[publicado originalmente a 5 de outubro de 2010]

O Sporting Clube de Portugal nasce quatro anos antes da queda da Monarquia. Do alto do palanque, chapéu de coco e olhar irascível, José de Alvalade grita de punho fechado e erguido lá no alto. «Vou ter com o meu avô e ele me dará dinheiro para fazer outro clube!» Aborrecido com o caminho escolhido pelo Campo Grande Football Club - bailes, piqueniques e beberetes -, o pioneiro leonino sai do clube e atrás de si seguem mais 17 dissidentes.

A aristocracia lisboeta aplaude o arrojo do jovem. O avô chama-se Alfredo Augusto das Neves Holtreman (Visconde de Alvalade), é um dos maiores entusiastas dos sonhos do neto e torna-se mesmo no primeiro presidente do Sporting. O primeiro campo e a primeira sede são inaugurados a 4 de Julho de 1907, no Sítio das Mouras, ao Lumiar.

Apesar de confessos simpatizantes do regime reinante, José de Alvalade e o avô jamais transportam a política para dentro do clube. Assim, em 1910, o Golpe de Estado não afunda o Sporting, como muitos temem. Os leões contornam as dificuldades e são, por essa altura, o mais profissional dos emblemas lusitanos.

A 10 de Março desse ano, a equipa de futebol realiza o primeiro jogo internacional: vitória perante os espanhóis do Huelva por 2-0.

Os irmãos Stromp e as provocações ao Benfica

Os irmão Stromp, Francisco e António, começam a ganhar influência na órbita do leão. Desportistas excelsos, tornam-se símbolos da qualidade exalada pelos primeiros conjuntos do Sporting.

Uma qualidade, ainda assim, insuficiente para a conquista do Campeonato de Lisboa. Objectivo maior nesses tempos. Ainda sob a égide da primeira direcção, o Sporting acaba somente em quinto na edição de 1909/10, com protestos e uma falta de comparência pelo meio.

A Implantação da República não afrouxa a vizinhança irritada entre Sporting e Benfica. Trocas de acusações, debandada de atletas, ameaças, tudo se torna normal num período em que o foot-ball é ainda um misto de ingenuidade, sonho e ilusão de amadores.

Já nos primeiros meses republicanos, o Sporting não comparece ao derby marcado para o Lumiar. A direcção do Visconde de Alvalade lança provocações ao Benfica e diz que o adversário não é digno de pisar as suas instalações.

A capital estremece perante a vertigem de uma guerra fria entre dois dos principais precursores do foot-ball.

Do brasão do Pombeiro para o século XXI: o mesmo leão

José de Alvalade assume a presidência do Sporting precisamente no ano da revolução. Defensor do ecletismo, aplaude fervoroso as conquistas dos títulos de ténis, salto à vara, lançamento do peso e salto em comprimento. O jovem leão poreja saúde, ciente do caminho a seguir nos primórdios do século XX.

Do brasão de D. Fernando de Castelo Branco, o Pombeiro, aos dias de hoje, sempre o mesmo leão rampante como símbolo. Em Alvalade ecoa agora e sempre o repto lançado pelo Visconde de Alvalade, ainda quando a república não passa de um mero plano de alguns conspiradores.

«Queremos que este clube seja um grande clube, tão grande como os maiores da Europa!»