A exposição competitiva dos laterais do FC Porto é brutal: 5244 minutos divididos por dois corações e quatro pernas, Danilo e Alex Sandro. Estamos em fevereiro e no topo do futebol europeu só no Atlético Madrid o quadro de utilização homóloga é superior.

Dois homens sem concorrência direta e quase 20 milhões de euros sobre as costas. Utilização ininterrupta e totalitária de dois meninos com pouco mais de vinte anos.

Como gerir a titularidade decretada pela falta de alternativas e a exigência constante da alta competição? A escola feita no Santos, as internacionalizações na seleção A do Brasil e as qualidades evidentes subiram muito, talvez demasiado, a fasquia da expetativa sobre ambos.

É admissível ou, pelo menos, aconselhável um plantel com a responsabilidade do FC Porto ter só dois nomes óbvios para duas posições fundamentais?

O que é um lateral moderno, qual a sua principal incumbência?

Melhorar sem recurso à terapia de banco: é possível?

Antes das respostas, os números: o Maisfutebol olhou para os três primeiros classificados das quatro principais ligas europeias, além da portuguesa, e concluiu que o desgaste a que Danilo e Alex Sandro têm sido sujeitos não é, de todo, normal.

Trouxemos para este registo os dois jogadores mais utilizados por cada clube nos lugares de referência. Apenas no Atlético Madrid (Juanfran e Filipe Luís) a carga competitiva dos laterais do FC Porto é ultrapassada. Por 297 minutos.

Importa referir, contudo, que os colchoneros têm 38 jogos oficiais efetuados, contra 32 dos dragões.

No caso portista, Danilo falhou dois jogos por suspensão (Supertaça contra V. Guimarães e Penafiel na Taça da Liga) e Alex Sandro só um (Olhanense, 14ª jornada da Liga, pelo mesmo motivo).

Paulo Fonseca não abdica, e provavelmente não pode, destes jogadores. De que forma um treinador pode e deve estimular dois elementos a quem está aparentemente proibida a terapia de banco?

«Quando falamos em jogadores de elite, uma das características que lhes devemos reconhecer passa por serem sempre competitivos, ambiciosos e exigentes», explica ao Maisfutebol o treinador Luís Diogo, ex-responsável pelo comando técnico do Trofense e formado em Educação Física e Desporto.

Na teoria é assim, mas a prática colide muitas vezes com o que vem nos livros, admite o próprio.

«Como melhorar? Passa, sobretudo, pelo processo inverso ao que considero normal: corrigir em vez de pró agir. A envolvência do grupo deve confluir num clima de exigência máxima e de ambição permanente».

Soluções internas são sempre preferíveis ao mercado

A análise individual do Maisfutebol tem sublinhado, na época corrente, o número anormal de erros defensivos de Danilo e Alex Sandro. Muitas vezes primários, quase sempre embaraçosos.

Mesmo assim, são dois dos mais utilizados por Fonseca: erram num jogo, voltam a jogar no seguinte.

Como pode um treinador devolver estes atletas, de excelente nível, às performances normais?

«Deve tentar perceber-se as razões para a quebra. Se se considera que passa pela ausência de concorrência para o lugar, a forma mais fácil é recorrer ao mercado», responde o treinador Luís Diogo.

«Contudo, no decorrer do campeonato, sobretudo quando se trata de um jogador com influência no grupo, devem procurar-se soluções internas para resolver o problema e provocar competição no jogador», acrescenta.

«No caso do FC Porto, Maicon ou Ricardo parecem ser soluções eficazes, embora diferentes. O treinador deve criar e desenvolver dinâmicas grupais, setoriais, intersetoriais e coletivas, sempre promovendo a concorrência».

«O treinador deve evitar ao máximo o confronto com o jogador»

A composição normal de um plantel profissional aponta para a integração de quatro laterais. O FC Porto nunca os teve esta época. Jorge Fucile surgia como uma opção boa para os dois lados do setor mais recuado, mas rapidamente foi afastado.

Quais as consequências, na parte física, à participação absoluta em todos os jogos da equipa? Treinar bem é fundamental, aponta o treinador Luís Diogo. Depois, subir ou não a qualidade de jogo passa muito por aquilo que o jogador quiser/decidir fazer.

«O treinador deve evitar ao máximo o confronto subjetivo com o jogador. Deve, isso sim, mostrar ao jogador, através da utilização de meios de observação do treino/jogo, análise tempo - movimento, frequência cardíaca, que este está em sub-rendimento. E, naturalmente, depois de ele entender o que está a acontecer, levá-lo a decidir o que fazer...»

A três meses do final da época, Danilo e Alex Sandro vão a tempo de ter pernas e cabeça para a redenção?

TEMPO DE UTILIZAÇÃO DOS LATERAIS:

PORTUGAL

FC PORTO: 32 jogos oficiais

. Danilo: 30 presenças, 2544 minutos
. Alex Sandro: 31 presenças, 2700 minutos

Total: 5244 minutos

BENFICA: 32 jogos oficiais

. Maxi Pereira: 23 presenças, 1849 minutos
. Siqueira: 13 presenças, 1018 minutos

Total: 2857 minutos

SPORTING: 24 jogos oficiais

. Cedric: 19 presenças, 1710 minutos
. Jefferson: 19 presenças, 1640 minutos

Total: 3350 minutos


ITÁLIA

JUVENTUS: 32 jogos oficiais

. Lichtsteiner: 18 presenças, 1298 minutos
. Asamoah: 27 presenças, 2152 minutos

Total: 4450 minutos

AS ROMA: 25 jogos oficiais

. Maicon: 20 presenças, 1534 minutos
. Balzaretti: 11 presenças, 914 minutos

Total: 2548 minutos

NÁPOLES: 32 jogos oficiais

. Maggio: 25 presenças, 2229 minutos
. Armero (já vendido): 18 presenças, 1240 minutos

Total: 3469 minutos


ALEMANHA


BAYERN MUNIQUE: 33 jogos oficiais

. Rafinha: 30 presenças, 2350 minutos
. Alaba: 31 presenças, 2665 minutos

Total: 5015 minutos

BAYER LEVERKUSEN: 29 jogos oficiais

. Donati: 23 presenças, 1828 minutos
. Emre Can: 24 presenças, 1689 minutos

Total: 3517 minutos

BORUSSIA DORTMUND: 30 jogos oficiais

. Grosskreutz: 29 presenças, 2545 minutos
. Durm: 19 presenças, 1457 minutos

Total: 4002 minutos


INGLATERRA:

CHELSEA: 37 jogos oficiais

. Ivanovic: 31 presenças, 2730 minutos
. Ashley Cole: 20 presenças, 1764 minutos

Total: 4494 minutos

ARSENAL: 37 jogos oficiais

. Sagna: 30 presenças, 2611 minutos
. Gibbs: 29 presenças, 2170 minutos

Total: 4781 minutos

MANCHESTER CITY: 39 jogos oficiais

. Zabaleta: 31 presenças, 2439 minutos
. Kolarov: 31 presenças, 2066 minutos

Total: 4505 minutos


ESPANHA


BARCELONA: 38 jogos oficiais

. Dani Alves: 24 presenças, 2115 minutos
. Jordi Alba: 15 presenças, 1172 minutos

Total: 3287 minutos

ATLÉTICO MADRID: 38 jogos oficiais

. Juanfran: 33 presenças, 2970 minutos
. Filipe Luís: 30 presenças, 2570 minutos

Total: 5540 minutos

REAL MADRID: 36 jogos oficiais

. Carvajal: 25 presenças, 1796 minutos
. Marcelo: 26 presenças, 1993 minutos

Total: 3789 minutos