A 'World Cup Experts Network' reúne órgãos de comunicação social de vários pontos do planeta para lhe apresentar a melhor informação sobre as 32 seleções que vão disputar o Campeonato do Mundo. O Maisfutebol representa Portugal nesta iniciativa do prestigiado jornal Guardian. Leia os perfis completos das seleções que participarão no torneio:

Autores dos textos: Pablo Benítez e Jorge Señorans
Parceiro oficial no Uruguai: El Observador
Revisão: Vítor Hugo Alvarenga


Quando Óscar Tabárez iniciou o segundo legado como selecionador do Uruguai, garantiu de forma inequívoca que a sua equipa iria jogar num tradicional 4-3-3. Porém, uma pesada derrota na Copa América de 2007 frente ao Peru (0-3) justificou uma maior flexibilidade nos seus conceitos.

O atual Uruguai não é uma equipa que goste de dominar no capítulo da posse de bola, não assenta o seu jogo nessa ideia. Porém, tem as suas qualidades. A equipa é forte na defesa, na marcação a meio-campo e com um contra-ataque letal. As suas principais estrelas jogam nas posições ofensivas e a capacidade de penetração faz da seleção um perigo frente a qualquer adversário, sobretudo nos flancos. O Uruguai deixou de jogar com um organizador puro pelo centro.

Tabaréz gosta de preparar as suas equipas tendo em conta os pontos fortes dos adversários. De qualquer forma, e sabendo que tudo pode mudar nas próximas semanas, o Uruguai deve estrear-se no Mundial com um 4-4-2: Fernando Muslera na balize; Maximiliano Pereira, Diego Lugano, Diego Godín e Martín Cáceres na defesa; Cristhian Stuani, Arévalo Ríos, Walter Gargano e Cristian Rodríguez a meio-campo e a dupla formada por Edinson Cavani e Luis Suárez na frente. Se Suárez não recuperar – e isso parece improvável face à gravidade da lesão – a primeira alternativa é Diego Forlán.

A opção mais defensiva passa pela entrada de Álvaro González no onze, em vez de Stuani, o que daria ao meio-campo um pendor mais defensivo. Aliás, isso pode mesmo acontecer nos jogos mais complicados frente a Inglaterra e Itália.

Este foi o onze mais utilizado por Tabárez nos últimos jogos de qualificação, embora o treinador tenha apresentado ligeiras variações, como uma linha com três defesas contra a Colômbia (derrota por 0-4, portanto não resultou) e Suárez, Cavani e Forlán juntos no ataque, com Forlán a baixar no terreno para alimentar o jogo.

Que jogador pode surpreender no Campeonato do Mundo?
Uma pergunta difícil de responder. Uma das caraterísticas deste Uruguai – é tanto uma força como uma fraqueza – é a estabilidade e o facto de cada um saber onde e como jogador. Tabárez não gosta de surpresas, prefere um trabalho continuado e estruturado. Tendo isso em conta, fica a referência para Nicolás Lodeiro (do Corinthians, Brasil). Se jogar, tanto como um ‘playmaker’ recuado ou médio esquerdo, pode emprestar muita qualidade à equipa.

E que jogador pode desiludir as pessoas no torneio?
O capitão, Diego Lugano, enfrenta um desafio enorme: aos 33 anos, a sua melhor fase já parece ter passado, embora Diego continue a ser um elemento fundamental e um líder no balneário. Ele terá de desafiar as probabilidades para provar que continua a ser o mesmo jogador.

Qual é a expetativa real para a seleção no Mundial?
A recuperação de Luis Suárez é fundamental. Se ele estiver em forma, Uruguai tem maturidade para enfrentar tudo e todos. Dependendo do sorteio, o cenário lógico é que o Uruguai chegue aos quartos-de-final do Mundial.




Curiosidades e segredos da seleção

Diego Forlán
O número 10 por acidente! Claro que há outros factos escondidos no grupo, mas todos sabem que Forlán mudou o seu número na Celeste. Ele jogou com a camisola 10 no Mundial de 2010 mas não gostava. «Quando a qualificação começou, não deixavam usar números altos portanto o responsável de equipamentos disse-me que o meu 21 estava fora de hipóteses. Tinha de ser até ao 18. O 9 estava livre mas não gosto, o 7 era de Cristián Rodríguez e lá disse que ficava com o 10. Mas custou-me porque normalmente o número 10 é outro tipo de jogador, alguém que te inspira. Mas agora já me habituei à ideia.» 

As superstições
Todas as equipas as têm. No Uruguai, passam por ouvir a música folk escolhida por Scotti e Abreu enquanto bebem o mate pela manhã. Usar as mesmas roupas. Respeitar os lugares que ocupam no autocarro e no momento de entrada no balneário. No caminho entre o autocarro e o balneário, ouvem o hino nacional cantado por El Zurdo Bessio.

Óscar Tabárez
Na seleção nacional, até El Maestro, o treinador Óscar Tabaréz, tem o seu papel quanto toca a superstições. «Eu não sou supersticioso no futebol é inevitável fazer coisas de uma certa forma. Se os jogadores acreditarem que eu tenho de usar uma certa gravata para vencermos, eu uso.» Por isso, olhem para o que o selecionador terá ao pescoço no jogo de estreia frente à Costa Rica.

Perfil de uma figura da seleção: Egidio Arévalo Ríos
 
Egidio Arévalo Ríos não tem o talento e imagem de Luis Suárez, Diego Forlán ou Edinson Cavani. Mas ele representa na perfeição os valores do jogador uruguaio: humildade, ‘low profile’, garra e empenho.
Com a alcunha de El Cacha [a ponta de uma faca], o médio de 32 anos é crucial na recuperação de bolas e na distruição sem erros. Edigio acaba de ser contratado pelo Tigres do México após um período de empréstimo ao Monarcas de Morelia no mesmo país.
Nascido na cidade costeira de Paysandú, começou a jogar no Bella Vista daquela cidade. «Recebia por cada jogo ganho, e não ao mês como em Montevideo», explicou ele numa entrevista ao El Observador.

Enquanto não ganhava o suficiente com o futebol, Edigio Rios fez coisas como ser pintor ou assenter tijolos com o seu pais. Pelo caminho, ele estudou carpintaria, embora fosse comum faltar às aulas.

Em 2006, o médio foi chamado pela primeira vez à seleção do Uruguai. Porém, como o salário era baixo para comprar um carro, chegou ao primeiro treino de autocarro. Nesse mesmo ano, Edigio assinou pelo Peñarol e evoluiu ainda mais como jogador.

A popularidade crescia mas o médio tinha algumas caraterísticas inusitadas. «Não tenho e-mail, não sou adepto de computadores nem uso livros.» Entre 2007 e 2010, o jogador foi contratado por dois clubes do México (primeiro Monterrey, depois San Luis) mas não se conseguiu afirmar fora do seu país.

No regresso ao Peñarol, garantiu o título uruguaio e foi chamado para o Mundial da África do Sul. Edigio Ríos acumulou exibições notáveis, embora o seu brilho tenha sido ofuscado por Forlán ou Suárez. No ano seguinte, saiu do Uruguai. Representou o Tijuana (México), Palermo (Itália), Chicaro Fire (Estados Unidos) e Morelia (México). Vai continuar na Liga mexicana, agora ao serviço do Tigres.

Edigio é sobretudo um jogador de seleção e os desempenhos ao service do Uruguai demonstram isso mesmo. Chega ao Mundial de 2014 com mais de 50 internacionalizações e, hoje em dia, já aparece nas concentrações da seleção no seu próprio carro.