O remate de Diogo Jota para o fundo das redes de Ederson foi o último festejo dos adeptos portistas. Desde o 50.º minuto do clássico que o FC Porto não voltou a marcar. A situação é de tal forma atípica que a equipa de Nuno Espírito Santo bateu um recorde negativo: há 430 minutos que o FC Porto não faz um golo. 430 minutos; nunca se viu nada igual em toda a história portista.

No início da época 1988/89, com Quinito no comando técnico, os dragões estiveram também quatro jogos sem marcar, mas menos minutos: 401 – o prolongamento frente ao Chaves e o remanescente do jogo contra o Benfica ajudam a explicar a diferença.

A seca, porém, teve consequências no comando técnico da equipa, com o despedimento de Quinito ao quarto jogo sem vencer e sem marcar.

As situações são, porém, distintas, como recordam ao Maisfutebol António Sousa e Domingos Paciência, que fizeram parte desse plantel portista dos finais da década de 80.

Nessa altura, o FC Porto tinha como opções para o ataque como Fernando Gomes, Rui Águas, Madjer e o jovem Domingos, então com 20 anos, na sua segunda época no plantel principal.

«Essa equipa tinha jogadores experientes em todos os setores. Tudo muito diferente das opções que o FC Porto tem hoje, onde faltam alguns jogadores maduros para darem moral e alento aos jovens com talento que a equipa tem. Por exemplo, o André Silva é um grande ponta-de-lança, tem um grande talento e uma margem enorme. É o futuro da seleção nacional, mas, lá está, te, arestas para limar devido à sua juventude. Falta-lhe ali dar o “clique”. Bem diferente é o caso do Depoitre, que está a deixar uma imagem bem diferente daquilo que até ele próprio estaria certamente à espera», argumenta António Sousa, enquanto Domingos lembra como, após a «chicotada», a equipa deu a volta à sequência de resultados no arranque de 1988/89 – 0-0 em casa na Supertaça frente ao V. Guimarães, 0-0 na Luz Benfica, 5-0 na segunda eliminatória da Taça dos Campeões Europeus e 0-0 em Fafe: «Na altura, soubemos reagir. Lembro-me que logo a seguir a essa série vencemos o PSV por 2-0 (depois de vencerem Vilafranquense e Leixões). Para o FC Porto o próximo jogo frente ao Sp. Braga é muito importante vencer para que os jogadores voltem a acreditar. Só os golos dão vitórias e só as vitórias dão confiança para consolidar a equipa.»

Domingos, pai de Gonçalo Paciência, cedido ao Olympiakos, um dos jogadores preteridos por Nuno Espírito Santo no defeso, salienta ainda que «esta equipa tem talento e já deu provas que consegue superar-se em alguns jogos: viu-se isso em particular contra o Benfica e contra a Roma».

Já António Sousa salienta que «o próximo golo pode representar um sinal de liberdade para os jogadores»: «Quando há uma sucessão de jogos sem fazer golos passa a haver desconfiança por parte de toda a gente. O FC Porto vive nesse momento de ansiedade. A falta de golos e os resultados notam-se em termos anímicos e psicológicos na equipa.»

Depois de quatro nulos consecutivos resta saber se a ansiedade da equipa de Nuno Espírito Santo começa a desvanecer no próximo sábado, diante do Sp. Braga, do seu antecessor José Peseiro.

Sporting de Marinho Peres tem a maior seca de golos 

No entanto, esta longa travessia do deserto em termos de produtividade que o FC Porto vive atualmente não é de todo inédita na história dos grandes.

O Benfica teve em três períodos da sua história três jogos consecutivos sem marcar qualquer golo. A pior e mais recente sequência aconteceu no final da época 2000/01, numa altura em que a equipa era orientada por Toni: terminou a temporada com dois empates, antecedidos por três derrotas seguidas – Sporting, 3-0, Alverca, 2-0, e Gil Vicente, 3-0 – sem marcar qualquer golo.

Antes desse período negro, os encarnados tiveram seca semelhante em setembro de 1994, ano em que Artur Jorge comandava a equipa. De novo três jogos, todos fora, sem fazer qualquer golo, mas aí com dois empates (FC Porto, 0-0 e Hadjuk Split, 0-0), intercalados por uma derrota com a União de Leiria (1-0). Três derrotas sem qualquer golo aconteceu também em outubro e novembro de 1957: Sporting (2-0), Belenenses (0-1) e Lusitano de Évora (4-0).

Por sua vez, o Sporting tem uma recente sequência em 2013/14, quando era treinado por Leonardo Jardim, com três nulos consecutivos. A saber: em jornadas da Liga frente a Nacional e Estoril, intercaladas com uma receção ao FC Porto para a Taça da Liga.

Em abril de 2006 nova seca de três nulos consecutivos, já com Paulo Bento no comando técnico: Naval (0-0), Estrela da Amadora (0-0) e FC Porto (0-1). Tal como em novembro de 2004, com José Peseiro: Rapid de Viena (0-0), Rio Ave (0-0) e Marítimo (0-1).

Há ainda mais oito sequências de três jogos sem marcar e recuando mais na história do clube de Alvalade é possível encontrar em março de 1986, com Manuel José no comando, uma série de quatro jogos em branco para os leões: FC Porto (0-1), Benfica (5-0), Marítimo (0-0) e Colónia (2-0).

No entanto, a pior seca de golos do Sporting e de um clube grande sem marcar golos aconteceu em abril de 1991, numa altura em que Marinho Peres era o treinador leonino. Cinco jogos: dois empates e três derrotas, zero golos. Inter (0-0 e 2-0), para a Taça UEFA, e no campeonato Farense (0-1), FC Porto (0-2) e Tirsense (0-0).