The End.

O adeus de Landon Donovan à seleção dos EUA e ao soccer obriga-nos a começar pelo fim. Pelas despedidas. O grande herói do futebol norte-americano, um verdadeiro Capitão América de carne e osso reais, pousa o escudo neste sábado, 10 de outubro.

Foram 156 jogos internacionais (157 com este último) e 57 golos. Mas os números não refletem totalmente a verdadeira importância de Donovan no crescimento gigantesco do soccer na terra do basebol, do basquetebol, do hóquei no gelo, do futebol americano.

Três presenças em Campeonatos do Mundo (melhor jogador jovem em 2002), quatro troféus na Gold Cup, vice-campeão na Taça das Confederações em 2009: Landon Donovan, 32 anos, personifica a evolução da disciplina num país outrora ignorante para a modalidade.

O anúncio do adeus foi feito a 7 de agosto, já depois de Landon ter engolido a maior desilusão da carreira, por não ter sido convocado por Jurgen Klinsmann para o Campeonato do Mundo do Brasil.

Em conversa com o Maisfutebol, o português João Silva, atualmente no Palermo, recorda os meses passados lado a lado com Landon Donovan.

«Conheci-o no verão de 2011, no Everton. Começo pelo óbvio: era um craque», diz-nos o ponta-de-lança, agora a jogar na Serie A italiana.

«Quando a bola lhe chegava aos pés, o futebol do Everton ganhava outra dimensão. Os adeptos adoravam-no e o treinador David Moyes ainda mais. Era muito inteligente, servia bem os avançados. Cheguei a marcar alguns golos nos treinos às custas dele».

João Silva passou depois seis meses no Vitória Setúbal, antes de voltar em fevereiro de 2012 para mais algum tempo na companhia de Donovan.

«Além de excelente executante – o melhor com quem joguei, ao lado do Arteta, do Tim Cahill e do Fellaini – o Landon era, antes de mais, um tipo fantástico. Merece todos os elogios nesta altura em que decidiu deixar os relvados».




Filho de uma professora de educação especial e de um jogador de hóquei no gelo, Landon Donovan cedo mostrou não estar disposto a seguir a paixão do pai. Nascido em Ontario, California, para Donovan a atração pelo soccer foi uma condição inata.

Percorreu os escalões de formação universitários com primor, mostrou atributos técnicos pouco habituais, contagiou todos com uma dinâmica e uma inteligência raras vezes exibidas.

O talento era demasiado evidente para se cingir ao território do soccer e com 19 anos assinou um contrato de seis temporadas com o Bayer Leverkusen. Dificuldades de adaptação aconselharam empréstimos sucessivos ao San Jose Earthquakes, mas as páginas principais da sua história passariam a ser escritas com a camisola da seleção.

O Mundial foi sempre o palco à medida de Donovan. Klinsmann, porém, roubou-lhe o quarto ato. Justa ou injustamente? Seja como for, há muito para contar nas aparições anteriores: 2002, 2006, 2010.

Donovan fala do primeiro jogo (e golo) na seleção):



2002, Mundial do Japão-Coreia do Sul. Portugal foi a primeira vítima de Landon Donovan, num 3-2 de má memória lusa. Com 20 anos, o norte-americano teve a estreia perfeita na mais bela competição de seleções.

Não marcou a Vitor Baía, mas dois jogos depois inscreveu o nome no lote de marcadores do torneio. A Polónia venceu por 3-1 e Landon Donovan fez o único golo norte-americano. Nos oitavos-de-final, mais um golo no 2-0 aplicado ao México, antes de mais 90 minutos na despedida contra a Alemanha (derrota por 1-0).

Em 2006, Landon Donovan cumpre sem grande sucesso os 90 minutos dos três jogos dos EUA. A equipa ainda empata contra a Itália, mas as derrotas contra a Rep. Checa e o Gana afastam-na logo na primeira fase.

No Mundial de 2010, realizado na África do Sul, Landon Donovan tornou-se definitivamente no herói que os norte-americanos procuravam.

A história de Donovan na seleção dos EUA:



Terceiro jogo da fase de grupos. Depois de dois empates, os EUA tinham de vencer a Argélia. O jogo chegou empatado a zero aos 90 minutos, o quarto árbitro mostrou a placa com quatro minutos de compensação.

Numa transição rápida, um dos momentos favoritos de Donovan, o guarda-redes argelino acaba por fazer uma primeira defesa, antes de o avançado atirar para o fundo da baliza e colocar os a Stars and Stripes nos oitavos-de-final.

Aos 62 minutos do jogo contra o Gana, no dia 26 de junho de 2010, Landon Donovan marcou pela última vez num Campeonato do Mundo. A derrota dos EUA por 2-1 e a recente convocatória de Klinsmann para o Brasil não o deixaram fazer mais.

Os colegas resumem a importância e o brilhantismo de Landon. «Fez com que todos à volta dele parecessem melhores do que são. Eu incluo-me nesse lote», disse Omar Gonzalez, companheiro nos LA Galaxy e na seleção.

«O Landon deu ao soccer nos EUA uma dimensão que nunca outro conseguira antes. Certamente nenhum outro vai fazer o mesmo», acrescentou Jozy Altidore.