O Vitória Guimarães-Sporting, em versão resumida, foi mais ou menos isto:

Vinte minutos e picos de pressão alta e grande intensidade do V. Guimarães, com o Sporting a começar a montar cerco à área minhota assim que afrouxou. A primeira oportunidade está naquele mau domínio de Marega, isolado. O primeiro remate enquadrado do Sporting surge já nesta fase de crescimento, por Adrien. O Sporting marca no segundo e terceiro tiros, numa recarga de Markovic após excelente iniciativa e remate de Gelson; perde depois Adrien por lesão; e faz 0-2 no quarto, com a cabeça de Coates, em má saída de Douglas. Depois do intervalo, só dá Sporting, que pode, em várias oportunidades consecutivas, chegar ao 0-3. Pedro Martins faz, aos 56 minutos, na segunda substituição, a primeira mudança estrutural - ao tirar Prince e colocar em campo João Aurélio, passa de 4x2x3x1 para 4x1x3x2, desviando Marega para posição mais central. Aos poucos, os minhotos dão sinais de vida. O maliano queixa-se de um penálti de Semedo, antes de o Sporting fazer o 0-3, em novo mau momento de Douglas. Os leões nunca chegam a sentir o jogo seguro porque William derruba Hernâni na área logo depois. No minuto seguinte, 2-3, por… Marega, entre Coates e Schelotto, após cruzamento de... João Aurélio da direita. Uma desconcentração inacreditável deixa a diferença num só golo. Jesus reage com Bruno César por Markovic, mas parece tarde de mais para controlar o que quer que seja. No minuto 89, o elétrico Soares tem espaço suficiente para garantir o empate e não perdoa.

Jorge Jesus chegou à sala de imprensa e disse que a sua equipa tinha sofrido três golos «sem saber bem como». Na verdade, o Sporting concedeu um golo de penálti, originado por uma falta sobre um movimento contrário à baliza, de William sobre Hernâni, e outro, no minuto seguinte, numa distração da sua defesa com a movimentação de Marega. A equipa de Pedro Martins nunca chegou a sentir o terceiro golo, porque quando este surgiu já estava em fase ascendente e reduziu logo depois. O golo do empate vem então acompanhado do tal empurrãozinho de Soares, e da ingenuidade de Schelotto, ao não fazer drama da falta, deixando que esta passe mais facilmente despercebida ao árbitro.

Pedro Martins começou a ganhar o ponto com uma substituição, o Sporting deixou-se ir num redemoinho inexplicável, não sabendo como reagir ao maior peso do rival na sua área, e também ao crescimento da intensidade do lado de lá. Chegar ao 0-3 e deixar-se empatar não é compatível com uma equipa com a sua qualidade e com a sua experiência. Tudo o que se passou é injustificável. Mesmo com um jogo a meio da semana, que nem foi dos mais exigentes, perante o Legia.

Madrid (2 golos sofridos), Vila do Conde (3), Estoril, em Alvalade (2) e Guimarães (3). Pelo meio, folha limpa para Rui Patrício frente ao Legia. São dez golos em quatro jogos e, tirando o embate com o Rio Ave, a maior parte nos momentos finais das partidas. A tendência existe, e necessita de correção.

Encontrar explicação em Adrien, que jogou de início frente ao Rio Ave e saiu com 0-1 no marcador em Guimarães, é redutor. Elias, o seu substituto, até marcou e o Sporting chegou a uma diferença de três golos. Justificar os erros com o pós-Europa também parece um tiro ligeiramente ao lado. Os leões têm tido sim fases de ingenuidade na maior parte dos encontros que têm custado pontos. É só lembrar os golos sofridos e rever como aconteceram.

Os jogos europeus estarão na origem da derrocada de várias grandes equipas por essa Europa fora, como Manchester City, Manchester United, Barcelona, Real Madrid, Bayern e Dortmund. Citizens e culés terão sido os que caíram com maior estrondo, com os últimos a deixarem-se chegar rapidamente a uma desvantagem de três golos e serem penalizados, numa altura em que ameaçavam o empate, por um erro inconcebível de Ter Stegen. No caso da equipa de Luis Enrique, os sintomas não são de hoje.

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LUÍS MATEUS é o Diretor do MAISFUTEBOL e pode segui-lo no TWITTER. Além do espaço «Sobe e Desce», é ainda responsável pelas crónicas «Era Capaz de Viver na Bombonera» e «Não crucifiquem mais o Barbosa» e pela rubrica «Anatomia de um Jogo».