Titular nos sete jogos que o Nacional fez este ano, Washington da Silva só não é totalista porque foi substituído frente ao Arouca. De resto foram 90 minutos em cima de 90 minutos, o que atesta a importância do médio no esquema de Manuel Machado.

Hoje em dia, ao prever um onze do Nacional já se torna óbvia a inclusão do brasileiro contratado na época passada ao Paraná, que se informou com um velho conhecido do rival Marítimo, o guarda-redes Marcos, para saber o que ia encontrar na Madeira.

Para Manuel Machado, apenas elogios. «É dos melhores treinadores que tive», diz Washington, ainda a habituar-se ao vaivém constante do famoso nevoeiro da Choupana.

Parte I- Do futebol à venda de chinelos: «Não tinha um euro para comprar pão»

Já é mais de um ano no Nacional, o que lhe dá, certamente, mais certezas na hora de fazer um balanço. Como está a ser esta experiência?

A primeira temporada foi diferente. Era uma experiência nova, já há muitos anos que não atuava na Europa. O primeiro ano foi uma experiência boa. Consegui adaptar-me muito rapidamente. Até porque o meu estilo de jogo é muito parecido com o do futebol português. E neste segundo ano já estou a sentir-me muito bem. Melhor até.

Acha que a equipa cresceu?

Essa equipa da segunda época, na minha opinião, é melhor do que o do ano passado. Porém, ainda não engrenou do jeito que queremos. Mas ainda é muito cedo. Ainda nem chegamos a um terço do campeonato. Mas eu sei que já já a equipa vai engrenar. Vamos conseguir dar resposta para aqueles que confiaram nos jogadores. São 15 jogadores novos e às vezes demora a entrosar.

Conhecia alguma coisa do Nacional antes de vir?

Quando recebi a proposta estava no Paraná do Brasil e havia lá um amigo, guarda-redes, o Marcos, que esteve no Marítimo e no Sp. Braga. Falei logo com ele para saber como era a equipa. Deu-me informações muito boas. Disse logo que era uma equipa que lutava pela Europa que ficava sempre pelo sétimo, sexto lugar da tabela. Quando ele disse isso, e como um jogador tem sempre de almejar coisas maiores, não pensei duas vezes.

O que o surpreendeu mais na Madeira?

O Marcos também disse-me logo que a ilha era belíssima e ia gostar muito. Disse que era muito bom de viver com a família e realmente está a ser. Eu e a minha esposa amamos viver cá. Podemos sair para comer em restaurantes bonitos, tem lugares para desfrutar, praias bonitas e, sobretudo, temos segurança. É totalmente diferente do Brasil. E isso conta muito. Hoje estou aqui com a minha esposa e posso ficar tranquilo quando saio para jogar fora porque sei que ela vai ficar segura. É dos lugares mais bonitos onde já morei.

Falou muito da segurança. No Brasil chegou a ter algum problema nesse campo?

Enquanto estava a jogar não, mas já me aconteceu uma situação chata. Uma vez enviei dinheiro para a minha mãe e minha esposa que elas tinham de ir levantar ao banco. No Brasil há uma coisa que chamamos «saídinha de banco», onde as pessoas esperam que a gente saia do banco com dinheiro para roubar. E isso aconteceu-lhes em São Paulo, onde morávamos, e ficou muito marcado para mim.

Aos 27 anos, está a viver a melhor fase da sua carreira?

É uma das melhores fases, posso dizer sim. Também tive uma fase muito boa em 2014, quando estava no Penapolense, no campeonato Paulista. Fomos até às meias finais, eliminámos o São Paulo e perdemos depois com o Santos. A nossa equipa era muito boa, todos os que estavam a jogar de início saíram para equipas grandes. Fui depois para o Joinville e de lá para o Palmeiras. Foi um ano muito bom.

Qual é o seu objetivo: ficar muitos anos no Nacional, mudar de clube ou voltar ao Brasil?

Não penso em voltar para o Brasil. Agora não. E claro que os jogadores não podem desperdiçar oportunidades para jogar em clubes maiores. Mas tem de ser algo bom para o Nacional, também, porque eles apostaram em mim. Mas quando eles me contrataram disseram logo que era justamente para isto: vir, fazer uma ou duas épocas boas e depois vender-me para outro clube. Essa também é a minha meta. Vamos ver se na próxima janela aparece algo.

Preferia um clube maior em Portugal ou gostava de experimentar outro campeonato?

Queria experimentar outros campeonatos. Tenho vontade de jogar um campeonato espanhol, por exemplo, ou o italiano que também gosto bastante. Mas isso também vai depender de mim. Como dizemos no Brasil, é preciso «matar um leão por dia» e é o que eu vou fazer para tentar jogar um campeonato desses. Mas também se aparecesse um clube grande de Portugal, também ficaria muito feliz. Um Sporting, um Benfica, um FC Porto…

Como é trabalhar com Manuel Machado?

É muito bom. Há muitos anos que não tinha um treinador como ele, com o estilo dele. Muito calmo, muito tranquilo, fala muito pouco mesmo, é muito observador. Deixa o jogador à vontade para jogar. Você sabe que no Brasil os treinadores estão na beira do campo e pegam muito com os jogadores. Se for preciso xingar eles xingam. O Manuel Machado não xinga ninguém. É totalmente diferente. Se tiver de chamar a atenção, de dar uma dura ele faz isso. Não pode perder a autoridade que tem. Mas o jeito dele é mais observador. Gosto assim.

O Nacional também é conhecido pelos jogos adiados. No ano passado, então, aconteceu várias vezes naquele estádio, por causa do nevoeiro. Como é que os jogadores veem isso?

É difícil. Costumamos ir para estágio um dia antes do jogo. Vamos para estágio lá em cima num hotel na Choupana. Quando entramos no hotel está tudo normal, depois às vezes quando acordamos para o pequeno almoço já está nevoeiro e fica a expectativa de não haver jogo. E quando isso acontece é ruim, porque temos de ficar mais um dia em estágio.

No Brasil não havia nada disto…

Não, não. Nunca passei por isto antes. Achei isto tudo muito estranho. Até porque é muito difícil prever. A uma hora há nevoeiro, depois passa. Já aconteceu de estarmos a jogar, vem o nevoeiro, paramos o jogo e vinte minutos depois está tudo limpo outra vez. Nem adianta ir ver como vai estar o tempo. Muitas vezes estamos a treinar com o tempo normal, começa a vir o nevoeiro e já nem dá para ver a baliza.