* Enviado-especial do Maisfutebol aos Jogos Olímpicos
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A entrevista original de Fernando Prass ao Maisfutebol é realizada a 25 de julho. Um dia antes do treino fatal. O treino que lhe roubou o sonho de representar o Brasil nos Jogos Olímpicos.

Fernando lesionou-se num cotovelo com gravidade. Esperou uns dias, tal como o nosso jornal, mas a sentença não podia ser pior: cirurgia e tempo de paragem elevado.

«É uma tristeza, mas estou conformado», lamenta o guarda-redes, abatido. «O importante é recuperar bem e ajudar o Palmeiras a ser campeão».

Um drama. Antes deste problema físico, Fernando tocava o paraíso. 

Astros alinhados, conjugação perfeita de mérito e aleatoriedade, notícia surpreendente: «Alô, Fernando? O Brasil precisa de você para a baliza da seleção nos Jogos». E Fernando, 38 anos, zero internacionalizações, diz que sim, que vai: «Eu vou!»

A conversa entre o selecionador Rogério Micale e o antigo guarda-redes da União de Leiria não terá sido precisamente assim, ipsis verbis. O essencial - o efeito surpresa e o contexto absolutamente inédito - mantém-se inalterado.

O Maisfutebol falou com Fernando Prass e recordou-lhe a passagem pela cidade do Lis entre o verão de 2005 e janeiro de 2009, a relação com a liga portuguesa e, naturalmente, esta chamada imprevista à seleção. Infelizmente estragada pela lesão.

Como forma de homenagem à chamada de Fernando, num cenário raríssimo, optamos por publicar a entrevista inicial e a alegria que na altura marcava as palavras do homem que viveu em Leiria três anos. Um homem grande que sonhava com o lugar mais alto do pódio olímpico.

Força, Fernando!

[a entrevista de 25 de julho]

Que leitura faz desta sua chamada aos Jogos Olímpicos?
«Todos falam da minha idade e de nunca ter estado na seleção. Isso surpreende, claro, pois é a primeira vez que represento o Brasil e logo nos Jogos Olímpicos. Mas pelo meu desempenho nos treinos e nos jogos considero a minha chamada justa. Aliás, até os meus colegas e treinadores se surpreendem com a forma como estou a treinar».

Este momento é comparável a algum outro da sua vida?
«Eu comparo muito isto a uma situação de um casal que quer ter filhos desde cedo, mas que não consegue durante vários anos. Até finalmente ter essa felicidade. É uma sensação fantástica, uma loucura boa».

Sente que merecia ter representado o Brasil mais cedo?
«Não tenho o direito de dizer isso, que merecia ou não. Há dez guarda-redes com capacidade para representar o Brasil, a concorrência é enorme. O Taffarel, por exemplo, foi o dono da baliza da seleção uma década inteira. A posição é muito específica e se aparece um nome forte, como o Buffon na Itália ou o Casillas na Espanha, a hipótese de jogar é reduzida. Depois tudo depende da empatia entre treinador e atleta. Felizmente, ainda vou a tempo de representar o meu país».

Com que expetativas chega a estes Jogos Olímpicos?
«Eu diria que chego aos Jogos com expetativas superiores às dos meus colegas de equipa, quase todos muito meninos. Eles têm tempo para conquistar muitas coisas ainda, eu não».

Ou seja: tudo o que não seja uma medalha de ouro será dececionante?
«Ter 38 anos, jogar umas Olimpíadas no Brasil e ter a oportunidade de ganhar uma medalha… bem, isto não se explica, não é normal. Sonho todos os dias com isso, claro. Sou uma pessoa realizada. Joguei em grandes clubes e conquistei títulos. Mas os Jogos… são especiais, tenha eu 18, 38 ou 78 anos».

O Brasil tem o Thiago Silva e o Neymar. É o grande favorito ao ouro?
«Este grupo tem vários atletas que estão juntos desde os Sub20. O treinador está a fazer um trabalho de longo prazo, não começou agora. É um projeto feito com lógica e bem reforçado para este torneio. O cenário é agradável, claro».

Tem colegas no balneário que podiam ser seus filhos. Não os intimida?
«A relação é boa, eles respeitam-me muito (risos). Não há a mesma intimidade que há nos clubes, mas isso é natural. Estamos a conhecer-nos. Eles portam-se bem (risos)».

Saiu de Leiria no início de 2009. Nunca pensou voltar a Portugal?
«Quando saí de Leiria, confesso que tive a possibilidade de assinar por um clube grande em Portugal. Não deu e voltei ao Vasco da Gama, onde as coisas me correram muito bem. A partir daí não senti necessidade, nem vontade, de voltar a sair do Brasil. Mas fui muito feliz em Portugal, tive excelentes colegas e aprendi muito com o Hugo Oliveira, treinador de guarda-redes [atualmente no Benfica».

Aos 38 anos, que objetivos tem ainda como futebolista?
«Tenho dois objetivos imediatos: ganhar a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos e o campeonato brasileiro com o Palmeiras. O Verdão já não é campeão desde 1994 e está na hora».