Os números nunca contam a história toda no futebol. Mas às vezes ajudam. Um jogo que termina com 18-2 em remates, 8-1 em cantos e 501/272 em passes, nem sempre é ganho pela equipa que leva vantagem em todos os capítulos. Mas deixa poucas dúvidas sobre a atitude do seu adversário.

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Neste caso, a primeira equipa chamava-se Polónia, e com um golo do avançado do Ajax, Milik, aos 51 minutos, lá acabou por traduzir no marcador, com expressão mínima, um domínio de expressão máxima durante os 90 minutos.

A segunda equipa chamava-se Irlanda do Norte, um dos estreantes deste Europeu, e a sua prestação em Nice, apesar da solidariedade defensiva e do tradicional espírito combativo, deixou a fasquia muito baixa na corrida ao título de equipa mais fraca deste Campeonato da Europa em versão alargada.

Os jogos de sentido único têm pouca história, e a deste ficou definida logo nos primeiros minutos: entrada de rompante dos polacos, empurrando onze irlandeses para as imediações da sua área, num espaço de 30 metros. O problema é que, apesar das idas à linha de Kuba Blaszczykowski e Piszczek, e dos esforços de Milik e Lewandowski na área, o aglomerado de pernas de um lado e a falta de ideias do outro ia tornando o jogo num fenómeno parecido com um colosso ébrio a tentar derrubar uma parede à cabeçada.

Se o domínio polaco foi evidente desde o início, foi preciso esperar pelos 31 minutos para Milik dispor de uma oportunidade clara, recebendo na área com espaço, mas rematando para fora ante a saída de McGovern. Pouco depois, Kapustka obrigou McGovern a uma fantastica defesa, com um remate que seguia direto ao seu ângulo direito. O teórico 3x5x1x1 da Irlanda do Norte não conseguia esticar-se para o meio-campo contrário, e a única dúvida consistia em saber se a Polónia ia resolver o problema, em força ou em criatividade.

A solução acabou por chegar aos 51 minutos, numa boa incursão de Kuba Blaszczykowski pela direita, a servir Milik, à entrada da área, para um remate rasteiro e vitorioso do número 7 da Polónia.

Nem assim a Irlanda do Norte saiu dos seus cuidados: foi preciso esperar pelos 80 minutos para ver Lafferty tentar um arremedo de remate. E, mesmo com a Polónia a recuar demasiado, foi sempre a equipa de Nawalka a estar mais perto do segundo golo do que os britânicos de chegar ao empate. Apesar do marcador equilibrado, este foi o jogo mais desnivelado desta Campeonato da Europa. Dizem-no os números e di-lo, principalmente, a paciência esgotada de quem viu a Irlanda do Norte amarrada durante 90 minutos às suas limitações. Quanto à Polónia, com Milik e o jovem Kapustka (19 anos muito promissores) em destaque, conseguiu os mínimos obrigatórios, mas terá de mostrar mais do que isto perante adversários como Alemanha e Ucrânia.