«Uma coisa de loucos». Já passaram mais de cinco anos, mas Lucas, um dos raros portugueses a viver por dentro as emoções de um dérbi de Belgrado, não está perto de esquecer a intensidade do que viveu na temporada de 2007/08, a sua última como futebolista. «Falo muitas vezes com amigos sobre isso e é uma experiência à parte das outras coisas que vivi no futebol» conta o antigo médio de Boavista e Académica, que pouco depois desse jogo viu-lhe ser detetado um problema cardíaco que o obrigou a terminar a carreira aos 28 anos.

Por força desse infortúnio, Lucas só participou num dérbi, em casa do Partizan. O jogo terminou empatado, mas o Estrela Vermelha não conseguiu impedir o primeiro de cinco títulos seguidos para o Partizan. «Os adeptos são muito fervorosos. Se as coisas não forem bem organizadas há problemas», garante. «Nos dias de dérbi vê-se muita polícia de choque nas ruas, bem cedo. Dá a sensação de que estamos a ir para a guerra, mas apesar disso senti-me sempre seguro em Belgrado. Todos os jogadores têm a noção da importância do que está em causa, não era preciso motivação especial ou grandes explicações sobre a rivalidade», acrescenta.

Outro nome bem conhecido do futebol português, a conhecer os dérbis de Belgrado por dentro, é Ljubinko Drulovic. O antigo extremo de F.C. Porto e Benfica reforça a ideia de que o dérbi é, hoje, um fenómeno menos sujeito a incidentes violentos: «Está mais controlado, já não há pancada antes de todos os jogos como antigamente. A polícia controla melhor e por isso dificilmente acontecem coisas mais graves», frisa. Drulovic representou o Partizan em 2003/04, e não tem dúvidas em equiparar os dois clássicos: «O nosso campeonato já não é tão forte, mas a rivalidade é a de sempre e praticamente resume o futebol sérvio, depois da saída de Hajduk Split e e Dínamo Zagreb. Um jogo destes é decisivo para o título, como o Porto-Benfica da semana passada, e tem o mesmo peso. Qualquer um pode ganhar, os melhores jogadores da Sérvia estão aqui e a chave do título pode ser uma atuação individual», diz o atual responsável pelos sub-19 da Sérvia.

A falta de músculo financeiro dos clubes leva à saída dos principais valores, o que tem um lado positivo para quem trabalha na formação: «Há muitos jogadores jovens nas primeiras equipas da Liga, e também no Partizan e no Estrela Vermelha. Aqui os jovens têm mais oporunidades de aparecer aos 17 ou 18», admite. Olhando para o dérbi com frieza, Drulovic arrisca: «Vejo o Partizan com alguma vantagem, por estar na frente e por jogar em casa. Mas são detalhes, porque o Estrela Vermelha tem tido um apoio muito grande e está muito moralizado», sublinha.

Para essa moralização, nenhuma dúvida: o efeito Sá Pinto foi determinante. «Ele entrou muito bem, recuperou nove pontos nestas jornadas, e sabe que tem agora o teste mais difícil», diz sobre o antigo adversário na Liga portuguesa. Receita para o sucesso? Uma palavra apenas: «Energia. A equipa reagiu muito bem à sua chegada, ele conseguiu motivar os jogadores, e os pontos perdidos pelo Partizan fizeram o resto. Isto tem tudo a ver com mentalidade. Se ganhar este jogo é campeão, e isso seria uma grande proeza, porque quando chegou o título estava perdido. Com o que já fez, ganhou condições para ter uma equipa ainda melhor no próximo ano», resume.

Lucas, que por hábito continua a conferir os resultados do seu último clube como profissional, deixa outra palavra chave: «Confiança. Toda a gente se pode dar bem, seja onde for, quando faz bom trabalho e acredita naquilo que faz. O Sá Pinto é um treinador com ambição e penso que com as suas características encaixa bem ali, num clube ganhador, que tem grande força interior, tal como ele. Esta recuperação fantástica veio demonstrar isso mesmo. Fico a torcer para que alcancem este objetivo», conclui.