O dia 19 de Março de 2006 marcará para sempre a carreira de Dionattan. Nessa tarde, em Guimarães, o médio da Académica apanhou o maior susto da vida. Sofreu uma ruptura nos ligamentos cruzados do joelho direito. O prognóstico - logo na altura e confirmado após a inevitável operação - apontava para uma paragem de seis meses mas acabou por implicar mais um mês. Um calvário que o próprio recorda agora como quem olha para trás após uma longa caminhada... finalmente completada depois de ter voltado a jogar ontem, frente ao Feirense, em jogo de preparação.
«Foi muito complicado. Mas eu sempre acreditei que iria recuperar a cem por cento e confiei totalmente nos médicos. Senti muito apoio de toda a gente e isso foi fundamental», conta ao Maisfutebol este gaúcho, que antes da grave lesão apenas tinha estado parado no máximo um mês, por ter fracturado um perónio.
A fase de recuperação implicou, necessariamente, alguns sacrifícios. «Ao contrário dos meus colegas, que gozaram quase dois meses de férias, eu só pude passar 20 dias junto da família, no Brasil, e tive de abdicar de muita coisa», relembra. Mas nem tudo foi mau. A lesão, ou melhor, o período de restabelecimento, desenvolveu-lhe um certo lado introspectivo que desconhecia e ensinou-o a olhar a sua profissão de forma mais humana: «Esta situação permitiu-me criar um certo distanciamento. Passei a ver o futebol com outros olhos e os jogadores, antes de mais, como pessoas. Constatei isso sobretudo através dos profissionais que trabalharam para recuperar-me.»
Durante sete longos meses, Dionattan garante nunca ter sentido desânimo, embora não disfarce o desconforto que atinge qualquer atleta quando fica privado de tocar no brinquedo preferido. «O pior que pode acontecer a um jogador é estar lesionado. Uma coisa é ficar de fora por opção técnica, pois se acreditarmos no nosso valor e trabalharmos, haveremos de conseguir o nosso lugar; outra, é sabermos que não temos hipótese de jogar porque é-nos fisicamente impossível», confessa, desmistificando a ideia segundo a qual os jogadores em convalescença de lesões passam a ter mais tempo livre: «Passatempos? O meu passatempo era aplicar gelo e fazer reforço muscular! O máximo que consegui foi ficar na cama a ver televisão¿ enquanto levantava pesos»
Confundido com um turista
O grande teste à recuperação do camisola 11 dos «estudantes» aconteceu ontem, num jogo particular com o Feirense, depois de algum tempo a trabalhar sem limitações. Os resultados foram amplamente satisfatórios: «Entrei com algum receio mas com o passar do tempo senti-me mais à-vontade. O desejo de voltar a jogar foi superior. Não tive dores e os movimentos saíram-me com naturalidade.» Passada a tempestade, Dionattan voltou a encarar o futuro com confiança - pode ser convocado já para o jogo de domingo, ante o Aves - e até já foi «vítima» do humor de Manuel Machado, que pareceu ficar admirado quando, depois de tanto tempo de ausência, o viu entrar para o autocarro a caminho de Vila da Feira. «Nunca te tinha visto por aqui. Vens para fazer turismo?», gracejou o técnico.
Nome inspirado em série dos anos 80
De onde vem o nome Dionattan? Como acontece frequentemente no Brasil, o jogador foi baptizado em homenagem à personagem de uma série de televisão muito popular nos anos 80. Chamava-se «Casal 20» e contava a estória de Jonathan e Jennifer Hart - a irmã de Dionattan chama-se, precisamente, Djeniffer... -, que enfrentavam as mais variadas peripécias para resolver misteriosos crimes em viagens pelo mundo, sempre na companhia do seu mordomo (Max) e do cachorrinho Freeway. Aquilo que o médio não sabe explicar é a razão da versão corrompida do seu nome, assim como do da irmã, pela introdução do d. «Talvez os meus pais gostassem particularmente dessa letra ou então escolheram assim só para serem diferentes.» Aí está um bom tema de conversa para a próxima visita de Dionattan à família, lá em Farropilha, no Rio Grande do Sul...