DESTINO: 90's é uma nova rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 90's.
ABAZAJ: BENFICA, BOAVISTA E ACADÉMICA, DE 1994 A 1999
Chegou a Portugal para jogar no Benfica e só ficou dois meses e meio. Assinou contrato, mas não foi inscrito: não havia vaga para estrangeiros. «O Boavista fez-me uma proposta e aceitei. Fui para o Bessa englobado no negócio que levou Tavares e Nelo para o Benfica. Dois grandes jogadores.»
O mundo vivia o ano de 1994 e a guerra nos Balcãs enchia os campeonatos europeus de talentosos jugoslavos. Abazaj não era talentoso, nem jugoslavo. Era albanês e era rijo. Mas jogava no Hadjuk Split, da Croácia, e no meio da guerra tornava-se também ele um bom negócio para muitos clubes.
Na Albânia era avançado, em Portugal tornou-se lateral e deu profundidade dramática à expressão «disputar cada bola como se fosse a última»: entregava-se por completo ao jogo. Era um operário forte no jogo aéreo, atlético e preciso na utilização do pé esquerdo. Por isso fazia alguns golos.
Na retina dos mais apaixonados estará um golo num pontapé acrobático no Bessa: um grande golo. Mas Abazaj já não se recorda. «Para mim um golo bonito era quando a bola batia na rede. Se batesse na rede pela parte de dentro, qualquer golo era bonito.» Abazaj não era um romântico.
O futebol dele não se expressava em tatuagens ou brincos. Foi contratado pelo Benfica, passou pelo Boavista, jogou quatro épocas na Académica e acabou em 2001 no Marialvas. Agora treina os juvenis do Condeixa. «Com muito orgulho». Antes fez o mesmo no Alvaiazere e no Penelense.
Acabou por se radicar na zona de Coimbra e ficar por este Portugal que o acolheu e onde viveu uma das histórias mais estranhas: em 1997, num jogo no Porto da seleção albanesa frente a Portugal para o apuramento para o Mundial 98, Abazaj foi proibido de jogar por não ter o passaporte com ele.
«Andava com a autorização de residência do Ministério da Administração Interna, que em qualquer país serve de documento para um emigrante, mas o delegado da FIFA decidiu que não era aceitável», recorda Abazaj ao Maisfutebol. «Só me deixava jogar se lhe mostrasse o passaporte.»
O albanês não se intimidou. «Disse-lhe que teria o passaporte comigo em 45 minutos. Meti-me num táxi e fui a casa buscá-lo. Cheguei ao Estádio das Antas ao intervalo e ainda joguei a segunda parte.» Abazaj jogava nessa altura na Académica e conta que o carro até voou para chegar a tempo.
Mas chegou a tempo e Abazaj entrou de imediato em campo. Afinal de contas era uma estrela do futebol albanês. «Eu não era um jogador qualquer. Tinha tirado o curso em Ciências do Desporto e sempre fui uma pessoa instruída. Entendia melhor tudo o que os treinadores queriam de mim.»
Veja Abazaj num jogo pela seleção albanesa: