O Estádio Cidade de Barcelos acolheu, a 23 de maio de 2006, o pontapé de saída para o Campeonato da Europa Sub-21, que se realizou em Portugal. O jogo colocava frente a frente a Alemanha e um país entretanto separado, a Sérvia e Montenegro.

Terminou com vitória alemã por 1-0, com o primeiro golo do torneio a ser marcado por um futuro internacional A…pela Polónia. Eugen Polanski fez toda a formação nas seleções base alemãs mas acabou a jogar o Euro 2012 pelo país vizinho, já que tinha dupla nacionalidade.

Esta é, apenas, uma das curiosidades em torno do torneio que acabou por ser uma enorme desilusão para Portugal. A seleção de Agostinho Oliveira estava eliminada ao segundo jogo numa prova em que se assumia como candidato à vitória.

Ora, dez anos passados, esta é uma boa altura para olhar para o excelente naipe de jogadores que passaram pelos relvados lusos naquele verão e perceber quem cumpriu as expectativas e quem acabou por ser uma grande desilusão. De facto, há um pouco de tudo, em todas as seleções.

PORTUGAL (GRUPO A)

O torneio, como se disse, não correu nada bem ao combinado português, que incluía várias estrelas já com estatuto no futebol português. Quatro nomes destacam-se pelo que viriam a conseguir nas respetivas carreiras: Nani, Ricardo Quaresma, João Moutinho e Raul Meireles. Todos foram totalistas no torneio e viriam, talvez com exceção de Quaresma, a ter papel importante em campanhas da seleção principal.

Outros craques da altura que não conseguiram desenvolver as suas carreiras ao mesmo nível foram o guardião Bruno Vale (que até já tinha sido internacional A), que nunca se impôs no FC Porto; Lourenço, avançado que pertencia aos quadros do Sporting mas nunca lá voltou; ou Nuno Morais, que jogava no Chelsea e era um dos três «estrangeiros» do grupo, ao lado de Daniel Fernandes (PAOK) e Ricardo Vaz Tê (Bolton).

Nani era uma das estrelas da seleção portuguesa

Onde estão os jogadores portugueses do Euro sub-21 2006 (clube à época-clube atual)?

Guarda-redes: Bruno Vale (Estrela da Amadora-Apollon Limassol); Paulo Ribeiro (FC Porto-Desp. Chaves) e Daniel Fernandes (PAOK-Rayo OCK)

Defesas: Nelson (Benfica-Alcórcon), José Semedo (Feirense-Sheffield Wednesday), Rolando (Belenenses-Marselha), Zé Castro (Académica-Rayo Vallecano), Nuno Morais (Chelsea-Apoel Nicosia) e Pedro Ribeiro (Marco-Penafiel)

Médios: Raul Meireles (FC Porto-Fenerbahce), João Moutinho (Sporting-Mónaco), Manuel Fernandes (Benfica-Lokomotiv Moscovo), Bruno Amaro (Penafiel-Rebordosa), Custódio (Sporting-Akhisar) e Diogo Valente (Boavista-Sanliurfaspor)

Avançados: Nani (Sporting-Fenerbahce), Ricardo Quaresma (FC Porto-Besiktas), Varela (V. Setúbal-FC Porto), Hugo Almeida (FC Porto-Hannover), Lourenço (U. Leiria-Pinhalnovense), Filipe Oliveira (Marítimo-Videoton) e Ricardo Vaz Tê (Bolton-Akhisar)

FRANÇA (Grupo A)

A seleção francesa venceu o grupo A, dominando por completo a fase inicial, com três vitórias. Cairia nas meias-finais, frente à Holanda, num dos jogos mais espetaculares do torneio, em que recuperou de uma desvantagem de 2-0 para sofrer o 3-2 no prolongamento.

Entre os jogadores que confirmaram credenciais contam-se o guarda-redes Mandanda, totalista no torneio, além dos médios Toulalan (já na altura com cabelo branco), Lassana Diarra ou o defesa Bacary Sagna.

Sem o mesmo brilho mas com uma carreira digna desde aí surgem Gourcouff, que não se impôs no Milan mas continua com crédito em França, Mavuba, que se transformou numa referência do Lille, Jimmy Briand, que marcou o golo que derrotou Portugal em Braga e teve uma importante passagem pelo Lyon, ou Gouffran, que era um dos mais jovens do grupo, apenas com 19 anos, e passou depois por Bordéus e Newcastle.

Caso interessante é o de Matteo Flamini que mesmo construindo uma carreira interessante no Arsenal e Milan, tem apenas 1 minuto oficial na seleção A de França! Foi num jogo com a Sérvia a caminho do Mundial 2010, tendo entrado nos descontos. Foi ainda utilizado em dois jogos amigáveis e nada mais.

Entrando no campo das desilusões, um nome salta à vista: Sinama Pongolle. Era um dos craques da equipa mas a partir daí foi sempre a descer, com a efémera passagem pelo Sporting a ser prova disso mesmo. Atualmente pertence ao Dundee, da Escócia, mas como em quase todos os clubes que representou…não tem qualquer golo marcado e apenas quatro jogos efetuados.

Pongolle em ação contra Portugal

E lembra-se de Bryan Bergougnoux? Pois…Foi o melhor marcador francês no torneio, com dois golos, mas atualmente joga no Tours, da II Divisão de França.

Por fim, há a lembrar o caso de Anthony Le Tallec, que era outro craque em potência, mas que nunca correspondeu. Joga no Atromitos, da Grécia, e nunca foi internacional A.

ALEMANHA (GRUPO A)

A Alemanha vivia em 2006 um período de menor fulgor e apresentou-se em Portugal com uma seleção da qual viria a colher poucos frutos.

O caso de maior sucesso será o de Stephan Kiessling que mesmo não tendo feito qualquer golo em Portugal (o único foi o tal de Polanski) afirmou-se como goleador sobretudo ao serviço do Bayer Leverkusen. Esteve no Mundial 2010.

Em sentido inverso, lembra-se de Nando Rafael? Era um dos mais conhecidos da equipa, pelas raízes angolanas. Mas nunca se impôs ao mais alto nível e, atualmente, está no Bochum da II Divisão alemã.

Nando Rafael em ação pela Alemanha

Por fim, há a destacar Michael Rensing, que chegou a ser dono das redes do Bayern Munique, mas acabou ultrapassado por um tal de Manuel Neuer e, atualmente, defende a baliza do Fortuna Dusseldorf.

SÉRVIA E MONTENEGRO (Grupo A)

Foi, depois da França, a seleção que seguiu para as meias-finais, embora tenha o mesmo registo de Portugal e Alemanha: uma vitória e duas derrotas.

No elenco estavam vários futuros jogadores do futebol português. O guarda-redes Vladimir Stojkovic assinou pelo Sporting um ano mais tarde. O primeiro, mas outros futuros leões estavam no grupo, casos de Simon Vukcevic e Milan Purovic, que vieram na mesma época para Alvalade.

Também em 2007, o FC Porto pescou o central Milan Stepanov, provando que aquela seleção tinha deixado boa impressão em Portugal. Apesar disso, nenhum deles foi verdadeiramente feliz em Portugal, com Vukcevic a ser o caso de maior sucesso.

Simon Vukcevic nos tempos do Sporting

Outros nomes que construíram uma bela carreira desde aquele torneio são Ivanovic, que se tornaria uma figura do Chelsea, Mirko Vucinic que assinou pela Roma nesse Verão e ainda representou a Juventus (foi suplente de Purovic no torneio), ou Milos Krasic que se destacou no CSKA Moscovo e Juventus, também.

UCRÂNIA (Grupo B)

A seleção ucraniana foi a grande sensação do torneio. Venceu o grupo B, passou a Sérvia nos penáltis e só parou na final onde não teve pernas para a Holanda. Curiosamente, os ucranianos derrotaram os holandeses no jogo de abertura, com um dos golos a ser apontado pela estrela da companhia: Artem Milevskyi.

Mesmo tendo feito algumas épocas muito positivas no Dínamo Kiev, nunca confirmou o potencial que todos viam. Manteve-se no gigante ucraniano até 2013, mas já sem o fulgor de outras épocas. Passou pelo Gazientepspor, Hajduk Split, RNK Split e está, agora, na Roménia ao serviço do Concordia Chiajna.

Milevskyi já está no ocaso da carreira

Milevskyi fez dois golos no torneio e foi o melhor marcador ucraniano a par de Ruslan Fomin. Só que se Milevskyi não confirmou em pleno o talento, Fomin foi mesmo…uma desilusão. Nunca foi internacional A e vai no oitavo clube desde esse torneio: pertence aos quadros do Apollon Smyrnis, da II Divisão grega.

A outra estrela do grupo, contudo, era Oleksandr Aliyev. Fez uma carreira, sensivelmente, a par de Milevskyi, sempre ligado ao Dínamo Kiev. Os adeptos do FC Porto até podem lembrar que foi ele a marcar o golo de livre que deu uma vitória aos ucranianos no Dragão, em 2008. Atualmente e aos 31 anos está sem clube, depois de terminado o vínculo com os russos do Anzhi em 2015.

Daquela seleção ucraniana há ainda a destacar o guarda-redes Andriy Pyatov, que se tornou incontornável no Shakhtar Donetsk, e o central Chygrynskiy que era dos mais jovens do grupo, com apenas 19 anos, revelou-se no Shakhtar, passou sem sucesso pelo Barcelona e está, atualmente, no Dnipro.

DINAMARCA (Grupo B)

A seleção da Dinamarca ficou em último no Grupo B e foi a única do torneio que não venceu qualquer jogo. Empatou com Itália e Holanda e foi derrotada pela Ucrânia no jogo decisivo. Apesar disso, teve o segundo melhor marcador do torneio.

Falamos de Thomas Kahlenberg, que fez três golos. Já tinha 23 anos (podia participar porque tinha apenas 21 quando começou o apuramento) e jogava no Auxerre. Não tendo sido um jogador de top mundial, a verdade é que construiu uma carreira digna, com várias internacionalizações pela seleção A (esteve no Mundial 2010 e Euro 2012) e foi ainda campeão da Alemanha pelo Wolfsburgo. Joga no Brondby, atualmente, com 33 anos.

Kahlenberg foi o melhor da Dinamarca em Portugal

Mesmo tendo ficado em branco, Nicklas Bendtner já era a grande referência dinamarquesa. Estava a despontar no Arsenal, clube que lhe marcou a carreira. Jogava no Wolfsburgo até abril, altura em que o clube avançou para a rescisão, devendo voltar ao ativo na próxima época.

Outro jogador que fez história em Inglaterra e que integrava aquele grupo foi Daniel Agger, atualmente no Brondby, depois de 10 anos no Liverpool.

Entre as desilusões, talvez se destaque o guarda-redes Kevin Ellegard, que estava já no Werder Bremen na altura mas não chegou, sequer, a ser internacional A, embora tenha sido chamado para dois jogos da caminhada para o Mundial 2010, um deles frente a Portugal. Joga nos suecos do Elfsborg.

ITÁLIA (Grupo B)

A seleção italiana que esteve em Portugal não deu grandes estrelas ao futebol transalpino mas, ainda assim, alguns nomes destacam-se dos demais.

Em primeiro lugar, quanto à participação no torneio, os italianos acabaram por cair na fase inicial quando pareciam ter tudo para seguir em frente. Uma derrota com a Holanda no último jogo fez com que fossem eliminados, mesmo terminando em igualdade pontual com os holandeses.

O central Giorgio Chiellini liderava a defesa daquele grupo e continua a fazê-lo na Juventus e na seleção principal. Foi, de longe, o melhor fruto daquela geração.

Chiellini tornou-se uma referência na defesa da Itália

Mas houve outros interessantes, casos de Ricardo Montolivo que só fez um jogo em Portugal mas tornou-se um médio de referência em Itália ou Simone Pepe que nem sequer jogou no torneio de 2006 mas chegou à Juventus, esteve no Mundial 2010 e joga, hoje em dia, no Chievo Verona.

No campo das desilusões, é preciso destacar o avançado Raffaele Palladino, atualmente a jogar no Crotone, da II Liga italiana, depois de uma passagem falhada pela Juventus e de vários anos no Parma.

HOLANDA (Grupo B)

E para o fim ficam os campeões. Um Europeu em crescendo até uma final esmagadora frente à Ucrânia, no Estádio do Bessa, ganha por claros 3-0.

A grande figura da equipa confirmou o seu talento: Klaas-Jan Huntelaar. Produto das escolas do PSV, estava já no rival Ajax aquando do torneio e, mesmo tendo falhado no Real Madrid e Milan, tornou-se figura incontornável no Schalke 04 onde teve um ano de 2011/12 assombroso: 48 golos em 48 jogos!

Não é um goleador de top europeu, mas também não é uma desilusão. Mas é dos poucos daquele grupo…

Huntelaar foi a grande figura do Europeu em Portugal

Nicky Hofs, por exemplo, foi o segundo melhor marcador da prova, mesmo sendo um médio. Fez três golos, destacou-se mas nunca deu o salto para um grande campeonato europeu. A única experiência fora da Holanda aconteceu no AEL Limassol, em 2010/11. A carreira foi uma desilusão tão grande que deixou de jogar em 2013, treinando atualmente, aos 33 anos, as camadas jovens do Vitesse.

E Daniel de Ridder, lembra-se? Outro craque daquela geração que nunca ficou perto do que prometeu. Estava no Celta de Vigo e passou por Birmingham, Wigan, Hapoel Telavive, Wigan outra vez, Grasshoppers, Herenveen, RKC Waalwijk e, atualmente, SC Cambuur. Nunca foi internacional A.

Romeo Castelen era outra das figuras daquele grupo. Este chegou, de facto, à seleção principal, mesmo nunca tendo disputado uma fase final. Deu o salto para o Hamburgo naquele ano e joga, atualmente, nos australianos do Western Sidney Wandereres.

Por fim, um caso que ficou a meio termo: Demy de Zeeuw. Jogava no meio campo daquela equipa ao lado do futuro leão Stijn Schaars, mas também falhou o assalto a um grande campeonato europeu, embora tenha feito boa figura no AZ Alkmaar, Ajax e, depois, nas aventuras no estrangeiro ao serviço de Spartak Moscovo e Anderlecht, antes de terminar a carreira no final da época passada.