Giuseppe Galderisi foi apresentado nesta terça-feira como novo treinador do Olhanense. Ainda não terminou a primeira volta e o clube algarvio já vai no terceiro treinador. Um sintoma  da agitação que tem marcado o histórico clube algarvio, principalmente nas duas últimas épocas.

A turbulência no Olhanense começou com a subida de divisão, e com os melhoramentos que foram feitos no Estádio José Arcanjo. Os gastos excederam o que estava inicialmente previsto, e hoje o Sporting Clube Olhanense vive mergulhado em dívidas que levaram os seus dirigentes a recorrerem ao PER.

Nem os bons negócios efetuados com as transferências de jogadores como Fabiano Freitas (FC Porto), Jardel (Benfica), Salvador Agra (Bétis) ou Vinícius (Sp. Braga), foram suficientes para evitar esse caminho.

No plano desportivo, os objetivos foram sempre alcançados. No regresso à Liga (2009/2010) depois de trinta anos pelos campeonatos secundários, o Olhanense obteve 0 13º lugar, tendo Jorge Costa – o timoneiro da subida –  como treinador.

Na época seguinte, com Daúto Faquirá, o Olhanense foi décimo primeiro. Faquirá começou a época seguinte mas seria substituído em janeiro por Sérgio Conceição, e o Olhanense alcançou um brilhante 8º lugar. Mas, curiosamente, foi depois desse feito que os problemas se agudizaram.

Após uma relação conflituosa na pré-época entre a Direção do clube e Sérgio Conceição - que começou a trabalhar apenas com 14 jogadores - e com problemas financeiros a afetarem o normal funcionamento do grupo de trabalho, a agitação aumentou e tem arrastado o clube para a beira do abismo.

A queda poderia ter acontecido na última época, com a equipa a salvar-se na última jornada, e já com Bruno Saraiva ao leme, depois de Manuel Cajuda (que rendera Conceição) ter aguentado um barco cheio de rombos, e que até ameaçou parar no jogo com o Beira Mar, em Aveiro.

Um regresso às origens italianas

Assim, muitas reservas foram colocadas quanto à capacidade do clube em continuar a jogar a nível profissional. E, se o Olhanense ainda faz parte da LIga, tal deve-se à boia de salvação que foi lançada de Itália, com Igor Campedelli, um ex-presidente do Cesena, e Maximo Michelis, a liderarem um grupo financeiro que investiu na nova SAD do clube algarvio.

Foi algo como um regresso às origens para o Olhanense, que, historicamente, tem ligações a Itália e, particularmente, ao AC Milan. A sua fundação está ligada a famílias oriundas daquela cidade italiana. O equipamento similar das duas equipas é um reflexo dessa ligação.

Além de Isidoro Sousa, presidente do clube e por inerência da SAD, Miguel Pinho - outrora ligado ao FC Porto e com passagem pelo futebol italiano - é o outro rosto português da Sociedade Anónima do Olhanense, que apostou em Abel Xavier para treinador.

Foi efetuada uma autêntica revolução no plantel, tendo permanecido apenas cinco jogadores: Ricardo, Luís Filipe, Jander, Lucas Souza e Rui Duarte. A aposta foi direcionada para jogadores com ligação (ou passagem) pelo futebol transalpino, a maioria desconhecidos (e desconhecedores) do futebol português.

Abel Xavier começou a trabalhar tarde (quando a maioria dos outros clubes já tinham mais de dez dias de treinos) e sempre com um número elevado de jogadores, que todos os dias chegavam para períodos de experiência.

O estádio e duas chicotadas

O Olhanense deparou-se ainda com um problema que tem condicionado a equipa e a relação com os adeptos: o Estádio José Arcanjo não mereceu a aprovação da Liga de clube e o emblema indicou o Estádio Algarve como recinto para os jogos na condição de visitado.

Os adeptos ficaram agastados com esta situação e os seus responsáveis do Olhanense estão a fazer tudo para reverter a mesma. O Maisfutebol contactou por escrito a Liga de clubes com duas questões: se era viável o regresso ao José Arcanjo e se estava prevista para esta quarta-feira alguma inspeção ao estádio do clube. Perguntas que até ao momento ficaram sem resposta.

Abel Xavier foi o treinador da equipa até à 8ª jornada e conquistou oito pontos, fruto de duas vitórias (Paços de Ferreira e Arouca, ambas em casa) e dois empates (Marítimo e Gil Vicente, os dois como visitante). Foi destituído, alegadamente, pelo fraco rendimento da equipa.

Seguiu-se Paulo Alves e o rendimento – tanto exibicional como em relação a pontos – foi pior: apenas um conquistado (empate no Nacional) e exibições muito pouco consistentes. Em seis jornadas com Paulo Alves no comando, o Olhanense caiu para o último lugar da tabela classificativa.

A partir desta terça-feira, Giuseppe Galderisi é o novo timoneiro de uma equipa descrente e que não consegue cativar os seus sócios e adeptos. Uma missão complicada para o antigo avançado da Juventus e da seleção transalpina que, como treinador, trabalhou em equipas de escalões secundários no seu país.

«É mais uma página que se vira»

«Esta é mais uma página que se vira. Desejo a melhor sorte a Paulo Alves. Infelizmente, as coisas não correram bem em termos desportivos, como a classificação o demonstra, mas é um treinador que deixa, independentemente dos resultados, uma marca de elegância e respeito.», disse Isidoro Sousa.

O presidente do clube e da SAD justificou a mudança: «Chega um treinador e uma equipa técnica, no seu todo italiana, e é uma escolha da administração da SAD, e de Igor Campedelli. Era necessário mudar algo, porque quando não há resultados, a corda parte pelo lado do treinador. Galderisi reúne a confiança de Igor Campedelli e todas as condições para contribuir para a viragem no clube. Como jogador, tem um currículo que dispensa apresentações e, como treinador, já trabalha há 15 anos, com varias experiências em Itália, num futebol de exigência enorme. Estamos perante um homem com experiência, rigor e exigência.»

«Tenho a certeza de que se trata de um homem capaz de guiar esta nau a bom porto. Para isso, conto com o apoio da nossa massa associativa. Esta equipa técnica vem de fora e será importante sentir o carinho e apoio dos sócios. É um momento difícil do clube e temos de estar todos juntos, com disponibilidade e ambição, acreditando que seremos capazes de ultrapassar esta fase e tirar a equipa do lugar em que está, mas isso compete obviamente ao mister e à sua equipa técnica», acrescentou o dirigente.

«Vejo em Galderisi uma identidade semelhante às pessoas de Olhão»

Igor Campedelli, vice-presidente da SAD e um dos seus principais investidores, transmitiu a sua posição. «Já estou em Olhão há cinco/seis meses. Em Galderisi vejo um carácter muito similar à mentalidade do clube e dos seus adeptos. Eu não compreendi essa mentalidade logo quando cheguei, fui compreendendo este clube dia após dia, e agora compreendo melhor.

«Galderisi é um treinador italiano, muito humilde. Como jogador, ganhou um campeonato no Hellas Verona, uma equipa pequena. Essa é a história do Olhanense, uma equipa pequena a competir contra equipas importantes. Galderisi tem essa garra, essa motivação e características muito idênticas às que existem neste sítio e neste clube. É um treinador com capacidade para gerir uma equipa em má fase, como já demonstrou antes», acrescentou o dirigente transalpino.

O investidor do Olhanense insistiu na sua ideia: «Não quero falar do que faltou ao Paulo Alves. O que digo é que Galderisi tem essas características importantes, para uma equipa e uma cidade como Olhão. Conheço hoje melhor as pessoas e os adeptos, e vejo em Galderisi uma identidade muito semelhante às pessoas de Olhão.»

«Estarmos no terceiro treinador não é sinal de sucesso, obviamente; é sinal de derrota da administração. Mas a nossa ideia é arranjar soluções – o importante é o resultado final, não o que acontece no final da primeira volta. Porquê agora? Deixámos a equipa regressar de férias para perceber se havia um clique, algo que deixasse perceber um sinal de mudança. Mas não havia... Reforços? O nosso objetivo inicial foi salvar o clube, isso conseguimos com sucesso, e o segundo será permanecer na Liga, como sempre estabelecemos desde o primeiro dia. Estamos a trabalhar isso», rematou Igor Campedelli.