Gonçalo Paciência e André Silva, Silva e Paciência: os adeptos do FC Porto depositam expetativas enormes nos dois jovens pontas de lança e o caso não é para menos. Golos, juventude e qualidade, ingredientes mais do que suficientes para fazer carreira no Dragão ou no futebol internacional.

Em entrevista ao Maisfutebol, Gonçalo fala sem limitações sobre o colega de posição e companheiro de várias lutas no FC Porto e nas seleções jovens. Há semelhanças e compatibilidade, diz, mas muitas diferenças também. 

Numa conversa longa e pontuada pela abertura e bom humor, Gonçalo Paciência fala dos antigos treinadores, dos melhores golos, e do prazer de treinar. Com bola, claro.

Gonçalo com Ricardo, Evandro e Rúben Neves no FC Porto

O Gonçalo é um ponta de lança muito diferente do André Silva?
«Somos diferentes, sim. O André é um avançado mais de área, mais fixo. Eu mudei um pouco, mas procuro mais a largura. Gosto de recuar, ter bola, assistir e tabelar. E fazer as minhas fintas (risos). Acho que o André não é tecnicamente tão evoluído, mas é muito forte de cabeça e rápido. É um avançado com muita qualidade».

Gostava de estar com ele no plantel do FC Porto?
«Claro, acho que era muito bom ter dois pontas de lança portugueses e formados no clube. Nos juniores e na equipa B jogámos juntos, até. Somos compatíveis. O André corre muito, trabalha bastante, é muito agressivo. É um trabalhador nato».

Um antigo treinador seu, Rui Gomes, diz que o Gonçalo se supera nos jogos grandes. Sobretudo contra o Benfica. É verdade?
«Acho que fico ainda mais concentrado, mais vivo. Tenho sempre vontade de jogar, mas talvez a motivação fique nos píncaros. Cresci a jogar contra Sporting e Benfica, nas fases finais dos campeonatos jovens. E nesses jogos eu adorava aparecer, claro».

Gosta de treinar ou olha para o treino apenas como uma obrigação?

«Gosto, gosto de treinar e adoro o ritual de ir para o treino. E tento aproveitar, tento divertir-me. Mas com bola, claro (risos)».

O Gonçalo analisa a sociedade que o rodeia? Sente-se um privilegiado?
«Acho que tenho a melhor profissão do mundo, acredito nisso. Faço aquilo que gosto, não me custa nada acordar de manhã. Tenho várias tardes livres, acho que é uma vida fantástica. Em termos financeiros também é bom, mas não é por isso que jogo. Jogo porque amo o futebol e porque procuro o reconhecimento».

E se não tivesse sido futebolista? Tinha um Plano B?
«Sim. Estaria sempre ligado ao treino e ao Desporto. Gosto de estar no ginásio e tenho vários amigos ligados à área. Iria por aí, certamente».

Que leitura faz das 14 jornadas deste campeonato?
«Está muito competitivo e há equipas que me estão a surpreender. Paços Ferreira, Vitória Setúbal, Rio Ave, até o Sporting Braga, este num nível diferente. Têm surgido muitos atletas portugueses também, de grande qualidade. Os clubes portugueses estão a perceber que a aposta deve passar pelo futebolista nacional. Há elementos excelentes na II Liga e no Campeonato de Portugal».

Quais os treinadores que mais o marcaram até hoje?
«O Nuno Capucho. Treinou-me nos juniores e deu-me muita liberdade e confiança, a mim e à equipa. Vai ter um excelente futuro e já está a fazer um bom trabalho no Varzim. O Luís Castro também. Sabe dialogar, é paciente. E o Julen Lopetegui apostou em mim no FC Porto, não me posso esquecer disso. Além deles, o Rui Gomes. Apanhou a fase de transição da minha carreira, entre o futebol jovem e o profissional».

E o melhor golo da carreira, consegue escolher?
«Por tudo aquilo que significou, o golo contra a Suécia, no Europeu Sub21. Representou muito para mim, porque já tinha falhado por lesão um Europeu Sub19 e um Mundial Sub20. Na altura em que marquei veio-me tudo à cabeça. Foi uma revolta saudável, lembrei-me dos meus problemas e fiquei com mais força. E também o golo pelo FC Porto contra a Académica. O único que marquei pela equipa A até agora. Fez valer a pena tudo o que passei para chegar aos seniores do Porto. Se não voltar a jogar pelo clube, esse golo será sempre o símbolo de todo o meu trabalho e de toda a minha luta».