Jesualdo Ferreira já conviveu de perto com as imposições da religião muçulmana, quando trabalhou no norte de África, e foi o primeiro a dar o seu apoio a Tarik. «Não vai haver nenhuma alteração profunda no trabalho dele, embora o acompanhamento da estrutura médica e técnica possa ser um pouco diferente. Eu próprio já passei por essa experiência e sei como funciona», referiu o técnico, antes da recepção ao Marítimo, primeiro jogo no ciclo do Ramadão.
No embate com a formação insular, Tarik Sektioui começou a criar uma imagem de marca que pretende agora apagar. O avançado provou ter capacidade para criar importantes desequilíbrios ao longo da primeira parte, acabando invariavelmente por ser preterido ao intervalo. Dias depois, frente ao Liverpool, conquistou uma grande penalidade e ainda aguentou pouco mais de uma hora, mas as dificuldades acentuaram-se com a sobrecarga de jogos. Aliás, o internacional marroquino não completou nenhum jogo desde o início do Ramadão, tendo falhado o embate com o Fátima e assistido ao triunfo frente ao P. Ferreira a partir do banco, entrando na recta final do encontro.
Jesualdo Ferreira procurou gerir o esforço do jogador mas manteve a confiança no seu trabalhado, com constantes chamadas ao onze. «Ele ficou muito feliz por perceber que o treinador respeita a sua religião e não perdeu confiança no seu trabalho», começa por dizer o empresário de Tarik, Chiel Dekker, ao Maisfutebol: «Continuou a jogar, apesar de estar a atravessar esse período complicado e, agora que termina o Ramadão, vai jogar ainda melhor.»
«O Tarik está num momento muito feliz da sua carreira, sente-se bem, está satisfeito com a sua vida e tem todas as condições para continuar a ser titular do F.C. Porto. Está adaptado ao país, às pessoas, ao clube e até já está à vontade com a língua portuguesa», lembra o representante do jogador, frisando que este está habituado a cumprir o Ramadão há vários anos. A Aid el Fitr, grande festa que assinala o final do jejum sagrado, tem o seu apogeu marcado para o próximo sábado.
Chiel Dekker tem acompanhado a evolução de Tarik à distância, desde a Holanda, recebendo notícias em contactos permanentes com o extremo, de 30 anos. Nos últimos dias, após a vitória tangencial em Coimbra, frente à Académica (0-1), o empresário ficou a saber que o seu jogador falhara um dos golos mais fáceis da carreira. «Não tive a oportunidade de ver o lance, mas ele ligou-me e explicou-me: 'Nem vais acreditar, mas cometi um grande erro em Coimbra. Falhei um golo à boca da baliza, nem sei como fiz aquilo'. Mas isso acontece a todos os jogadores, ele não ficou afectado e só pensa em reforçar a sua importância na equipa, agora que pode voltar a alimentar-se durante todo o dia», concluiu Dekker.