Priiiiiii! Era para ser um assobio. Fica assim. Pareço vítima indirecta de explosão, deixei de ouvir depois de ouvir tudo, a bomba a rebentar, em réplicas, na minha cabeça. E, depois, o silêncio absurdo, impensável. Nem uma mosca. Parece filme dos anos 20, ou 30, por aí. As bancadas explodem. Brumm em legenda de filme mudo. Bandeiras de heróis de antigamente e de agora, símbolos de guerra, clãs inteiros a esvoaçar no ar da noite, à espera que a bola entre. Suspensos no momento em que ultrapassa a linha. Não chega! É para esmagar sem misericórdia, jogar até aos olés e insultar pai e mãe do moribundo.

Aviso que a minha TV tem protecção contra bolas de golfe, e fiz para este texto um seguro anti-incêndio, e assim talvez escape da fogueira. Tenho o capacete de mineiro ao lado do telecomando, e dois moleskines com cábulas, um azul (e branco; só de uma cor) e outro encarnado (e não vermelho, por causa da política) cheios de elogios. Se me perguntarem, vá-se lá saber porquê, o que achei do clássico vou ter só coisas boas para dizer!

Deixem as pedras à calçada, os telemóveis descartáveis com mimos, pakos e vitaminas para quem não tem dinheiro para chamadas. Troquem as moedas velhas no banco, brinquem aos lasers com os gatos de abrigos. Esqueçam a crise e sintam-se felizes durante duas horas.

Limpem os Sócrates da cabeça, imaginem que estes derretem atrás uma pá de carvão em locomotiva pré-TGV; ou castigam o Enter de um Magalhães sem ligação à net, desperados por sair da linha que os conduz ao inferno. Olhem para os meus dedos. Quando os estalar... Tentem esquecer Passos Coelhos, agora esmagados por metades de subsídio a cair, com símbolo de percentagem e tudo, de renas migratórias da Lapónia.

Não se preocupem, não vale a pena usarem peúgas com olhos improvisados. Não vou gravar o jogo em VHS, porque preenchi fitas com vida e obra dos Metallica, não tenho DVD que o faça, e os CSI deste mundo e do outro resolvem crimes na minha box, com medo do Horatio. Também quero, é verdade, que tenham alibi e assim possam continuar a fazer de conta que nada se passou. Tenho petição no facebook e procuro fãs que façam like, sem banda sonora do Malhoa, para apagarmos as evidências.

E os miúdos, por favor, para a cama! Arrumem as PS3 com o PES e o FIFA, porque já têm olhos-de-vampiro e os polegares dormentes. Já, ou depois do Vitinho, se ainda houver Vitinho, do Tom & Jerry, ou de o Bart e o Krusty incendiarem a central nuclear de Mr. Burns.

Olha, olha, olha...! Fora-de-jogo claro! Até eu vi...! É penalty! O gajo não vê que é penalty? Fora-de-jogo antes, agora penalty. Está comprado. Está tudo feito! Assim não vamos lá. Mete os óculos, pá! Apita, porra, apita! Apito e boca, juntos, apiiiiiiiiita! É difícil? Priiii! Será que se escreve assim?

Cinco segundos até falarem em escutas. E no Salazar! Ah, o Salazar...! Guardas, túneis e fruta! RTP Memória, Canal História! Clube regional! Portista? Benfiquista? Rais`parta o jornalista! Sportinguista? Pelo menos, intriguista. Não viu o mesmo jogo, não concordo nada! É pago por quem? Quem é o padrinho? Corruptos! Todos corruptos!

Grande círculo; cara ou coroa, ou vice-versa. Três dedos e trivela, quatro dedos e a unha do mindinho a dominar sobre a linha. Aponta ao céu; é para ti, Ardiles! Pedala-da-da e língua embrulhada, vírgula, reticências e !que bomba! Oh! Triplo-oh! Subam! Carrinho de lés a lés, nem o Maldini! Desmarcações, recuperações. Bascula, miúdo, Bascula! Emoção, intensidade. Fé em postes triangulares e de faces viradas para dentro. Tomaaa! Toma! Golo, mais um, outro! Grandes defesas, jogadas impossíveis.

Não podemos ganhar todos?

«Era capaz de viver na Bombonera» é um espaço de opinião da autoria de Luís Mateus, sub-director Maisfutebol. Pode ver o seu BLOG e segui-lo no TWITTER