O Porto confirmou o estatuto de líder milionário. Cumpriu exemplarmente o milésimo dia no topo da Liga, numa exibição que só entusiasmou pelos golos e o remate ao poste de Mariano. Pelo meio houve alguns erros defensivos, mais fragilidades notórias de Benitez e Sapunaru e a certeza de que Hulk já merece ter lugar no onze, relegando Cristian Rodriguez para o banco.
A vitória por dois golos de vantagem é incontestável, pela superioridade natural do tricampeão nacional, embora o Belenenses tenha criado alguns sobressaltos, concretamente nas bolas paradas. Isto porque a equipa de Jesualdo Ferreira continua a revelar desconcentração no sector mais recuado. Ninguém consegue impor-se no jogo aéreo, nem mesmo Bruno Alves, e o Belenenses soube explorar essas fragilidades, através de cantos enviados para a zona de grande penalidade, onde invariavelmente surgia um jogador a superiorizar-se aos dragões.
Ainda assim, os portistas responderam com eficácia à vitória de Sporting e Sp. Braga, não se ficando pela vantagem magra. Ou seja, na liderança estão todos iguais [ndr: à hora em que escrevo ainda não terminou o Rio Ave-Benfica].
Quaresma, quem é?
No Dragão já não há quem se deixe levar pelas fantasias de «Harry Potter». Como diz Valdano, quando um jogador quer sair, já todos nos despedimos dele. Quaresma tem a cabeça no Inter e os adeptos já retiraram a palavra do dicionário. Quaresma no Dragão só durante os 40 dias que antecedem a Páscoa.
Em campo surgem agora outros nomes, como Mariano González, que não é malabarista, nem velocista, mas é inteligente e possui grande visão de jogo. Confiante nas suas qualidades, o argentino aproveitou o alento de ser convocado para a selecção e arrancar mais uma exibição muito positiva, que o tornam absolutamente imprescindível. Para a história fica um golo, logo aos 14 minutos, e um remate ao poste aos 43. Nota-se que ainda não tem a condição física ideal, por isso nunca vai à linha cruzar, nem aceita passes para o espaço vazio.
Em todo o caso, Mariano está uns furos acima de Cristian Rodriguez, que, apesar de ter a atitude certa, ainda não conseguiu habituar-se aos ares do Dragão. Talvez por se esperar muito dele, o uruguaio nem sequer está a justificar a chamada ao onze. Algo que Hulk persegue com avidez. E se mais provas faltassem, ai está mais um golo espectacular, um portento de força e colocação, que deu ao F.C. Porto uma vantagem mais interessante no arranque da Liga.
Raul recua
Com Guarin no banco, Tomás Costa ganhou lugar na equipa inicial, fazendo recuar Raul Meireles para a posição 6. Jesualdo cedeu às evidências e viu o que muita gente já tinha sugerido. O meio-campo passou a ser mais fluido, combativo e eficaz. Mas o problema passou para Tomás, que tem de fazer mais para justificar a aposta, dado que Guarín apresenta argumentos para alinhar numa posição mais adiantada, ao lado de Lucho, tal como sucedeu nos minutos finais.
Este campeão continua, porém, com muitas dúvidas e passa-se grande parte do jogo a perceber o que poderia correr melhor. Não é só Rodriguez ou a posição 6, mas sobretudo a estabilidade defensiva, porque Sapunaru e Benitez tremem muito e não dão segurança.
Fragilidades exploradas ao máximo pelo Belenenses, uma equipa sem chama e personalidade alterada. A experiência de Zé Pedro, Silas ou Cândido subsiste, embora o prato da balança se desequilibre perante as inúmeras entradas de desconhecidos. Perigo, só nas tais bolas paradas. A estratégia de Casemiro Mior residia nessa aposta e quando havia alguma esperança, Carciano estragou tudo e foi expulso. Os vinte minutos finais transformavam-se em passeio para os dragões, que aproveitaram para massacrar e ampliar a vantagem, deixando uma sensação de fulgor que realmente nunca existiu. Ainda há muito trabalho para fazer.