Maradona, Pelé, Cruyff… Em documentário ou ficção as grandes lendas do futebol mundial passaram dos relvados para a tela dos cinemas.

Agora, «Eusébio, história de uma lenda». O documentário do realizador luso-francês Filipe Ascensão sobre a carreira da estrela do Benfica e da Seleção Nacional estreia esta quinta-feira nos cinemas de todo o país.

Eusébio já havia sido retratado no cinema através do filme «Pantera Negra», de 1973, realizado por Juan de Orduña (pode vê-lo na íntegra clicando AQUI).

Desta vez, são «90 minutos para voltar a estar com o King» através de testemunhos na primeira pessoa de Eusébio e de quem o conheceu, conforme já havia revelado o próprio realizador em conversa com o Maisfutebol: «O filme não tem voz off. 80 por cento é ele a falar (…) Não me interessa a parte documental. O ângulo é como se passou, como se viveu, como aconteceu. Este filme é um exercício que me permitia ter uma boa mistura dos dois. Optei por uma narrativa de filme, não de documentário. Ele foi um herói e tem essa trajetória de herói que se encontra em qualquer filme.»

Heróis nos relvados, protagonistas no grande ecrã. Para António-Pedro Vasconcelos um bom filme sobre um futebolista deve ser sobre «alguém com uma carreira relevante e uma vida complicada». De preferência em documentário. Fazer ficção levanta outros problemas.

«Apesar de hoje ser possível através das técnicas digitais encher de gente um estádio vazio, por exemplo, para fazer uma boa ficção sobre um futebolista seria necessário encontrar bons jogadores, que não são necessariamente bons atores, para interpretarem o papel do protagonista. É difícil. Mas também não é propriamente fácil fazer um bom documentário sobre um grande jogador. No caso do Eusébio, ainda não vi este filme, mas ele já é de uma era em que o disputou o primeiro Mundial (1966) transmitido na televisão. Há registo da carreira dele. O Peyroteo foi um grande goleador e o único dessa época que escreveu as suas memórias, mas como é de uma era anterior à televisão não existe uma única imagem dele a jogar», afirma o cineasta ao Maisfutebol, apontando em seguida bons e maus casos da transposição do futebol para o cinema:

«Há aquele filme do Zidane («A 21st Century Portrait»), que é uma coisa horrível. Só um amador faz um filme que são 90 minutos a filmar um jogador, quando durante um jogo ele tem a bola dois minutos e meio nos pés. Ainda para mais, com a câmara em cima do Zidane, que sabia que estava a ser filmado e no final do jogo quase provoca a expulsão perante aquela pressão. Nem se percebiam as movimentações dele em campo, nada. É a negação do cinema. Mas há bons exemplos: «A Alegria do Povo», sobre o Garrincha, o filme do Emir Kusturica sobre o Maradona. O Maradona é o primeiro grande jogador a ter noção da câmara. E depois é uma grande personagem: além de ser um grande futebolista, teve uma vida difícil, tinha o coração ao pé da boca, foi perseguido pela FIFA…»

Maradona não é caso único. Há outros jogadores que valem boas histórias para o grande ecrã: «Cantona é um dos mais interessantes por ter uma forte personalidade, aliás, até é ator. Mas havia outros que poderiam dar bons filmes, como o George Best, naturalmente», afirma o realizador. E em Portugal? «Além do Eusébio? Talvez o Vítor Baptista, por ter sido um talento que se perdeu, ou o Carlos Gomes, antigo guarda-redes do Sporting que teve de fugir para o Norte de África por causa de uma acusação que lhe fizeram relacionada com uma rapariga. Tinha uma história interessante. Falando em filmes portugueses sobre futebol há que recordar sempre "O Leão da Estrela". É um clássico, um filme fantástico.»

Lendas do futebol que passaram para o cinema:

Maradona, inspirador da sétima arte

Ontem, hoje e sempre, El Pibe é uma figura incontornável na cultura popular. Em Buenos Aires, em Nápoles, por todo o mundo. Na música há dezenas de temas sobre o seu talento, no cinema é possível encontrar uma mão cheia de filmes.

Um dos mais bem conseguidos exemplos é «Maradona by Kusturica», documentário premiado em Cannes em 2008, em que o realizador sérvio Emir Kusturica conta a atribulada carreira do astro argentino embalado por temas como «La Vida Tombola» de Manu Chao.

«Amando a Maradona» (2006), de Javier Vázquez, é outro documentário recente sobre o Diego, que inspirou também filmes de ficção: de «Maradona, the Hand of God» (2007), do realizador ítalo-argentino Marco Risi, a «El Camino Para San Diego», um road movie argentino de Carlos Sorín, em que um grupo de fãs da província de Misiones encontra um tronco parecido com a imagem de Maradona a celebrar um golo e faz uma longa viagem para tentar oferecer o precioso achado ao seu ídolo.

Garrincha e Pelé em documentário e ficção

Também Pelé inspirou documentários e ficção. Em 2004, «Pelé Eterno», produzido e realizado por Massini Neto e escrito por José Torero em colaboração com o jornalista Armando Nogueira debruçou-se sobre a carreira «Rei», que no último ano viu estrear uma produção hollywoodesca sobre a sua vida: «The Birth of a Legend», um filme norte-americano produzido e realizado pelos irmãos Jeff e Michael Zimbalist estreou em maio de 2016 e tem no seu elenco Seu Jorge e uma curtíssima participação do próprio Pelé, que é interpretado pelos atores Leonardo Carvalho e Kevin de Paula.

Garrincha, outra estrela brasileira da década de 1960, foi também protagonista de películas nos dois géneros: dos antigos documentários «Alegria do Povo», de 1962, e «Mané Garrincha», de 1978, à ficção «Estrela Solitária» (2003), de Milton Alencar, baseado no livro de Ruy Castro.

Outro jogador brasileiro cuja vida passou para o cinema foi Heleno de Freitas, craque do Botafogo na década de 1950, que passou os seus últimos dias num sanatório. Rodrigo Santoro interpreta o papel do craque no filme lançado em 2012, que foi premiado em vários festivais.

De Cruijff e Cantona a Messi e CR7

As carreiras de algumas lendas do futebol europeu também foram retratadas pela sétima arte. A começar desde logo por Johan Cruijff, que serviu de mote a documentários como «Nummer 14» (1973) ou «En un Dado Momento» (2004) e «L’últim Partit» (2014).

George Best deu origem ao drama «Best» de 2000 e ao recentíssimo documentário «Best: All by Himself», estreado no final de fevereiro.

Zidane protagonizou o já referido e contestado «A 21st Century Portrait», de 2006, em que os realizadores Douglas Gordon e Philippe Parreno levam a cabo o exercício de filmá-lo num Real Madrid-Villarreal. Por sua vez, Eric Cantona, outra estrela do futebol francês, que depois do futebol enveredou por uma carreira como ator, apresentador e produtor foi protagonista no filme «Looking for Eric», de 2009.

Já Beckham, Scholes, Giggs, Butt e os irmãos Neville, também ídolos do Manchester United, foram cabeças de cartaz no filme de 2013 «The Class of 92».

Há, porém, outros exemplos de documentários sobre futebolistas – Javier Zanetti, Tim Cahill ou Andrés Escobar –, mas também outras figuras, como o antigo treinador Brian Clough ou o árbitro sueco Martin Hansson.

Mas entre todos não poderiam também faltar as estrelas do futebol atual. Lionel Messi teve direito ao seu documentário (2014), com o título homónimo, escrito por Jorge Valdano, tal como Cristiano Ronaldo (2015). E se Messi e Ronaldo saltaram para o grande ecrã, Ibrahimovic não ficou atrás e em 2016 foi lançado «Becoming Zlatan», que conta a história dos primeiros anos de carreira do sueco.