Quando, a 1 de junho de 2002, Miroslav Klose surpreendeu o mundo com um hat-trick no seu primeiro jogo num Mundial, poucos poderiam imaginar que, doze anos mais tarde, aquele avançado que militava no Kaiserslautern estaria muito perto de se tornar o melhor marcador de sempre do campeonato do mundo.

Na altura, o adversário era a modesta Arábia Saudita, cilindrada por 8-0. Klose começou a história e continuou-a com mais dois golos na caminhada até à final em Yokohama. Todos de cabeça, curiosamente. No Alemanha 2006 repetiu a dose: mais cinco golos. Na África do Sul fez quatro e ficou a um da marca máxima.

Ronaldo, o «Fenómeno», fez 15 golos entre 1998 e 2006, batendo, na altura, a marca de outro alemão, o «bombardeiro» Gerd Muller. Curiosamente, Klose, que tem os mesmos 14 golos de Muller em Mundiais, nesta altura, passou recentemente o histórico avançado da mannschaft tornando-se o melhor marcador de sempre da sua seleção, com 69 golos.

Agora precisa de um para igualar Ronaldo e dois para se isolar. Se repetir o que fez nos últimos três Mundiais, não será preciso aguardar muito. É que Klose marcou sempre no jogo de abertura da Alemanha, o que também indica um mau augúrio para Portugal.



Para perceber melhor o estado de Miroslav Klose na antecâmara para o quarto Mundial da carreira, o Maisfutebol falou com o português Bruno Pereirinha, seu colega de equipa na Lazio.

O antigo jogador do Sporting garante que, apesar da idade (36 anos), o alemão continua «com algumas das principais características intactas».

«A principal será a capacidade física. Continua muito forte. Faz muito a diferença aí. Em termos técnicos toda a gente sabe que é um grande finalizador. A isso alia a capacidade física que lhe dá um poder de explosão muito grande. Faz a diferença em poucos metros», analisa, em declarações ao nosso jornal.

Pereirinha admite que gostava de ver o companheiro bater o recorde de Ronaldo. Até porque considera justo. «Está há mais tempo a um nível alto do que esteve o Ronaldo, portanto não vejo por que não. Não convinha era que batesse logo contra Portugal», atira, entre risos.

«Ansiedade? Com a experiência dele?»

Klose falhou apenas uma oportunidade para igualar Ronaldo. Depois de ter feito os 13º e 14º golos contra a Argentina, nos quartos-de-final do Mundial 2010, ficou em branco nas «meias» com a Espanha, no jogo que ditou o afastamento do Mundial.

Agora terá, pelo menos, mais três jogos para o fazer, se, como se espera, Joachim Low continuar a apostar nele para o ataque. Pereirinha acha que um eventual estado de ansiedade para quebrar uma marca tão mítica não irá surgir.

«Um jogador com a idade e a experiência dele sabe lidar com isso. Vai fazer o jogo dele, tranquilamente, sem preocupações», assegura.

Contudo, conta uma história curiosa sobre a única vez que se lembra de conversar com Klose sobre o tema: «Ele mostrou alguma desconfiança. Mais desconfiança do que receio, até. Não estava totalmente à vontade com as arbitragens do mundial. Ele está prestes a bater o recorde de um brasileiro num Mundial no Brasil. Está desconfiado que pode acontecer alguma coisa, mas vai, certamente, deixar isso de lado e dar o máximo.»

«Críticas a Postiga? Ele lida bem com isso»

Curiosamente, Pereirinha também partilhou o balneário com Hélder Postiga, o avançado preferido de Paulo Bento desde que pegou na equipa. O português viveu um ano complicado. A aventura no Valência não teve o sucesso esperado e a mudança para Roma não trouxe os frutos que queria, também.

«O Postiga teve uma segunda parte da época complicada. Falei com ele há poucos dias e ele disse que estava bem, que os treinos estavam a correr-lhe bem e sentia-se preparado. No clube a principal preocupação dele sempre foi tentar ajudar. A seleção vinha depois», explica Pereirinha.

O avançado português, já se sabe, não é dos jogadores mais acarinhados da seleção. Algo natural considera o companheiro. «Ele lida muito bem com isso», assegura.

«É uma situação normal no futebol. Então no caso de um ponta-de-lança, a exigência é muito maior. Basta ficar um ou dois jogos sem marcar que já se coloca tudo em causa», resume.