CAMINHOS DE PORTUGAL é uma rubrica do jornal Maisfutebol que visita passado e presente de determinado clube dos escalões não profissionais. Tantas vezes na sombra, este futebol em estado puro merecerá cada vez mais a nossa atenção. Percorra connosco estes CAMINHOS DE PORTUGAL.
Lusitano de Vila Real de Santo António: Campeonato de Portugal
Cinco italianos, três colombianos, dois brasileiros, um espanhol, um iraniano e, claro, muitos portugueses também… Todos treinados por um ex-futebolista companheiro de equipa de Maradona no Nápoles e de Rui Costa na Fiorentina.
Em Vila de Real de Santo António, junto ao Guadiana e à fronteira, no limite sudeste de Portugal, há uma espécie de Torre de Babel pouco comum nos campeonatos nacionais.
O Lusitano Futebol Clube, que completou o seu centenário em abril do ano passado, cedeu às tentações do futebol moderno e de há dois anos a esta parte assumiu a condição de porta de entrada de potenciais talentos no futebol português.
A época áurea deste clube, delegação do Benfica (como o emblema indicia), aconteceu há muito, muito tempo. Mais precisamente a meio do século passado, quando a equipa marcou presença em três edições da I Divisão Nacional (entre 1947 e 1950).
Agora, o clube milita na Série E do Campeonato de Portugal e para o seu futuro encontrou uma solução vantajosa não só no plano desportivo, como económico, garante ao Maisfutebol o diretor desportivo Marco Almeida:
«Fica-nos muito muito mais barato este modelo do que contratar jogadores portugueses. Portugal é uma grande montra no futebol europeu e aqui um jogador do Campeonato de Portugal tem hipóteses de chegar mais depressa à Liga do que noutros campeonatos. Os jogadores chegam-nos a custo zero, os agentes dos jogadores pagam até os certificados internacionais. Mais tarde, em caso de transferência, o nosso clube tem direito a uma pequena percentagem do valor do negócio. Por exemplo, o iraniano que temos cá – o médio de 24 anos Arash Ostovari – jogava na 1.ª divisão do seu país, mas o empresário entendeu que era melhor para a sua carreira vir para Portugal.»
No último defeso o Lusitano transferiu, por exemplo, a sua dupla de centrais: Marcos Júnior foi jogar para o Stumbras do campeonato lituano e o costa-marfinense Alan Bidi, que havia chegado ao Algarve à experiência, assinou pelo FC Porto, para jogar na equipa B.
Para Marco Almeida o facto de o Lusitano FC se tornar num clube atrativo para funcionar como entreposto tem várias justificações.
«Temos condições ao nível de muitos clubes da I Liga. Não é qualquer clube que tem um estádio municipal e mais quatro campos de apoio – dois relvados naturais e dois sintéticos. Além disso, o Algarve atrai os jogadores porque é um bom sítio para se viver, já que faz bom tempo 90 por cento do ano, mas na base de tudo está o bom trabalho que realizamos. Além disso, nos últimos tempos a Federção Portuguesa de Futebol tem feito um bom trabalho ao dar mais visibilidade ao Campeonato de Portugal», refere o dirigente.
Apesar de salientar que «o objetivo é ganhar jogos e tentar promover jogadores», sem pensar para já em subidas, Marco Almeida acrescentando que a formação também é uma das missões do clube: «No ano passado, oito jogadores da formação jogaram na equipa sénior. Também é muito importante para nós fazermos essa ponte com o futebol jovem.»
Por outro lado, na equipa secundária do Lusitano militam também dois jogadores italianos.
Esposito: colega do «maestro» e do «tutor de Deus»
O peso do contingente transalpino tem uma boa explicação: Carmine Esposito.
O treinador de 46 anos, que veio este ano para o Algarve convencido por Gianluca Pavonello (treinador de guarda-redes que já conhecia o futebol português) pendurou as chuteiras há menos de uma década. Apesar de ter militado sobretudo nos escalões secundários do calcio, na sua carreira chegou a vestir a camisola de Nápoles, Fiorentina e Sampdória.
Era um promissor médio da equipa primavera (formação secundária) dos napolitanos, quando foi chamado à primeira equipa para jogar ao lado de Maradona.
Quase trinta anos volvidos, as palavas sobre El Pibe não são muitas, mas a admiração pelo génio é imensa. «Se Maradona é Deus em Nápoles? Ele é o tutor de Deus… (risos)», diz Esposito, recordando as palavras do ídolo para os seus jovens colegas de equipa: «Maradona dizia-me. “Porque é que eu não posso ter uma vida como vocês?” Ele tinha diariamente fãs à porta da villa onde ele vivia nos arredores de Nápoles. Alguns iam embora ao final do dia, outros ficavam lá durante a noite. Não lhe saíam da porta de casa.»
Admiração, muita também, por Rui Costa. Esposito foi companheiro de equipa do «maestro» português na época 1998/99 numa Fiorentina de sonho, que terminou a Serie A no pódio (3.º lugar, atrás da Lázio e do campeão Milan).
«Rui Costa… Esqueçamos Maradona, que é um caso à parte, e digo: foi dos melhores médios que vi jogar em Itália. Mas nessa equipa havia Batistuta, um fora de série, Edmundo, que era um louco… Mas Trapattoni, nosso treinador na altura, também o era. (risos)», conta Esposito, explicando que, naturalmente, quando saiu na época seguinte para a Sampdória deixou de ter tanta proximidade com os amigos Rui Costa e Batistuta.
«As carreiras fazem com que nos afastemos. Desde que voltei a Portugal ainda não retomei contacto com ele. Gostaria muito de reencontrá-lo. No entanto, sei que o filho dele joga no Louletano, que é aqui perto. Tenho a ideia de aproveitar um jogo desses voltar a estar com o Rui Costa.»