O presidente da actual Comissão Administrativa, Carlos Abreu, não se entusiasma com o futuro. «O Salgueiros é um doente terminal ligado à máquina», frisa. «Esta Comissão Administrativa está apenas a gerir a crise. Estamos de mãos atadas. O Salgueiros não tem património e não tem fontes de receita porque estão todas penhoras».

A única possibilidade é a negociação da dívida que permita levantar as hipotecas. «O Salgueiros não tem parceiros financeiros. Nesta situação não os consegue ter. Esta Comissão está a tentar negociar a dívida com os credores, mas não há muita abertura para o fazer. Por isso a situação não está nas minhas mãos nem depende de mim».

Ele está apenas a gerir a crise. «Tudo é possível para o futuro do Salgueiros e temos de estar preparados para tudo. A Câmara Municipal, por exemplo, já fez tudo o que podia e não nos queixámos. Se já me passou pela cabeça que o Salgueiros pode acabar? Claro. Qualquer pessoa de bom senso tem de pensar que o Salgueiros pode acabar em breve».

A culpa nunca morre solteira. No caso do Salgueiros, coleccionou até muitos maridos. José António Linhares, por exemplo, deixou o clube falido e com as contas muito mal esclarecidas. Por isso a gestão do antigo presidente foi entregue à Polícia Judiciária e Linhares já foi até chamado pela Justiça. Mas para muita gente não é o único culpado.

Acusações de aproveitamento e vontade de ajudar

Para Jorge Viana, o homem que fez a ligação de cinco meses entre Linhares e o actual presidente da Comissão Administrativa Carlos Abreu, este último é tão ou mais culpado que o anterior. «Carlos Abreu veio acabar o trabalho que tinha começado nos anos oitenta e que nunca chegou a terminar», diz Viana. «Veio para acabar com o clube».

O antigo administrador acusa Carlos Abreu de ter mantido o impedimento da inscrição de jogadores. «Quando eu saí, as dívidas a jogadores estavam a ser negociadas e havia uma abertura da parte deles para ultrapassar o problema, o que permitiria levantar o impedimento da inscrição de atletas e manteria o futebol profissional», diz.

«O Dr. Carlos Abreu inviabilizou qualquer tipo de negociações das dívidas, com isso conseguiu impedir a inscrição da equipa, afastou o Salgueiros da vida mediática e dos jornais e conseguiu que o clube caísse no escuridão. Tudo para branquear a apropriação que fez dos terrenos de Arca De Água, que eram o único bem valioso do clube».

Carlos Abreu comprou mesmo os terrenos de Arca De Água em hasta pública, através de uma empresa de que é sócio, mas diz que foi apenas para os manter junto de alguém do clube. «Se eu não os comprasse, comprava-os o Finibanco», garante.

Entretanto, e através de um empresa imobiliária que detém com o ex-autarca Nuno Cardoso, já tentou construir um empreendimento nos terrenos que eram do clube. «Não vou deixar os terrenos ao abandono», justifica. «O que é que o Salgueiros ganhar com a construção imobiliária? Ganha o dinheiro da venda dos imóveis. Como é óbvio».