Não fui um jogador que tivesse o meu nome dez anos no estrelato. Vim praticamente do nada. E para fazer quase 500 jogos no campeonato ou tive muito sorte, ou não tem explicação. Porque ninguém consegue fazer tantos anos.