«Já estou em Olhão há seis meses e em Galderisi vejo um carácter muito similar à mentalidade do clube e dos seus adeptos. Eu não compreendi essa mentalidade logo quando cheguei, fui compreendendo este clube dia após dia, e agora compreendo melhor»

Igor Campedelli, vice-presidente da SAD do Olhanense e um dos seus principais investidores, comentou desta forma a aposta em Giuseppe Galderisi. Um compatriota como terceiro treinador da equipa em meia época.

Os homens de Olhão – cada vez mais em risco de soar como Olhano, infelizmente  – ocupam o último lugar da Liga.

Não está em causa a qualidade de Giuseppe Galderisi nem o seu trabalho. Aliás, tem algumas provas dadas e demonstra uma personalidade forte. Um lutador. Nesse sentido, aproxima-se da mentalidade olhanense.

No entanto, a força da mensagem pode não bastar. Assisti, durante 26 minutos, à apresentação do treinador italiano e surge desde logo um problema: a tradução. Para quem é jornalista, este é um constrangimento recorrente em conferências de imprensa com técnicos estrangeiros.

Tive a preocupação de ler o currículo de Fabiano Flora, o elemento da equipa técnica apresentado como tradutor, e percebe-se o seu mérito. Mas Fabiano, natural da região de Viseu, transmitiu serenidade quando Galderisi queria garra. Pelo caminho, deixou cair metade da conversa. Imagino o efeito nos jogadores que não dominem a língua transalpina.

Este é, de qualquer forma, apenas um detalhe num casamento repleto de equívocos. Uma relação sem bases, sem conhecimento mútuo, iniciada à pressa e sem hipóteses consideráveis de sucesso. A bem de Olhão, da região do Algarve, prefiro estar enganado.

Igor Campedelli admite nesta fase que não conhecia a mentalidade olhanense. Num português esforçado – merece um aplauso por isso – garante ter agora uma visão suficiente para enquadrar Galderisi no espírito. Um erro.


Vivi nove anos no Algarve e não tenho a autoridade para dizer que domino a história olhanense, a sua garra, o sentimento das suas gentes. Nove anos não bastaram. Quanto mais seis meses.

Se um dia ouvir Igor Campedelli dizer algo como
moss, atão dou o braço a torcer e respondo-lhe: És meme de Olhão!.

Para ser de Olhão não basta querer. É preciso sentir. Perceber, por exemplo, que esse não é o Allgarve do turismo em massa – será que os jogadores estrangeiros ficaram desiludidos? -, é o Algarve de trabalho duro, virado para a Ria Formosa e para o mar. É a Armona, a Fuzeta, a Culatra. 

O Olhanense não pode ser de Belec, Mladen, Seric, Coubronne, de Bigazzi, Balogun, Dionisi ou Mehmeti. Pelo menos, de todos ao mesmo tempo. Uma societá sem ligação à terra, dispersa, com agenda própria. Jogadores de passagem numa nau à deriva.

Não pode ser, sobretudo, de Per Krøldrup, um defesa com currículo invejável que está para lá do seu prazo de validade. Incrível a quantidade de erros acumulados nos jogos recentes.

Este não é um debate nacionalista. O problema atual do Olhanense vai para além da origem e da qualidade do seu plantel, passa pelos erros acumulados que nada têm a ver com capital estrangeiro. Pela aposta em Abel Xavier e pelo processo do seu despedimento. Pela aventura a prazo de Paulo Alves. Sobretudo, pela incapacidade de colocar a equipa a jogar no Estádio José Arcanjo até final de 2013.

Não há mais tempo a perder. Se querem salvar o clube, aprendam. Olhanense é isto, moss.

«Olhanense, Olhanense, à vitória
Bradam vozes das gentes de Olhão
A nossa força é a nossa história
És nosso clube, nosso campeão»