CAMINHOS DE PORTUGAL é uma rubrica do jornal Maisfutebol que visita passado e presente de determinado clube dos escalões não profissionais. Tantas vezes na sombra, este futebol em estado puro merecerá cada vez mais a nossa atenção. Percorra connosco estes CAMINHOS DE PORTUGAL

VARZIM SPORT CLUB (1º classificado, Série B, CNS)

Percorrer os caminhos da memória varzinista é tarefa ingrata. São tantos e tão ricos os episódios de um século de história - e tantas as inesquecíveis personagens – que se torna particularmente frustrante ter de resumir tudo a um punhado de recordações.

Pedro Faria, presidente em funções, e Lídio Marques, líder honorário, conduzem o Maisfutebol pela mão e transportam-nos a tardes de profundo fervor pelo clube. É uma viagem no tempo com paragem obrigatória em estações de sonho.
 
«O primeiro ponto alto do Varzim é a subida à I Divisão, em 1963», começa Lídio Marques, sócio 19 do clube. «Depois tenho de destacar a temporada de 1975/76, ano de regresso ao escalão maior. Tínhamos uma fabulosa equipa, o treinador era António Teixeira».

«A casa estava sempre cheia. Não era preciso vir um grande à Póvoa para a lotação esgotar», completa Pedro Faria. «Não havia centros comerciais, o domingo à tarde era só para ver o Varzim»
 

O quinto lugar na época 1978/79 é o recorde absoluto dos Lobos do Mar na I Divisão. Mas há outras classificações a justificarem um sublinhado especial: sexto lugar em 1969/70, sétimo em 1976/77 e 1986/87, oitavo em 1965/66 e 1983/84.

«Tivemos grandes equipas e uma massa associativa incrível, sempre apaixonada. A maior enchente? Varzim-Sporting, época 1965/66. Perdemos 1-2. Estava tudo de pé, não cabia nem mais uma mosca», recorda Lídio Marques.

Nessa altura, veja-se bem, o Varzim já tinha campo relvado. «Outros clubes esperaram mais 20 ou 25 anos para isso. E sabe quem treinava a nossa equipa? José Maria Pedroto. Cumprimos 50 anos nessa temporada»
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Passar na Póvoa era um teste duríssimo. FC Porto, Benfica e Sporting encontravam sempre o mesmo ambiente: mar de gente, sangue na guelra, combate extenuante pela vitória».

Os anos 80 foram palco de grandes jogos do Varzim, quer em casa, quer em ilustres palcos noutras cidades.

Varzim-Benfica, 0-0, 1986/87

 

Varzim-FC Porto, 0-2 1986/87:



A maior alegria de Lídio Marques aconteceu, precisamente, nessa década dourada. Mais precisamente no dia 22 de junho de 1986.

22 de junho de 1986? Sim, o mesmo dia em que Diego Armando Maradon abateu a Inglaterra no Estádio Azteca com dois golos e eternizou a mão de D10S.  

Na Póvoa celebrava-se outros feitos. «Vencemos o União Madeira por 2-1 e voltámos à I Divisão. O União era treinado pelo Mourinho, o pai do José, que tinha saído do Varzim meses antes. O Henrique Calisto era o nosso treinador. Nunca chorei tanto num jogo de futebol».

O Varzim é mesmo assim. Num mesmo texto consegue juntar Pedroto, Maradona e Mourinho. Não há muitos clubes assim.