«Vecchia signora», novo escudo. Logo à partida não seria fácil conciliar quase 120 de história com uma imagem do século XXI. A tradicional família Agnelli, proprietária do clube, decidiu arriscar uma mudança radical no emblema da Juventus, cuja apresentação foi numa glamourosa festa na noite de segunda-feira, e, considerando a reação de milhares de adeptos, perdeu.

O touro do brasão de armas da cidade de Turim desaparece do emblema, que perde a sua forma ovalada; o «preto e branco» é o mote para o lançamento do novo escudo, que assenta num design minimalista e destaca a letra J.

Tudo muito novo, tudo muito diferente. «A melhor maneira de arruinar uma história centenária», lê-se num dos comentários mais populares dos adeptos na página oficial do clube no Facebook. E há quem aproveite o momento para recorrer ao humor, como se pode ler no Twitter: «O emblema da Juventus parece ter sido desenhado por um adepto do Liverpool.»

Como se não bastasse o desagrado da base de apoio do pentacampeão italiano, o novo emblema causou controvérsia até com o tenista sueco Robin Söderling, que estranhou as semelhanças com a sua imagem de marca e deu conta disso mesmo através da sua conta oficial do Twitter.

O presidente Andrea Agnelli explicou que «este novo logótipo é o símbolo do Juventus way of living»: «A inovação significa progresso sem esquecer quem somos. A nossa essência esteve e sempre estará em campo.»

Além do dirigente, duas glórias do clube associaram-se à estratégia de aprovação da imagem inovadora. Pavel Nedved, ex-médio checo e atual vice-presidente fala de um clube «que pensa à frente, em se desenvolver, melhorar e fazer as coisas de forma diferente». «[O novo logótipo] “É uma ideia fantástica”, foi a primeira coisa em que pensei (…) Assim que vi aquele J gostei logo», afirmou o agora dirigente num vídeo concebido e partilhado pelo clube, enquanto o seu antigo colega de equipa e ainda dono da baliza da equipa Gianluigi Buffon acrescentou: «O logótipo mostra-nos que a Juventus é uma marca global.»

A mudança motivou até uma reação do FC Porto, adversário da Juve nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Através da sua conta oficial do Twitter os dragões felicitaram os transalpinos: «Parabéns pelo novo logo e boa sorte... A partir de julho.»

Apesar de a Juventus ter optado por uma alteração radical, não é de todo incomum a mudança de emblemas em alguns clubes.

City e Atlético também mudaram

Em Portugal, FC Porto e Benfica fizeram alterações de pormenor nas últimas décadas. O Sporting foi mais arrojado, quando em 2000 alterou substancialmente o antigo emblema. Mudança total fez o Campomaiorense, que quando nos Anos 90 subiu à I Liga trocou o verde e branco e um símbolo decalcado do do Sporting por um escudo mais do agrado da família Nabeiro: amarelo e grená com um galgo a tomar o lugar do leão. No Santa Clara a troca de um emblema em tudo similar ao do Benfica por um escudo de um açor com a bandeira da Região Autónoma dos Açores foi revertida recentemente pela nova direção do clube. E há ainda o caso do Salgueiros que aquando da sua refundação em 2008 adotou a Fénix Renascida, mas em maio de 2016 recuperou o símbolo tradicional e a designação de Sport Comércio.

Na Europa continental vários clubes fizeram alterações de pormenor – como Real Madrid, Barcelona, Paris Saint-Germain e sobretudo a Roma, na década de 90 – outros alteraram substancialmente o símbolo.

Em dezembro, e não evitando também alguma polémica, o Atlético de Madrid apresentou o símbolo que passará a envergar a partir da época 2017/18, uma versão estilizada do emblema tradicional adaptada ao mercado global, mas onde se mantém o urso e o medronheiro que fazem parte da heráldica da capital espanhola.

Em dezembro de 2015 também o Manchester City anunciou a mudança de símbolo, que entrou em vigor nesta época de 2016/17. Depois de um período de consulta aos adeptos, o clube presidido pelo empresário dos Emirados Árabes Unidos Khaldoon Al Mubarak trocou a águia por uma rosa vermelha, recuperando o emblema redondo usado entre 1972 e 1997, com destaque para o tradicional navio e os rios Irwell, Medlock e Irk, que banham a cidade de Manchester.

Este tipo de mudança é bem mais comum em Inglaterra. Com maiores ou menores alterações, ao longo da última década Chelsea, Arsenal, Everton, Aston Villa, Burnley e Queens Park Rangers alteraram os emblemas. Houve no entanto casos recentes que causaram polémica, com a vontade dos proprietários dos clubes a colidir com a dos adeptos.

Foi o caso do Cardiff City, cujo dono da equipa, o milionário malaio Vincent Tan, fez depender o investimento da alteração do emblema e da cor do próprio clube, de um pássaro azul para um dragão vermelho, com o intuito de maximizar as receitas na Ásia. Uma solução que vigorou entre 2012 e 2015; deste então o pássaro azul voltou a predominar no emblema.

Situação semelhante viveu o Hull City, novo clube do técnico português Marco Silva, cujo presidente e proprietário, o empresário anglo-egípcio Assem Allam não só alterou o emblema em 2014 como quis mudar o nome do clube para adotar oficialmente a alcunha «The Tigers», uma pretensão que foi recusada pela Federação Inglesa.

Em todo o caso, nenhuma alteração causou uma polémica tão generalizada quanto a alteração símbolo da Juventus. Terão os bianconeri exagerado no preto e branco?