José Coelho não contorna as questões delicadas. Mesmo perante um cenário familiar que sensibiliza quem lê a história, é o primeiro a admitir parte da responsabilidade por, aos 22 anos, não ter ainda confirmado as expectativas criadas em torno do seu futuro. Neste momento, é um jogador livre.
Coelho: dos sonhos à tragédia familiar
Explodiu no F.C. Porto, deixou-se seduzir pelo sonho no Inter de Milão, foi para a formação do Benfica e esteve vinculado aos encarnados até ao início de 2012. Como sénior, passou por Paços de Ferreira, Fátima e Atlético. Não correu bem. Passou os últimos seis meses no F.C. Sheriff, campeão da Moldávia.
«A verdade é que, em Portugal, joguei apenas três anos no futebol sénior. E sempre como emprestado. Nunca estive num clube que se interessasse verdadeiramente por mim, fui sempre como produto, imposto, num pacote, como moeda de troca», desabafa ao Maisfutebol.
O Paços de Ferreira, aliás, deu-lhe a oportunidade de regressar à sua terra no primeiro ano ao mais alto nível. E foi lá, precisamente, que teve contacto com o lado perverso da moeda.
«Eu, com 19 anos, li um artigo num jornal desportivo a dizer 'estrelas caídas'. Era um trabalho sobre promessas que se perderam e tinha a minha fotografia a ilustrar! Eu tinha apenas 19 anos e já era uma estrela caída? Sentia-me feliz por voltar a jogar, não deixei que me afetasse mas a verdade é que nunca esqueci isso», recorda.
Nesse momento, José Alves (conhecido como Coelho) sentiu-se injustiçado. «Eu tinha feito a minha estreia pouco antes com o Paços de Ferreira na Supertaça, frente ao F.C. Porto. Quem me mostrou o jornal foi o treinador Paulo Sérgio, num almoço da equipa. Fiquei surpreendido.»
«Maiores erros foram escolhas de clubes»
Sem especificar, o jovem admite escolhas erradas na carreira. «Os meus maiores erros foram apenas de trocas de caminho, de escolhas de clubes. Outro erro foi nunca ter escondido nada. A certa altura, duas entrevistas minhas foram cortadas, não saíram porque eu dizia coisas que não devia dizer. Paguei por isso.»
Aos 22 anos, continua a ser visto como a promessa que passou por F.C. Porto, Inter e Benfica. «Se pudesse apagar isso da memória das pessoas, seria até mais fácil para isso. Se calhar, colocam as expectativas demasiado elevadas em relação a mim.»
«Às vezes, pode usar-se a palavra frustrante, mas tento utilizá-la o mínimo de vezes possível e escondê-la. A cada sonho que se foi, há um sonho que se formou. É a frase que gosto de usar e tento-me agarrar a isso», diz, com esperança.
Coelho relata episódios com Balotelli
O drama familiar motivou um regresso a Portugal e José Coelho espera relançar a carreira por cá. «Estou em Paços de Ferreira e tenho procurado clubes nesta zona. Não posso ficar parado um ano, seria frustrante prejudicar a minha carreira dessa forma. Tive conversas com um clube da Madeira, preferia ficar mais perto para dar apoio à família, mas não posso estar a excluir opções.»
«A situação está difícil nos clubes, não existe dinheiro. Para além disso, sinto que é difícil porque vim da Moldávia, as pessoas não sabem da minha situação e veem apenas que joguei pouco no Atlético e no Fátima, isso pode estar a manchar a minha imagem. Espero que não fique assim», rematou o jogador.