Estórias Made In é uma rubrica do Maisfutebol que aborda o percurso de jogadores e treinadores portugueses no estrangeiro. Há um português a jogar em cada canto do Mundo. Este é o espaço em que relatamos as suas vivências. Sugestões e/ou opiniões para djmarques@mediacapital.pt ou rgouveia@mediacapital.pt

É o nome do momento no futebol polaco. Tiago Alves marcou três golos nos últimos três jogos do Piast Gliwice, cada um mais espetacular do que o outro e, com um deles, percorreu mais de meio campo, fintou o guarda-redes e eliminou o «gigante» Legia de Varsóvia. Três golos que estão a mudar a vida do jovem extremo de 24 anos que chegou à Polónia para jogar no terceiro escalão e em apenas seis meses chegou à elite do futebol polaco.

Tiago Alves, natural de Coimbra, começou por dar os primeiros pontapés no Avelarense, depois passou pela formação do Sporting, com Matheus Pereira, até aos sub-15. Completou a formação na Académica e Belenenses, depois jogou ainda no Varzim, Salgueiros e nos sub-23 do Belenenses antes de, com apenas 22 anos, emigrar para a Polónia em 2019.

Chegou para jogar no modesto Olímpia Grudziadz, do terceiro escalão, mas no final da época subiu à II Liga  e, ao fim de poucos jogos, foi contratado pelo Piast Gliwice onde agora está a deixar a sua marca na Ekstraklasa (I Liga).

Esta temporada já marcou seis golos em dezoito jogos, os últimos três nos últimos três jogos. Três golos que se traduziram em três vitórias para a sua equipa e que chamaram a atenção do Estórias Made In.

Três golos nos últimos três jogos, estás num grande momento de forma?

- Sim, é verdade as coisas têm corrido bem. Esta semana foi uma semana importante para mim e também para o clube, uma vez que conseguimos três vitórias e numa delas conseguimos a qualificação para as meias-finais da Taça da Polónia.

Foram três golos determinantes, valeram todos vitórias…

- Sim, é curioso, mas foi assim. Três jogos que comecei do banco, entrei e marquei.

Uma espécie de arma secreta. Com um desses golos, eliminaste o Legia Varsóvia. Equivale a eliminar o Benfica ou o FC Porto em Portugal?

- É a mesma coisa que eliminar um grande, sim.

E foi um grande golo, arrancaste ainda do teu meio-campo….

- Foi bom, foi bom. Senti que o defesa podia falhar, sou um jogador rápido, consegui antecipar-me, fintei-o, percorri o campo e, no fim, também fitei o guarda-redes e metia-a lá dentro. Foi perfeito.

O golaço de Tiago Alves ao Legia Varsóvia (a partir do minuto 2’39)

Já no jogo anterior tinhas marcado um golo de levantar o estádio ao Jagiellonia Bialystok. Um remate junto à linha de fundo, de ângulo difícil. Foi intencional ou querias cruzar?

- Foi um bom remate (risos). Mas foi importante porque foi mesmo com o jogo a acabar, foi no último minuto dos descontos.

O grande golo de Tiago Alves ao Jagiellonia Bialystok (a partir do minuto 3’36)

O que é que mudou para desatares a marcar golos? Mudaste de posição em campo?

- Não sei, essas coisas às vezes acontecem. Quando marcas um, depois saem outros, se calhar tem a ver com a confiança que vais ganhando.

Ainda és jovem, mas podemos dizer que esta está a ser a tua melhor época de sempre?

- Sim, a nível sénior sim. Nunca tinha marcado tantos golos.

Os estádios ainda estão vazios, mas sentiste que esses golos tiveram algum impacto na tua vida. Os teus vizinhos passaram a cumprimentar-te de forma diferente?

- Acho que sim, as pessoas estão mais atentas a mim e ao que tenho feito. É mais por aí. É verdade quando uma pessoa está em melhor forma ou a atravessar uma boa fase, as pessoas reparam mais.

Como é o balneário do Piast Gliwice? São quase todos jogadores da Europa de Leste…

- Temos dois espanhóis, o Gerard Badía e o Javier Hyjek que tem dupla nacionalidade, mas a maior parte são polacos. O ambiente é tranquilo. Uma pessoa acaba por falar mais com os estrangeiros, é um bocado normal, até porque os polacos têm mais o grupo deles. Mas é muito tranquilo, falamos todos uns com os outros, sem qualquer problema.

Estás há dois anos e meio na Polónia, já falas alguma coisa de polaco?

- Já entendo algumas palavras, mas são palavras soltas, não dá para falar. O idioma é bastante difícil.

O treinador Waldemar Fornalik também é polaco, como é que comunica contigo?

- Normalmente tem de ser com alguém a traduzir.

Chegaste à Polónia para jogares na III Divisão, mas subiste ao primeiro escalão em dois tempos, não foi?

- Cheguei em final de janeiro de 2019, fiz a parte final de uma época na III liga. Conseguimos subir à II Liga, ainda fiz os primeiros jogos na segunda época, fiz seis jogos e marquei três golos e ganhei um penálti. Depois consegui ser transferido para a I Liga. Tudo a correr.

Foi uma ascensão meteórica…

- Foi um salto rápido e grande. Em pouco mais de seis meses saltei da terceira liga para a primeira.

Vais defrontar agora o Lech Poznan onde joga o Pedro Tiba. Há muito portugueses a jogar na Polónia, vocês falam uns com os outros?

- Geralmente costumamos falar quando jogamos uns contra os outros. De vez em quando também troco uma mensagem ou outra com o Luís Rocha que está no Cracóvia.

Também está aí o André Martins, cruzaste-te com ele no Sporting?

- Sim, também falámos quando jogámos um contra o outro. Sempre que há estes jogos, quando há portugueses trocamos sempre umas mensagens. Também costumo falar com o Flávio Paixão do Lechia Gdansk.

O futebol polaco é muito diferente do futebol português? Além do frio que se faz sentir aí?

- Sim, o frio aqui nota-se muito, o inverno é rigoroso. É um futebol mais físico, tem muitos jogadores de estatura alta e forte. O nosso futebol português é mais técnico, tentamos construir as jogadas, não temos tanta pressa em chegar ao golo. Pensamos mais o jogo.

Tens jogado quase sempre com as bancadas vazias por causa da pandemia, mas já deu para sentir o ambiente dos adeptos. Têm a fama de serem muito fervorosos..

- Agora sim, temos jogado sem adeptos, mas na primeira fase do confinamento ainda permitiram cerca de 25 ou 30 por cento da capacidade dos estádios. Mas ainda cheguei a apanhar o ambiente normal, antes da pandemia. Cheguei ao Piast no final de agosto de 2019, ainda não havia a pandemia. Aqui existem algumas rivalidades, como em Portugal também existem entre Sporting e Benfica ou FC Porto e Benfica. É verdade que nem sempre têm os desfechos mais bonitos. Atualmente o meu clube e o grande rival que é o Górnik têm um pequeno problema e os adeptos não podem entrar nos estádios de um e de outro. Sempre que vamos jogar fora contra o Górnik os nossos adeptos não podem entrar no estádio. Houve um problema grave há um par de anos e desde então fecharam as portas.

Estás a viver em Gliwice, uma cidade medieval, o que é nos podes contar?

- É uma cidade com cerca de 200 mil habitantes, não é muito grande, é tranquila. Tem um centro histórico engraçado, com alguns restaurantes que, infelizmente, agora não podemos ir. Apesar de não ser uma cidade tão grande e apelativa, não deixa de ser uma cidade tranquila e tem a particularidade de estar perto de Katowice que já é uma cidade maior e tem aeroporto. Também está a uma hora de Cracóvia, é uma cidade central.

Objetivos para esta época?

- O meu contrato está a acabar, mas os objetivos até ao final da época passam por jogar o máximo possível, somar o máximo de minutos e continuar a ajudar a equipa e a fazer golos.

Acabas contrato no final da época, já falaram contigo no sentido de continuares?

- Ainda está tudo muito no ar, ainda não sei bem, mas acredito que sim.

Aqui em Portugal, fizeste a formação no Sporting e Académica, jogaste no Varzim, nos sub-23 do Belenenses, mas nunca chegaste a jogar na I Liga. Gostavas de voltar para jogar no primeiro escalão?

- Sim, claro que um dia gostaria de jogar no nosso futebol profissional, na I Liga. Já joguei na II Liga, mas todos os jogadores têm a ambição de chegar à I Liga.

Estes golos no final da época também chegam num bom momento para definires o futuro?

- É verdade, tenho de dar continuidade, tenho noção disso, mas estão a chegar num bom momento. É sinal de que tenho feito um bom trabalho.

Foram golos que te deram também protagonismo aí na Polónia. Tens saído nas primeiras páginas dos jornais desportivos?

- Acho que têm saído algumas notícias minhas, por acaso não costumo seguir muito os jornais polacos, também porque não os entendo, mas estou na equipa da semana da Liga que foi divulgada hoje. É sempre bom.

Os melhores momentos de Tiago Alves no Piast