O Portugal-Islândia, que fechou a primeira jornada da fase de grupos, foi a 12º partida de um Europeu até agora marcado pela violência fora dos relvados, e, dentro deles, pelo equilíbrio: (só três jogos com diferença de dois golos), a escassez de golos (22, média de 1,833) e pelo eclipse dos pontas de lança e dos goleadores habituais. O encontro de Saint-Étienne, frustrante a vários níveis, lançou Portugal para o topo de algumas estatísticas, das quais se destaca o total de remates efetuados: 26, mais sete do que a Croácia, segunda classificada neste ranking efetuado pela OPTA.

As estatísticas do Portugal-Islândia

O problema é que rematar muito nem sempre é rematar bem: dos 26 remates lusos, nove esbarraram na muralha defensiva dos islandeses, nem chegando a ameaçar a baliza de Hälldorsson e outros sete foram para fora. Sobram oito defesas do guarda-redes islandês (o guarda-redes mais interventivo dos 24 que jogaram a primeira ronda) e o golo de Nani, para deixar a seleção portuguesa com o estatuto de equipa que precisou de mais remates para marcar em toda esta primeira jornada (6% de eficácia)

No polo oposto está a Islândia, que fez quatro remates em todo o jogo (só a Irlanda do Norte fez menos, com 2) mas acertou todos na baliza de Rui Patrício, que fez três defesas e sofreu um golo. Os 25% de aproveitamento fazem da Islândia a seleção, entre as 24, com maior eficácia de concretização, à frente de Itália (22%), Rússia e Suécia (20%).

Estatísticas gerais após a primeira jornada

Nesse sentido, um jogo que serve de comparação para o de Portugal foi o Espanha-Rep. Checa, no qual os espanhóis também tiveram de enfrentar um adversário que praticamente abdicou da bola e se fortificou nas imediações da área. A diferença fundamental para esse jogo passou pela maior paciência dos jogadores da Espanha, mais rotinados neste tipo de desafio: enquanto Portugal se precipitou, rematando 15 vezes de fora da área e nove contra pernas de defesas, os espanhóis apenas o fizeram em sete ocasiões, gastando só cinco dos seus tiros contra a muralha.

O desempenho de Ronaldo, gradualmente mais frustrado pela falta de espaços e pela marcação cerrada, foi o sintoma mais evidente dessa iimpaciência, rematando oito vezes de fora da área, mas nenhuma delas enquadrada com a baliza. O único remate do capitão português entre os postes acabou por surgir aos 85 minutos, numa cabeçada para as mãos de Hälldorsson, a cruzamento de Nani. Curiosamente, a melhor ação de Ronaldo em todo o jogo aconteceu na primeira parte, ainda com 0-0: o trabalho e cruzamento, na esquerda, a permitir a Nani uma cabeçada para golo, que Hälldorsson defendeu com o pé esquerdo.

A outra diferença decisiva passou pelo facto de a Espanha ter um maestro - Iniesta, em tarde inspirada - que até aos últimos minutos procurou abrir brechas pela certa na defesa checa e situações de finalização dentro de área – um papel que Moutinho, o português com não conseguiu ser nos 71 minutos em que esteve em campo, antes de Portugal recorrer ao plano B, abdicando da circulação paciente, com Éder na área e dois extremos.

Outro item em que Portugal disparou para o primeiro lugar foi o da percentagem de posse de bola: segundo os dados da OPTA, a equipa portuguesa teve a bola em seu poder em 72,1% do tempo jogável, ligeiramente acima, até, do que a Espanha (72%) fez na estreia e bem acima das outras seleções mais dominadoras desta primeira ronda: Alemanha (68%), Polónia (65%) e França (64%).

Mas, tal como no capítulo do remate, nem sempre quantidade é qualidade: nas ações de desequilíbrio, a Islândia ganhou 54% dos duelos, subindo essa eficácia para 62% nos duelos pelo ar, capítulo onde Danilo e Pepe sofreram bastante durante o jogo. Dado sintomático para este último aspeto, o facto de Vieirinha, com 12 cruzamentos, estar entre os jogadores do Euro que, nesta primeira jornada, mais vezes tentaram colocar a bola na área a partir das laterais. Pequeno problema, ou não tão pequeno quanto isso: dos seus 12 cruzamentos, apenas um chegou ao destinatário na área.

Não surpreende, por isso, que Portugal também tenha desaproveitado outro item em que surge em lugar de destaque neste Europeu: os 11 cantos conquistados (só Espanha, com 14 e Polónia, com 12, tiveram mais na estreia) só resultaram numa situação de remate em que Pepe, muito pressionado, cabeceou por cima. Por fim, outra nota de destaque: o facto de Portugal ter conseguido apenas 10 interceções, contra 18 permitidas à Islândia. Sintoma claro de uma circulação de bola com problemas, num meio-campo em que as mudanças de ritmo e as ações de rutura - a exemplo do movimento de André Gomes para o 1-0 - raramente funcionaram.