Inicia-se esta sexta-feira mais uma edição do Campeonato da Europa de sub-21, que, em boa verdade, é mais um torneio de sub-23, visto que os jogadores que iniciam a qualificação com 21 anos podem ainda jogar a fase final, praticamente dois anos depois. Ao contrário de outros torneios de futebol jovem, este Euro sub-21 é uma prova na qual aparecem muitos jogadores já estabelecidos entre a elite do futebol mundial. Bruno Fernandes, Renato Sanches, Asensio, Saúl Ñíguez, Dahoud, Max Meyer, Donnarumma, Berardi, Gagliardini, Patrick Schick, Ward-Prowse, Zivkovic, Linetty, entre muitos outros, já são nomes (e caras) bem conhecidos do grande público, buscando agora alcançar a glória na última etapa antes da transição (para muitos, definitiva) para as respetivas seleções principais.

A seleção portuguesa, atual vice-campeã europeia, volta a marcar presença no certame e estará integrada no Grupo B, juntamente com a temível seleção espanhola, com a sempre respeitável Sérvia e ainda com uma estreante nestas andanças, a Macedónia. O objetivo da formação orientada por Rui Jorge passa, numa primeira instância, por garantir o apuramento para as meias-finais. Porém, as dificuldades para atingir um lugar entre os quatro melhores do torneio adensam-se de forma considerável nesta competição, visto que com um aumento de quatro equipas face ao modelo das últimas edições (passagem de oito para 12 equipas), apenas os três primeiros classificados de cada grupo asseguram automaticamente o apuramento para a fase seguinte, sendo que o outro lugar será atribuído ao melhor dos segundos classificados.

Uma equipa de nível para combater a poderosa «armada espanhola»

O selecionador português escolheu 23 jogadores com experiência considerável de primeiro escalão e alguns já com participação em competições europeias. Isto para não falar daqueles que somam internacionalizações pela seleção principal, como o campeão europeu Renato Sanches, João Cancelo, Rúben Neves, Ricardo Horta e Gonçalo Guedes, entre outros elementos que já fizeram parte de convocatórias como Bruno Varela ou Bruma.

Depois de ter realizado uma fase de apuramento imaculada, com oito vitórias e apenas dois empates em dez partidas, o conjunto das Quinas entra neste torneio com a responsabilidade de lutar pela melhor classificação possível. O facto de ter chegado à final na última edição acaba por ser um fator de pressão acrescida para os pupilos de Rui Jorge, embora este grupo apresente várias alterações face à equipa derrotada pela Suécia após um desempate por penáltis, em Praga.

O técnico dos sub-21 portugueses costuma alternar entre dois sistemas táticos, dependendo da circunstância e das características do adversário. Nos jogos mais difíceis, tem partido de um 4-4-2 losango (ou 4-3-1-2, como no último Europeu), tendo optado pela utilização do 4-3-3 em boa parte dos jogos de qualificação, tanto jogando com um ponta-de-lança mais fixo (como André Silva ou Gonçalo Paciência), como optando com um atacante com caraterísticas de maior mobilidade. Portugal é uma equipa marcadamente ofensiva, ainda que nos duelos mais competitivos (o que, à partida, se verificará pelo menos no embate frente à Espanha) possa ter de jogar um pouco mais recuada, buscando estimular saídas rápidas e jogadas de contra-ataque.

O primeiro obstáculo que a turma lusa terá diante neste Europeu será a seleção da Sérvia (sábado, a partir das 17 horas). Uma equipa reforçada pelo talento e irreverência de jogadores que já fazem parte dos plantéis de alguns clubes de nomeada no futebol europeu. O benfiquista Andrija Zivkovic será porventura a maior referência em termos técnicos de uma equipa que conta ainda com a classe de Marko Grujic (Liverpool), o critério com bola de Nemanja Maksimovic (médio já assegurado pelo Valência para as próximas temporadas) e a eficácia dos avançados Uros Djurdjevic (Partizan) e Ognjen Ozegovic (Cukaricki). Defensivamente, a equipa sérvia pode sofrer, sobretudo se os adversários atacarem a profundidade com incisão. No entanto, atenção ao central Nikola Milenkovic, de 19 anos, já garantido pela Fiorentina na sequência de uma época notável no Partizan e ao lateral-direito Milan Gajic, titular da seleção campeã do mundo de sub-20 em 2015 e já a militar nos franceses do Bordéus.

Três dias depois da estreia frente aos sérvios, em Bydgoszcz, viagem até Gdynia para aquele que será, em teoria, o jogo mais complicado da primeira fase do Europeu. O confronto com a vizinha Espanha tem tudo para ser épico, até pela tremenda qualidade do grupo orientado por Albert Celades. Asensio, Saúl, Deulofeu, Bellerín, Marcos Llorente, Denis Suárez, Sandro Ramírez, Jesús Vallejo, Jonny Castro, entre outros, são razões suficientes para que a Seleção Nacional fique em alerta. Apesar da abundância de jovens talentos, nem tudo foram rosas na qualificação para o Campeonato da Europa: a Roja apenas conseguiu carimbar um lugar na prova polaca na sequência de um «play-off» perante a Áustria. Qualidade técnica existe de sobra, embora os processos de jogo possam ainda sofrer alguns melhoramentos (sobretudo na forma como a equipa se descompõe atrás quando o adversário suplanta uma primeira barreira de pressão). Ajustes que sendo executados a tempo deste torneio, tornam esta Espanha na principal favorita à conquista do título.

Por último, e de novo no Gdynia Stadium, Portugal defronta a debutante seleção macedónia, na sexta-feira 23, a partir das 19h45. Os balcânicos podem soar a adversário acessível, mas uma equipa que consegue apurar-se diretamente para um Europeu, ficando à frente de seleções como a França ou a Islândia tem de ser levada a sério. O criativo David Babunski (colega do português Hugo Vieira nos japoneses Yokohama F-Marinos), os atacantes Marjan Radeski e Kire Markoski, o diamante Eljif Elmas (de 17 anos, associado recentemente ao Benfica) e o médio goleador Enis Bardhi (dos húngaros do Újpest) são claramente as individualidades a ter mais em conta, numa equipa que se destaca pela solidez no processo defensivo (onde imperam os centrais Zajkov e Velkoski) e pelo aproveitamento da mobilidade e recursos técnicos dos elementos da zona avançada.

Os restantes grupos e as principais figuras de cada equipa

O Grupo A apresenta quatro equipas distintas, mas todas com focos de interesse significativos: a anfitriã Polónia, a atual campeã em título, Suécia, a sempre competitiva Inglaterra (a tentar capitalizar um momento áureo no futebol jovem) e a técnica Eslováquia, que irá participar num Euro sub-21 pela segunda vez na história.

A Polónia entra para o «seu» torneio com um plantel bastante decente e que poderia ter ainda mais qualidade (não fosse o Nápoles ter-se recusado a ceder Zielinski e Milik). Com o médio Karol Linetty, titular da Sampdoria e com experiência na seleção principal, como figura de proa, a seleção de Marcin Dorna é uma incógnita sobretudo pelo enquadramento que alguns jogadores terão nesta equipa. O talentoso Bartosz Kapustka vem de uma época de escassa utilização no Leicester, mas será à partida um dos jogadores-estrela do conjunto polaco, bem como móvel e efetivo Dawid Kownacki (avançado do Lech Poznan), o mordaz Mariusz Stepinski (Nantes), o criativo Patryk Lipski (que terminou contrato com o despromovido Ruch Chorzow, devendo viver aventura no estrangeiro depois deste Europeu) ou o lateral-direito Tomasz Kedziora (Lech Poznan), combativo e disponível para fazer todo o corredor.

A Suécia e a Inglaterra serão, numa primeira abordagem teórica, as favoritas a seguir em frente neste primeiro agrupamento. Os campeões europeus apresentam uma lista de jogadores atraente, apesar de a linha defensiva atual não parecer tão sólida quanto a de 2015. Com uma base constituída por jogadores que atuam maioritariamente no campeonato local, os suecos têm de confiar na visão de jogo do médio empreendedor Kristoffer Olsson (AIK), nas subidas astutas do promissor lateral-direito Linus Wahlqvist (Norrköping), nos desequilíbrios criados pelos virtuosos alas (Simon Tibbling, Niclas Eliasson ou Muamer Tankovic) e na capacidade de finalização de uma frente ofensiva respeitável (com titulares da Allsvenskan, como Pawel Cibicki ou Gustav Engvall).

Já a seleção dos Três Leões, galvanizada pelos sucessos recentes das equipas de sub-20, no Mundial da categoria e no famoso Torneio de Toulon, parte com uma responsabilidade histórica e moral para este Campeonato Europeu. Enquanto elementos como Redmond, Chalobah, Ward-Prowse, Targett, Chambers ou Will Hughes repetem a presença de há dois anos, craques como o avançado Tammy Abraham, o médio criativo Lewis Baker ou o promissor guardião Jordan Pickford farão a estreia nesta prova, motivados pela época de excelência que rubricaram nos respetivos clubes. O apuramento correu particularmente bem a uma seleção inglesa, que nos jogos de preparação mais recentes mostrou também alguns indicadores bem positivos…

Finalmente, surge a quarta classificada na edição de 2000, a Eslováquia, a viver uma segunda experiência neste torneio. Com o promissor médio-atacante László Bénes, do Borussia Mönchengladbach (também apelidado de «novo Marek Hamšík» pela imprensa eslovaca), como principal figura, a equipa de Pavel Hapal chega à Polónia motivada por uma fase de qualificação consistente, na qual bateu oponentes de respeito como a Holanda ou a Turquia. Além de Bénes, outros internacionais A como Milan Škriniar (Sampdoria), Albert Rusnák (Real Salt Lake), Stanislav Lobotka (Nordsjælland) ou Matúš Bero (Trabzonspor) baixaram um escalão para poder ajudar a Eslováquia a repetir, como mínimo, o feito de há 17 anos…

As poderosas Itália e Alemanha perante dois desafios duros

No Grupo C, as expectativas a nível de espetacularidade estão bem em alta, sobretudo pela presença de dois «habitués» nestas andanças, a Itália e a Alemanha, ainda para mais reforçados com jogadores das respetivas seleções seniores.

A jovem Squadra Azzurra, orientada pelo antigo médio e internacional italiano Luigi Di Biagio, apresenta um dos planteis mais atrativos do torneio, com vários nomes que se destacaram na última temporada na Série A. O «onze» provável impõe respeito: Donnarumma; A. Conti, Caldara, Rugani, Barreca; Cataldi, Gagliardini, Pellegrini; Bernardeschi, Petagna, Berardi. Vários destes elementos já se estrearam pela seleção principal, o que evidencia a qualidade quase ilimitada do grupo italiano. Os perigosos e incisivos extremos Federico Bernardeschi (Fiorentina) e Domenico Berardi (Sassuolo) são as duas figuras de maior potencial, numa equipa que contará ainda com o critério dos médios Roberto Gagliardini (Inter) e Lorenzo Pellegrini (Sassuolo). De destacar, a presença de jogadores que estiveram na brilhante campanha da Atalanta na temporada 2016/17 e de jovens promessas do futebol italiano a dar os primeiros passos no escalão profissional (como Manuel Locatelli ou Federico Chiesa, para não falar da maior promessa mundial das balizas, Gigi Donnarumma).

Quanto à Mannschaft, procura esquecer o trauma da última participação, na qual falhou o acesso à final, vergada a uma derrota histórica e humilhante face a Portugal (0-5). O selecionador Stefan Kuntz tem tentado seguir o exemplo do treinador da seleção principal, Joachim Löw, e adotou um sistema com três defesas nos últimos encontros de preparação. Restam dúvidas quanto à utilização do recente 3-5-2  em solo polaco, mas é mais uma alternativa tática em equação. A qualidade que esta equipa possui do meio-campo para a frente (com jogadores como Mahmoud Dahoud, Max Meyer, Serge Gnabry, Maximilian Arnold, Nadiem Amiri, Maximilian Philipp ou Davie Selke) entusiasma claramente, mas as dúvidas defensivas dos últimos testes mantêm-se (ainda para mais adensadas pela lesão de última hora do central Jonathan Tah).

Fora do quadro dos teóricos favoritos à conquista do troféu, mas com duas listas de convocados de muito nível, estão as seleções da República Checa e da Dinamarca. A representação checa, com o proeminente goleador Patrick Schick, praticamente garantido pela Juventus e outros jogadores com titularidades recentes na seleção principal, como Antonín Barák, Tomáš Souček ou Jakub Jankto, chega a este torneio com a certeza de que terá de ser uma equipa solidária atrás e com uma tremenda eficiência no ataque para se superiorizar a transalpinos e alemães. Já a Dinamarca, depois de uma fase de apuramento espetacular (com 28 pontos conquistados em 30 possíveis), apresenta uma das gerações de jogadores mais entuasiamantes dos últimos anos. Nomes como Andrew Hjulsager (Celta), Christian Nørgaard (Brøndby) ou Lasse Vigen Christensen (Fulham), médios de reconhecida capacidade tática e técnica, já são figuras de proa desta equipa, enquanto elementos como o lateral ofensivo Rasmus Nissen, o médio criativo Mikkel Duelund (ambos do Midtjylland) e o profícuo atacante do Nordsjælland, Marcus Ingvartsen, procuram lançar-se numa rampa de sucesso rumo à elite do futebol europeu.

Tudo resumido, podemos esperar uma prova sensacional, ainda para mais num novo modelo competitivo, que irá obrigar as 12 integrantes deste torneio a irem ao limite para garantir uma vaga nas meias-finais. Que a bola comece a rolar (e as promessas a reluzir)!