O F.C. Porto garantiu o resultado esperado, na 5ª eliminatória da Taça de Portugal, mas a história deve reservar um capítulo para uma brava legião de Cinfães, enaltecendo a abnegação da equipa da III Divisão frente ao tricampeão nacional. Os dragões regressam a casa com uma vantagem de três golos, mas arriscaram demasiado. Sem castigo, de qualquer forma.
Jesualdo Ferreira poupou oito titulares e promoveu um exame global às soluções existentes no plantel do F.C. Porto. A Taça de Portugal surge como cenário de rodagem competitiva para os elementos pouco utilizados até ao momento. O grande desafio consiste em colocar os índices de motivação a um plano aceitável. Uma vez mais, a resposta não convenceu.
O plano B do F.C. Porto foi insuficiente para intimidar o Cinfães, terceiro classificado da Série C da III Divisão. As realidades são incomparáveis. O treinador portista reuniu um grupo de internacionais e subiu o rio Douro, encontrando uma terra onde o azul e branco predomina. Na 5ª eliminatória da Taça, com o coração dividido, os locais prometeram torcer pela equipa da casa, esquecendo a simpatia pelos tricampeões nacionais.
Com pasteleiros, estudantes, engenheiros e um treinador dedicado à sua loja durante a semana, o Clube Desportivo Cinfães foi controlando a ansiedade até ao momento do apito inicial. Seguiu-se o mais fácil: jogar futebol. Estes homens, trabalhadores anónimos durante os dias da semana, tinham a oportunidade única para assinalarem as carreiras desportivas com letras douradas.
Durante largas semanas, todos iriam falar da segurança\ defensiva de Kipulo e Jonas, nomes mais conceituados do plantel. Nos cafés, choveriam elogios à classe de Rui Gonçalves, à velocidade de Mauro pela direita, à irreverência de Miki pela esquerda. O F.C. Porto, atrapalhado, ia fazendo o jeito, tremendo a cada investida.
Ao longo da etapa inicial do encontro, cinco mil pessoas assistiram a um duelo equilibrado entre dois clubes com quatro escalões de diferença. Equilíbrio até soa a elogio, face ao desempenho cinzento dos dragões, mas o Cinfães não conseguiu marcar e foi perdendo a fé. Jesualdo Ferreira sentiu o perigo e respondeu pouco depois da meia-hora, trocando o aflito Tengarrinha por Candeias. Lentamente, o F.C. Porto despertou.
Curiosamente, o golo portista surgiu quando o Cinfães desenhava mais um ataque. Passe errado, bola em Mariano González e talento a resolver um problema bicudo. O argentino flectiu da esquerda para o centro, Miguel Matos defendeu para a frente e Ernesto Farías desfez o nulo, na recarga.
O F.C. Porto encarava a etapa complementar com maior tranquilidade, dedicando o seu tempo a gerir a magra vantagem. O adversário ia baixando os braços, claudicando em termos físicos, e os dragões voltaram a entrar numa espiral de sobranceria. Quando Sérgio deu uma tremenda cabeçada na apatia generalizada, após canto cobrado por Miki, voltou a pairar a incerteza. O sonho esfumou-se rapidamente. Guarín bisou em lances de bola parada e, pelo meio, Candeias também picou o ponto. Ponto final, aliás.