Foi um daqueles momentos que mudou a história do futebol. Oitavos de final do Mundial de 2010, a Alemanha vencia a Inglaterra por 2-1 e Frank Lampard rematou de fora da área. A bola sobrevoou o guarda-redes Neuer, bateu na trave e no chão, ultrapassando claramente a linha de golo. Mas o árbitro uruguaio Jorge Larrionda não viu.



O presidente da FIFA, Joseph Blatter, admitiu esta quinta-feira que este foi o «golo-fantasma» decisivo para a aprovação da tecnologia de baliza.

«Nós não tínhamos sistemas precisos no passado. Depois do que aconteceu na África do Sul, tenho de dizer: obrigado Lampard», afirmou, citado pela Reuters, acrescentando que ficou «chocado» com a não validação do golo inglês: «Demorei um dia a recuperar».

A este processo não deverá ter sido alheio o facto de, na votação do International Board, terem participado quatro representares do Reino Unido e um da FIFA (que tem o voto de quatro). A seleção inglesa é, aliás, especialista nisto dos «golos-fantasma».



A bola de Geoff Hurst que não entrou na baliza no Mundial de 1966, precisamente num Inglaterra-Alemanha, é, muito provavelmente, o «golo-fantasma» mais famoso da história do futebol. Ainda neste Europeu, a Inglaterra voltou a estar envolvida numa polémica do género, quando John Terry tentou safar um golo certo da Ucrânia, com o árbitro a não considerar que a bola entrou na sua totalidade.

Quarenta e seis anos depois, o chip na bola ou uma câmara de vídeo vão evitar isto mesmo, emitindo um alerta para o árbitro quando a bola entra por completo. A primeira experiência será feita no Mundial de Clubes, que se realizará em dezembro, no Japão. Se correr bem, a tecnologia será usada na Taça da Confederações do próximo ano e no Campeonato do Mundo de 2014, ambos no Brasil.

Segundo o secretário-geral da FIFA, Jerome Valcke, a instalação do sistema custará entre 150 mil a 250 mil dólares por estádio (entre cerca de 122 a 203 mil euros). Nestes primeiros casos, será a organização a assumir os custos e, depois, cada federação decidirá o que fazer, até porque a tecnologia não passa a ser obrigatória. Com o tempo, a FIFA está convencida que o preço vai diminuir.

As duas empresas cujos sistemas foram aprovados são a Hawk-Eye e a GoalRef. A tecnologia da primeira, já usada no ténis, baseia-se em câmaras de vídeo; já a da segunda implica o uso de um campo magnético que deteta a passagem total da bola.

Após esta decisão, o presidente da FIFA já avisou que outras tecnologias, como as repetições de vídeo para ajudar a tomar decisões realcionadas com o fora de jogo, as faltas ou as simulações, não fazem parte dos seus planos. «O futebol deve manter o seu rosto humano», concluiu.

Por cá, o presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes, ficou satisfeito com esta novidade e já se disponilizou para a «implementação do sistema em Portugal».

O «golo-fantasma» mais polémico do futebol nacional aconteceu à sexta jornada da época de 2004-2005, em pleno Estádio da Luz. O F.C. Porto ganhava por um golo quando Petit rematou. Vítor Baía falhou a primeira defesa, a bola ressaltou em direção à baliza e o guarda-redes voou para a salvar. Os adeptos do Benfica pediram golo, os portistas aplaudiram a decisão do árbitro Olegário Benquerença. E o leitor: oito anos depois, o que acha?