Passos para o desconhecido, para a expetativa. Gonçalo Paciência fechou o cacifo no Centro de Treinos do Olival, largou temporariamente o azul e branco e rumou ao Mondego para vestir a camisola negra da Académica.

Em entrevista exclusiva ao Maisfutebol, o ponta de lança de 21 anos fala dos seis meses na Briosa, dos golos já marcados, da ligação a José Viterbo e Filipe Gouveia, e da nova vida: «já aprendi a fazer uns cozinhados», diz, na inabalável boa disposição.

O mercado de transferências está à porta mas, com a informação que atualmente dispõe, Gonçalo está convencido que continuará em Coimbra até ao final da época. Depois, sim, chegará a altura de regressar ao FC Porto.

Gonçalo Paciência em luta com João Mário

Está há seis meses na Académica. Que balanço faz deste empréstimo?
«No início não foi fácil. A realidade é muito diferente da que conhecia no FC Porto e senti um choque. Foram 15 anos no FC Porto… é a primeira vez que jogo numa equipa que se apresenta várias vezes em bloco baixo e o avançado fica isolado na frente. Tenho melhorado. Os resultados iniciais também não ajudaram».

Sente que está a valer a pena jogar num contexto tão diferente?
«No FC Porto jogava em ataque contínuo. Isto faz parte do meu processo de aprendizagem, porque não sei se vou voltar ao FC Porto. Tenho de aprender a jogar em ataque contínuo, em contra-ataque, a apoiar a defesa, tudo. Nesse aspeto está a ser importante. Tem sido uma experiência positiva, sinto-me melhor jogador».

Três golos em 14 jogos: os números satisfazem?
«Gostava de ter mais golos, claro. Mas só fiz sete jogos a titular. Nos outros [mais sete] entrei e joguei poucos minutos. Na minha cabeça apaguei o mau início de época e com a mudança de treinador mudei o chip. Com o Filipe Gouveia a apostar em mim, sei que vou fazer muitos golos».

Saiu José Viterbo, entrou Filipe Gouveia. O que os distingue?
«O mister Viterbo fez um bom trabalho o ano passado. Este ano os dois primeiros jogos correram mal e a equipa caiu animicamente. Tinha de se mudar. Gostei de trabalhar com ele, é uma grande pessoa. O Filipe Gouveia foi importante porque não apostou logo em mim, obrigou-me a mudar algumas coisas. Não me conhecia bem, estou a gostar de trabalhar com ele. Gosto de treinadores que são ex-jogadores. Tem uma boa relação connosco e sabe passar a mensagem».

Viver em Coimbra, sozinho pela primeira vez, foi mais um problema?

«Não, foi um bom desafio. Aprendi a cozinhar e a arrumar a casa (risos). Costumo jantar fora com o Ivanildo e o Rabiola, dois bons amigos. Mesmo assim aprendi a fazer uns cozinhados. Pronto, mas a cidade do Porto é a minha cidade. É diferente. Venho muitas vezes ao Porto».

Curiosamente, a Académica tem três pontas de lança portugueses. Isso contraria uma velha ideia…
«Exatamente, prova que em Portugal há pontas de lança. O Rabiola e o Rafael Lopes estão a obrigar-me a crescer. Já todos tivemos oportunidades, vamos ver no futuro quem vai jogar mais. Cada um tem de trabalhar e melhorar. Damo-nos todos bem, é uma luta saudável».

Em janeiro vai sair da Académica ou a ideia é continuar até ao fim da época?
«Acho que vou continuar. Para já não recebi outros contatos, de nenhum clube».

Tem recebido feedback dos responsáveis do FC Porto?
«Sim, quando faço um bom jogo é normal receber um telefonema dos responsáveis. Ainda agora no FC Porto-Académica fui ao balneário e falei com várias pessoas do clube. Disseram-me para continuar a trabalhar bem e que estão atentos».

A Académica soma dez pontos e tem andado na zona de descida. Tem plantel para sobreviver?
«Começámos muito mal, não há como esconder isso. O mês de janeiro é muito importante e temos de sair lá de baixo. O campeonato está muito competitivo, até os três grandes têm perdido pontos».