Por Pedro Catita

Terminou o Europeu de futsal. São os títulos coletivos que ditam a lei, e neste caso a Espanha venceu e convenceu. O melhor jogador foi... a equipa espanhola.

Mas realmente vale a pena validar o (meu) desafio de escolher quais os jogadores em destaque. O critério foi principalmente o rendimento individual revelado em Belgrado, não esquecendo também como almofada a prestação da equipa, sem estar condicionado pelo valor em tese de cada jogador. É como se, no fundo como linha de raciocínio, estes futsalistas e estas seleções se tivessem iniciado na modalidade no passado dia 2 de fevereiro.

Em relação à lista dos 14 que fiz após os quartos de final, reduzi de três para dois guarda-redes, e apenas registo as entradas de Peric e Miguelín por troca com Aksentijevic e Fortino. Ou seja, confirmam-se as (minhas) escolhas acertadas iniciais e a maioria dos jogadores que ficaram à porta para entrar na ficha de jogo não demonstraram valor suficiente para tal nos jogos decisivos, tais como por exemplo Abramov e Robinho.

Melhor treinador: Cacau (Cazaquistão)
Melhor jogador: Ricardinho (Portugal)
Jogador revelação: Alex (Espanha)

Os 14 eleitos
Guarda-redes (2):
Higuita (Cazaquistão)
Paco Sedano (Espanha)

Jogadores de campo (12):
Pola (Espanha)
Leo (Cazaquistão)
Peric (Sérvia)
Kocic (Sérvia)
Rajcevic (Sérvia)
Douglas (Cazaquistão)
Miguelín (Espanha)
Rivillos (Espanha)
Ricardinho (Portugal)
Alex (Espanha)
Droth (Hungria)
Éder Lima (Rússia)

Cinco inicial: Higuita, Pola, Kocic, Ricardinho e Rivillos

Os outros onze futsalistas que formam a lista dos 25:
Guarda-redes (2): Aksentijevic  (Sérvia) e Mamarella (Itália)
Jogadores de campo (9): Fortino (Itália), Merlim (Itália), Shayakhmetov (Rússia), Abramov (Rússia), Robinho (Rússia), Rómulo (Rússia), Jelovcic (Croácia), Eduardo (Azerbaijão), e Zhamankulov (Cazaquistão).

A lógica não é uma batata: são 5 contra 5 e, no final, ganha a Espanha
Amigos e amigas, pouco há dizer em relação à vitória da Espanha no Europeu-2016. As imagens valem por si, e ficam na história. Foi claramente a melhor seleção em prova, com cinco jogos e cinco vitórias categóricas. José Venâncio Lopez (simboliza neste caso todo o staff), e Paco Sedano, Jesus Herrero, Juanjo, Ortiz, José Ruiz, Bebe, Andresito, Rivillos, Rafa Usin, Pola, Lin, Alex, Miguelín e Raul Campos (plantel com nove jogadores abaixo dos 30 anos), estão pois de PARABÉNS. Vénia aos campeões!

Gostaria obviamente de estar a festejar o ouro de Portugal, mas não foi surpresa de todo, antes pelo contrário, o triunfo final de nuestros hermanos. A lógica no desporto acontece quase sempre. O tudo pode acontecer é almofada mental para as equipas menos preparadas, o ganha quem erra menos em vez do ganha principalmente quem acerta mais e também, é verdade, quem erra menos  não vinga para os títulos importantes.

Como referi há dias neste espaço, entre múltiplas outras virtudes, é a melhor equipa do mundo nas bolas paradas ofensivas, na ocupação defensiva do corredor central, no fechar eficaz do cone de finalização adversário, na comunicação técnico-tática entre os jogadores, na potenciação do eixo membros/bacia de cada jogador em cada lance especialmente na pressão defensiva alta e baixa, na capacidade de mandar e comandar o jogo, na potenciação do tempo não-útil, na aceleração do jogo nas zonas de remate.

A Espanha, tendo obviamente iniciado cinco jogos com empate a zero, nos 200 minutos úteis em campo esteve em vantagem no marcador durante 137 minutos (68%), em igualdade em apenas 59 minutos (29%) e em desvantagem no marcador escassos 4 minutos (2%) diante do Cazaquistão. Esclarecedor.

A Espanha não perde um jogo oficial e 40 minutos desde... 29 de novembro de 2004 (há mais de 11 anos!!!), no Mundial Taiwan. Sim, é verdade. Desde essa data perdeu três embates, sendo dois no prolongamento e um nos penáltis. Sim, é verdade. Não perde um jogo em 40 minutos (seja que jogo for) desde 11 de novembro de 2005, há mais de 10 anos. Incrível? Sim. Elucidativo? Ainda mais. A lógica é uma batata? Hummmm...

Venha um Europeu de seleções jovens
Vai ser seguramente uma das próximas medidas a tomar pela UEFA tendo em mente o desenvolvimento e crescimento do futsal nos tempos vindouros. A nossa modalidade necessita de uma competição europeia de seleções jovens, seja sub-19 e/ou sub-21.

Dos 168 jogadores presentes em Belgrado, apenas um (do Cazaquistão) estaria em condições de representar atualmente a seleção sub-21 do seu país, ou seja, nascido em 1995 ou depois. E somente cerca de 30 (17,8%) jogadores – com Croácia e Rep. Checa a contribuir com 15 no total... - vieram ao mundo na década de 1990.

As pirâmides estruturais que refletem a prática desportiva cada vez mais aumentam a base dos praticantes até aos 21 anos e a redução da idade de início na prática do futsal é uma evidência, pelo que urge criar um espaço de alta competição entre pares a fim de ir ao encontro e potenciar – nestas idades,  por consequência nas seguintes - do lema olímpico proposto pelo Barão Pierre de Coubertin: Citius, Altius, Fortius, que em latim significa «mais rápido, mais alto, mais forte», e «mais talento», acrescento eu.

“Hvala” Sérvia, Obrigado!
O eterno Raul Solnado dizia que há duas maneiras de agradecer. Obrigado para normal agradecimento, muito obrigado para especial agradecimento. É de mestre. Simples, mas superior. Muito obrigado, Belgrado, é que digo agora. Foi minha cidade durante uma semana, foi cidade do futsal durante 12 dias, foi país e mundo de todos nós.

Lembro-me que no pagamento por multibanco não é verde-código-verde, mas apenas código-verde. Lembro-me da segurança à noite, do povo hospitaleiro, da simpatia, dos muitos autocarros a facilitar as viagens na cidade, da ausência de metro, da felicidade na maioria dos rostos, do alfabeto cirílico imperceptível, dos números iguais aos nossos, das esplanadas cheias a partir das 16 horas, dos semáforos a funcionar igual a Portugal verde-segue-para-amarelo-que-segue-para-vermelho, da não proibição de fumar em quase todo o lado, das zonas verdes, das mulheres bonitas e arranjadas, dos preços convidativos, do frio seco, do sol caloroso, da ausência de chuva e neve, dos rios Sava e Danúbio, do terreno sempre plano, do Novak Djokovic. E lembro-me da inimaginável ovação ao adversário Ricardinho. Ovação realmente única e literalmente mágica. Só tinha acontecido com Maradona há mais de 30 anos. E agora com Ricardinho. Sim, ou da, para eles perceberem. Tchau, esta todos percebemos, em todo o mundo.

‘Hvala’

 

Pedro Catita. Algarvio de Portimão, é licenciado em Ed. Física e Desporto – Opção Futebol pela FMH. Comentador de Futsal na RTP desde 2003, especialista em Análise de Jogo, é membro da Comissão de Futsal da FPF. Preletor nos Cursos de Treinador de Futebol e Futsal da FPF. Trabalhou na Infordesporto/Sportinveste Multimédia entre 1994 e 2015. Treinador de Futsal no Sassoeiros e de futebol no Belenenses, Estoril Escola Rui Águas. É “Amigo do Futsal”, e um dos responsáveis pelos conteúdos da Futsal+ desde Janeiro de 2016.