*Enviado-especial ao Euro 2016

Fernando Santos revelou que se preveniu para ser Gales o adversário e não a Bélgica, porque acreditava que os britânicos podiam aproveitar as muitas baixas que os belgas tinham na defesa.

«Não fiquei nada surpreendido com o apuramento de Gales. Enviei dois observadores para olharem bem para as duas equipas. Se fosse como os jornais belgas diziam, já que se perguntavam por quantos iam ganhar, só teria enviado um. Disse ao elemento da nossa equipa que está encarregue de cortar as imagens dos jogos e estava preocupado só com a Bélgica para ter calma com aquilo. Sabia da valia de Gales, e havia que ter muita atenção, porque tudo levava a pensar que o País de Gales, uma verdadeira equipa, pudesse aproveitar algumas debilidades da equipa belga face à sua forma de jogar», disse, recuando depois alguns meses no tempo: «Fez uma boa fase de qualificação. Este Gales não perdeu com a Bélgica, empatou e ganhou. É importante não esquecer que é uma equipa muito bem organizada, tem excelente qualidade e um treinador que sabe bem o que quer que esta faça em campo. Os nomes todos conhecem. Tem uma matriz 99% de campeonato inglês, quase todos os jogadores jogam na I e II divisão. É uma escola muito própria, com grande qualidade no passe e na receção, além da qualidade tática, e tem as características das equipas inglesas: grande espírito de equipa, muita determinação, quase faz pensar que não há amanhã.»

O selecionador valorizou várias vezes, durante o encontro com os jornalistas, as qualidades do próximo rival. «Vamos defrontar um grande adversário. É a equipa que tem mais vitórias, mais golos marcados. Portugal acredita que vai vencer, apesar da boa valia do nosso rival. Em todos os jogos, mesmo nos particulares, sempre tive muita atenção a um momento muito importante nos encontros, que são as bolas paradas. Temos as bolas paradas todas visionadas, e vamos tentar anular os pontos fortes do País de Gales.»

Santos não quis dar muita importância ao facto de Portugal ter já disputado dois prolongamentos, ao contrário dos britânicos, que ganharam nos oitavos e quartos de final nos 90 minutos. «Estamos empatados. Temos 240 minutos, eles têm 180, mas temos mais um dia de descanso», sublinhou.

As ausências de Davies e Ramsey do lado do adversário também não mereceram grandes comentários: «Também não temos o William. A influência irá notar-se provavelmente durante a partida, mas o que caracteriza é o fortíssimo espírito de equipa.»

Fernando Santos também não entra em lutas entre Cristiano Ronaldo e Gareth Bale. «Não nos vamos focar numa eventual luta entre Bale e Ronaldo. Em Espanha isso será normal, são da mesma equipa e vão defrontar-se, é tema de conversa e é normal que assim seja. Afetar não irá afetar, mas mexe sempre um bocadinho. Não acho que seja, no entanto, condicionante para o jogo.»

O técnico voltou a abordar a questão de a Seleção poder ser considerada o patinho-feio do Euro 2016, em contraste com a Islândia e o País de Gales, surpresas da prova. «É natural que Gales e a Islândia sejam consideradas as equipas bonitas, estão pela primeira vez e com mérito próprio. Uma já está na meia-final, a outra vai disputar os quartos e não será pêra doce. É normal. Não me importo de ser patinho-feio e calimero. Quero ir à final e vencê-la. Eu quero ser feio. Entre bonito e estar em casa, e ser feio e estar aqui quero ser feio.»

Santos deu ainda a entender que preferia a Bélgica nas meias-finais. «Não tenho nem tinha preferência. Se fosse a Bélgica, ia dizer que tem enorme qualidade, mas também algumas fragilidades que para Portugal teriam aspetos positivos para o nosso estilo de jogo. Não aconteceu assim, estamos focados na equipa de Gales», concluiu.