Uma entrada fulgurante no jogo, com pressão alta aplicada em momentos estratégicos, fazendo o Bayern cometer erros diretos na sua zona mais recuada, esteve na base de uma das melhores noites europeias na história do FC Porto. A vitória por 3-1 sobre o Bayern de Munique está muito longe de resolver a eliminatória, mas é um grande resultado, a coroar uma noite em que quase todas as apostas dos dragões bateram certo. Os números da análise feita em exclusivo para o Maisfutebol pelo Centro de Estudos do Futebol da Universidade Lusófona identificam claramente algumas delas.

A primeira foi a titularidade de Jackson Martinez. Ausente dos relvados há 39 dias, o colombiano veio desempenhar um papel fundamental na estratégia de Lopetegui. Não apenas pela bola que roubou a Xabi Alonso, logo no segundo minuto, ganhando o penálti que começou a desenhar a história do jogo. Não apenas pelo golo de classe que marcou na segunda parte, beneficiando do erro de Boateng. Mas também por tudo aquilo que ficou no meio: o notável trabalho de pressão defensiva sobre Xabi Alonso, retirando ideias e clareza ao início de construção dos alemães.



Esta ideia pode ser confirmada por este gráfico, que aponta para o Bayern uma percentagem invulgar de bolas perdidas nas duas primeiras fases de construção (9 por cento), isto é, na zona onde a baliza de Neuer está mais exposta. Foi assim que nasceu também o segundo golo, pelo mérito de Quaresma na pressão a um dos pontos fracos deste Bayern, o critério na saída de bola de Dante. O extremo portista terá feito uma das melhores exibições da sua carreira, pelo que desequilibrou na frente, mas principalmente pelo que equilibrou a equipa com as movimentações sem bola.

Mas o gráfico sinaliza também outra característica importante do jogo: a eficácia quase total do FC Porto no aproveitamento desses erros. O FC Porto só perdeu 24 por cento das bolas nas situações em que chegou perto da área de Neuer, um valor mais baixo do que o normal. E isso pode também ser atestado pelo baixo número de remates da equipa de Lopetegui em toda a partida: uma eficácia de três golos em oito tentativas (cinco na primeira parte, três na segunda) é invulgarmente alta para um jogo com estas características.



O outro lado da moeda vê-se nas dificuldades sentidas pelo Bayern em levar a bola até à área de Fabiano, à exceção dos últimos 20 minutos da primeira parte, altura em que encurtaram distância no marcador e chegaram a dar a sensação de terem o jogo novamente ao seu alcance. Mas o excelente recomeço portista, repetindo a receita da pressão adiantada para matar o carrossel à nascença, devolveu o jogo aos padrões iniciais e permitiu ainda ao Dragão uns 15 minutos com mais posse de bola, o que ajudou a equipa a chegar ao fim ainda com algumas reservas de energia.

Raramente a equipa de Guardiola terá chegado ao fim de 90 minutos com apenas cinco remates tentados. E isto apesar de ter registado números próximos dos habituais na posse de bola (61% contra 39% dos dragões) e no número de passes com êxito (514 contra 198). Simplesmente, a referida vigilância de Jackson a Xabi, mais a pressão de Quaresma – e também Brahimi – sobre as saídas laterais manteve quase sempre essa posse em zonas que faziam pouca mossa ao dragão.



A dificuldade sentida pelo Bayern para recorrer ao jogo interior praticamente retirou Lewandowski do jogo – Götze foi quase inexistente, e só com Rode houve melhorias na circulação. Ainda assim, mesmo cometendo um número baixo de faltas (16 contra 22 do Bayern) o FC Porto não conseguiu evitar que dois dos seus jogadores em risco, Danilo e Alex Sandro, vissem o cartão amarelo que os afasta do segundo jogo.

Terá sido esse o único aspecto negativo de uma noite em que a eficácia do dragão casou na perfeição com as ofertas bávaras: além das duas bolas roubadas para os dois primeiros golos, o 3-1 nasce de uma interceção falhada de Boateng, que para culminar a noite desastrada dos centrais, obrigou ainda Neuer à defesa da noite, quando desviou para a própria baliza um cruzamento de Danilo na direita.

A fechar, uma referência aos lances de bola parada: também aí o desacerto do Bayern foi gritante, com dez situações ofensivas, entre livres laterais e cantos, para apenas uma finalização, por sinal logo no início do jogo. Do lado portista, o acerto não foi muito maior (seis situações, um remate), numa noite em que o jogo foi sendo decidido por outros fatores – quase todos pintados de azul e branco.