* enviado-especial ao Euro2016

Didier Deschamps, selecionador francês, analisa a derrota com Portugal, na final do Euro2016:

«É preciso lembrar o percurso que fizemos, o apoio de milhões de franceses. Também é duro para os adeptos. Gostaríamos de lhes dar este título. A desilusão é o principal sentimento. Há coisas positivas, mas é difícil vê-las nesta altura. É muito duro, mas isto é futebol de alta competição.»

[a equipa bloqueou emocionalmente?] «Sinceramente, penso que não. Claro que há pressão, mas tínhamos o público a apoiar-nos. Portugal sabe muito bem desmanchar o jogo dos adversários, na mínima oportunidade sabe explorar o contra-ataque. Perderam o Cristiano e fecharam-se ainda mais. Nós pressionámos e acabámos por deixar espaço atrás. Os jogadores deram tudo, mas infelizmente foi decido num pormenor e não caiu para o nosso lado.»

[pesou o dia a menos de descanso] «Talvez, mas não quero procurar desculpas. Já sabíamos que o tempo de repouso seria diferente. O jogo com a Alemanha desgastou-nos muito. Tentámos estar no nosso melhor. É claro que, se calhar, podíamos ter mais frescura, mais lucidez, mas este jogo decidiu-se nos pormenores.. É difícil relativizar esta derrota e ver os pontos positivos, pois a desilusão é muito grande.»

[sobre Griezmann] «O Antoine teve oportunidades, mas deparou-se com um guarda-redes que fez defesas decisivas. Fez uma época muito boa, mas perdeu também a final da Liga dos Campeões. Ainda é muito novo e chegou cedo a um patamar elevado. Tentou sempre jogar para a equipa. Faltou-lhe alguma sorte, talvez, mas é um grande jogador.»

[Portugal merece o título?] «O vencedor merece sempre. Podem fazer as vossas análises, mas eu disse que não tinha chegado à final por acaso. Ficou em terceiro no grupo e é campeão da Europa. Não ganharam muitos jogos mas ganharam o mais importante. Não retiro nenhum mérito a Portugal. Há muita gente que vai tentar fazer comparações, e se calhar tiveram gerações com mais talento, mas não ganharam, e estes ganharam. Estão de parabéns. Não tenho nada a dizer para beliscar o mérito da equipa portuguesa.»

[Payet ficou afetado pelo lance que lesionou Ronaldo?] «Penso que não. As consequências foram para Portugal, que perdeu o melhor jogador, mas ainda assim conquistou o título. O sistema de jogo português mudou, para se fecharem um pouco mais e saírem rapidamente em contra-ataque. Não tiveram muitas oportunidades mas tiveram algumas. O Payet começou em grande este Europeu, mas faltou alguma frescura física agora no fim, com jogos de três em três dias. Não está tão habituado, ao jogar no West Ham, mas é preciso reter tudo aquilo que fez de bom. Foi decisivo, mas é um ser humano.»

[vai continuar na seleção francesa?] «Sabem que isso já está previsto. Não quero estar aqui a pensar em mim. Preciso de tempo para digerir isto, tal como os jogadores. Claro que eles vão retomar o trabalho nos clubes, alguns em breve. Vamos falar e ver o que nos espera.»

[mas há coisas positivas a retirar, tendo em conta a juventude da equipa] «Não me esqueço disso, mas hoje o sentimento predominante é a desilusão. Há dois anos chegámos aos quartos, desta vez fomos finalistas. Há jovens que vão evoluir, e todos sabem o que aconteceu antes do torneio, mas estou muito orgulhoso deste grupo. Não temos a recompensa esperada, mas depois de muito tempo de preparação...passámos 57 dias juntos, estou triste por eles, mas não é o fim. É uma pancada muito dura. Esta noite é difícil ser otimista, mas virão dias melhores e o futuro será interessante.»