Balmopan, capital do Belize, casa do melhor marcador da fase de qualificação para o Mundial. Deon McCaulay, herói da pequena nação centro-americana, atende o Maisfutebol com dois pedidos. A conversa, invulgar, transforma o goleador desconhecido em interrogador.

«Senhor, marquei mais golos do que Messi e Ronaldo mas não tenho dinheiro para ver o Mundial ao vivo. Como poderei arranjar um convite da FIFA?», questiona-nos Deon McCaulay.

O astro do Belize fez 11 golos na corrida para o Brasil: quatro a Monserrate, três a São Vicente e Granadinas, dois a Granada e dois a Guatemala. Os despojos do sucesso são, porém, ainda insuficientes. McCaulay pede bilhetes e uma oportunidade na Europa. Provavelmente, merece ambos.

«Pode perguntar a quem quiser no meu país. Sou um avançado rápido, jogo sem problemas com o pé esquerdo e o pé direito, só preciso de um bom clube para evoluir. O meu agente atual não conhece ninguém importante. O campeonato do Belize já não me é suficiente».

«Estou obcecado pelo Cristiano Ronaldo»

Deon McCaulay, 26 anos, 1,76 metros e 70 kgs. 11 golos, os mesmos de Robin van Persie e Luís Suarez. Quem é este rapaz, estrela de uma seleção enigmática e representante orgulhosa de um pequeno país encravado entre o México e a Guatemala?

«O meu pai era futebolista e o desporto está no ADN da minha família. Sempre joguei e sempre soube que ia ser profissional. Sou o único no Belize, aliás. Mas a liga nacional é amadora e o que ganho só dá para sobreviver», desabafa Deon McCaulay, ainda espantado com o contato de Portugal.

«Portugal? O país do Cristiano? Do Ronaldo, sim. Estou e sou obcecado por ele, sabe?» E aí vem mais um desabafo. «É o melhor do mundo, extraordinário. Sempre que muda de chuteiras eu vou logo comprar umas iguais. É uma panca minha», graceja McCaulay.

«O meu raciocínio pode ser parvo, mas funciona: se o Cristiano marca com determinadas botas, acredito que eu posso fazer o mesmo. E faço. Sou o único belizenho a ter um hat-trick pela seleção no currículo».

Golo de McCaulay no Nicarágua-Belize:



No início do ano, Deon esteve à experiência numa equipa da MLS, os Portland Timbers. Em 2008 esteve na Costa Rica, ao serviço do Puntarenas, e entre 2009 e 2011 jogou nas Honduras com a camisola do Deportivo Savio.

«Tentei jogar nos Estados Unidos, é verdade, e os treinos correram-me bem. Pensei que ia assinar, mas o técnico disse-me que precisava de um ponta-de-lança alto e forte. Eu sou diferente. Foi pena, mas acredito que o meu futuro passa pela Europa».

McCaulay fez golos atrás de golos, nos jogos sob a égide da CONCACAF, mas não vai ao Mundial. O Belize, por agora, não tem condições para chegar tão alto, apesar da evolução dos últimos anos.

«Estivemos na Gold Cup e foi fantástico. Há muito talento no futebol belizenho. Sempre que a nossa seleção joga é a loucura. Há jogos em que chegamos a ter cinco mil pessoas no estádio», dispara, entusiasmado, Deon McCaulay.

O número pode parecer ridículo, mas num país com 300 mil habitantes representa uma fatia apreciável. «A seleção joga em Belize City, no FFB Field. Adoro viver cá, mas preciso de outra coisa. Em Portugal há algum clube a precisar de um bom avançado?»



«Era mecânico mas chegava cheio de óleo aos treinos. Desisti»

Belize, paraíso tropical salpicado de urbes desordenadas e perigosas. Considerado o sexto país mais perigoso no mundo, possui uma liga de futebol amadora e refletora da profunda violência que por lá grassa.

O clube de McCaulay chama-se Balmopan Bandits. Não é caso único nesta colagem entre futebol e violência. Há os Placencia Assassins, os Belize Defence Force, os Police United ou os Freedom Fighters.

«O turismo injeta muito dinheiro nos cofres do governo, é verdade. O problema é a corrupção e a desorganização. Por isso não há condições para ter um futebol evoluído e profissional. Eu cheguei a trabalhar como mecânico, mas chegava cheio de óleo aos treinos e desisti. Não queria ser gozado», alvitra o goleador do Belize, Deon McCaulay.

«Decidido» a jogar noutro país, Deon despede-se como começou. A lamentar que os 11 golos marcados não lhe tenham garantido um bilhete para o Maracanã e um contrato num clube europeu.

«Escreva bem o meu nome, por favor: Deon McCaulay, M-C-C-A-U-L-A-Y».

Lista dos melhores marcadores na qualificação:

1. Deon McCauley (Belize), Robin van Persie (Holanda) e Luís Suarez (Uruguai), 11 golos;

4. Peter Byers (Antigua e Barbados), Leo Messi (Argentina), Blas Pérez (Panamá) e Edin Dzeko (Bósnia), 10.

Um best of de Deon McCaulay: