Conquistou a Taça de Portugal, mudou-se para um dos grandes da Ucrânia e está a ter um arranque absolutamente brilhante. Ainda não perdeu nem na Liga nem na Liga Europa onde, de resto, ganhou todos os jogos. Por tudo isto, Paulo Fonseca não tem dúvidas: 2016 é um ano dourado na sua carreira. O mais brilhante até ao momento, aliás, como o próprio defende.
O atual treinador do Shakhtar Donetsk concedeu uma entrevista ao Maisfutebol em que deu conta sobre o seu processo de adaptação a um pais dividido, num clube que joga longe da sua cidade por causa da guerra e não vê ainda perspetivas de lá voltar. Mas tem uma certeza: «Os resultados estão a ultrapassar as nossas expectativas.
Ainda um olhar sobre a Liga portuguesa. «Vejo mais jogos agora», confessa, com especial interesse em dois clubes especiais na sua carreira: Paços de Ferreira e Sp. Braga.
O Paulo chegou a um clube que vive um momento delicado por motivos extradesportivos, pela situação da Ucrânia após a guerra que tirou o Shakhtar de Donetsk. Já se consegue ver sinais de melhoria?
«Vai ser difícil voltar a Donetsk nos próximos tempos. Sou treinador do Shakhtar e nunca lá fui, é triste. O estádio sofreu pequenos danos com a guerra e nesta altura é utilizado pelo nosso presidente como ponto de refeições da cidade, ele alimenta muita gente».
O que implica no dia a dia esta situação?
«Temos um desgaste enorme. A nossa base está em Kiev, mas em casa jogamos em Lviv ou em Kharkiv. Fazemos milhares de quilómetros a mais do que seria normal. É duro mas motivante. Para os jogadores ainda é pior, até porque temos compromissos nacionais e internacionais».
A nível pessoal, como está a correr a adaptação a um clube com a dimensão do Shakhtar?
«Substituí um treinador que esteve 12 anos no clube. O início foi complicado, reconheço. Cheguei, tentei aplicar as minhas ideias, mas há sempre resistências. E neste caso, compreensivelmente, ainda mais. Com o tempo conquistei o grupo e a experiência está a ser fantástica. A equipa ganha e joga um futebol muito atraente, até na Liga Europa. Os resultados estão a ultrapassar as nossas expetativas».
Como analisa o plantel que tem à sua disposição?
«A crise na Ucrânia obrigou ao aparecimento de muitos jogadores nacionais. E o jogador-tipo ucraniano é humilde e disciplinado. Há imensos atletas brasileiros, de qualidade, e o desafio foi uni-los e colocá-los a jogar de forma harmoniosa».
E em relação à Liga ucraniana, o que tem achado?
«Há dois clubes a lutar pelo título e os restantes praticam um futebol hiper-defensivo. Mesmo quando estão a perder, não é fácil vê-los a abdicar dessa estrutura rígida. É difícil jogar contra equipas assim e fazer golos. O país está numa fase de transformação a todos os níveis. Até na seleção as coisas estão a mudar. O Shevchenko está a implementar novas ideias».
Mas continua a ser um campeonato com características bem diferentes do resto da Europa. Até no que diz respeito ao calendário, não é?
«Exatamente. Agora, no dia 14 de janeiro concentramo-nos em La Manga, o sul de Espanha. Ficamos aí nove dias e a 25 chegamos a Lagos, no Algarve. Faremos em Portugal um estágio de 16 dias para preparar os dois jogos contra o Celta de Vigo».
À distância consegue acompanhar o futebol português?
«Vejo agora mais jogos da nossa Liga do que via (risos). Sigo com especial atenção o Paços Ferreira e o Sp. Braga. A luta pelo primeiro lugar está muito interessante e, conhecendo bem o Jorge Jesus, não me acredito que o Sporting esteja fora de combate. Estou a gostar muito do V. Guimarães do Pedro Martins e também dos resultados do Sp. Braga no campeonato. Benfica e FC Porto estão bem, sem dúvida».
Como viu a saída de José Peseiro do Sp. Braga?
«Os adeptos são muito exigentes e querem ver uma equipa dominadora em todos os momentos, com bola no meio-campo ofensivo, sem receio e a jogar no risco. Os resultados no campeonato estavam a ser bons, mas parece ter faltado qualquer coisa».
Que memórias vai guardar deste ano?
«Levámos o Sp. Braga às meias finais da Taça da Liga, à vitória na Taça de Portugal, aos quartos de final da Liga Europa e ao quarto lugar no campeonato. Foi o melhor ano da minha carreira».