As ligações entre o F.C. Porto e o Deportivo da Corunha são enormes e remontam a um passado distante. É certo que os dois clubes já tiveram relações mais estreitas e agora enfrentam-se como adversários na acesa luta por um lugar na final da Liga dos Campeões, mas, num passado recente, quando os galegos ainda eram um clube pequeno, os dragões souberam dar a mão ao «irmão», nomeadamente através da cedência de alguns jogadores.
Um deles foi o brasileiro Raudnei, que chegou às Antas num momento em que ainda se comemoravam os títulos europeu e mundial de clubes, não tendo uma adaptação fácil. Sem sorte em Portugal, foi emprestado ainda na época 88/89 ao Deportivo, onde foi muito feliz e ajudou o clube a regressar à primeira divisão na temporada seguinte. Um ano depois voltou a ser cedido, mas ao Belenenses, onde também não conseguiu provar as suas qualidades.
Embora retenha uma maior relação afectiva à Galiza, Raudnei não cede para nenhum dos lados e, tal como o seu coração, sente-se dividido quando lhe é perguntado quem é que pode vencer na próxima terça-feira. «Apesar de ter havido um empate no Estádio do Dragão, acho que ainda está tudo em aberto, porque o Porto tem jogado muito bem fora de casa, por isso pode conseguir um resultado positivo. É claro que teria sido mais benéfico para o Porto ter saído do jogo com uma vitória, mas, ainda assim, acho que está tudo em aberto e qualquer um dos dois se pode qualificar. Penso que tudo se vai decidir com uma margem mínima, pois vai haver marcações muito cerradas e pode surgir a diferença numa bola parada, num canto ou num livre», salientou.
Na perspectiva do agora empresário de jogadores credenciado pela FIFA (terminou a carreira há quatro anos), as ausências de Mauro Silva e Jorge Andrade podem ser fundamentais, embora do que viu recentemente tenha ficado com a sensação de que a zona central da defesa é «provavelmente o sector mais fraco». O Depor tem «um meio-campo muito forte, com a experiência de Mauro Silva, e o impressionante Valerón, que é, de facto, muito bom», pelo que o castigo que o brasileiro terá de cumprir constitui «uma baixa importante, porque só a presença dele traz muita moral à equipa».
Quanto ao Porto, nada de realmente negativo é apontado. «Parece-me um conjunto muito forte, com um treinador bastante bom, que não tenho dúvidas daria um excelente seleccionador de Portugal. Depois, há o Deco, que pode decidir num lance individual ou numa bola parada, e o Carlos Alberto também tem jogado muito bem, pois tem bastante qualidade técnica e tem capacidade para decidir a eliminatória», salientou em tom elogioso e sem querer apontar fragilidades ou mesmo prognósticos. Tudo se vai saldar, segundo ele, sob o signo do equilíbrio e até ao derradeiro apito do árbitro.
Mais feliz na Corunha
A oportunidade de jogar em Portugal aos 23 anos, pouco depois de se ter revelado pelo Juventus de São Paulo, acabou por não ser proveitosa para a carreira de Raudnei. Sem espaço nas Antas, vingou na Corunha, onde permaneceu duas épocas Mais tarde haveria de regressar ao seu país, onde representou o Guarani, Bahia, Juventus, América, Ituano, Paraná Clube, Portuguesa Santista e, finalmente, o Juventude.
Recorrendo às suas memórias de um passado que já leva mais de dez anos, o ex-avançado não guarda grandes recordações do nosso país. «Fui muito mais feliz no Deportivo, enquanto que em Portugal tive muitos problemas, logo com a minha chegada, porque eu ainda era muito jovem e fui para um clube que tinha sido campeão da Europa. Não foi uma passagem muito boa, de facto, pois fui logo emprestado um ano ao Depor, que me quis mais uma época por eu ter sido o melhor marcador, depois fui um ano para o Belenenses. Apesar disso, é lógico que gosto do país e tenho muitos amigos, como são os ex-colegas António Sousa e Jaime Pacheco», referiu.