O Curso de Treinadores «UEFA Professional» - IV Nível arrancou nesta segunda-feira no Luso, mas sob suspeita. O processo de escolha dos candidatos é contestado por Helena Costa, seleccionadora feminina do Qatar, que avançou com um pedido de impugnação, ao abrigo do direito de petição.

«Estão em causa duas circunstâncias: em primeiro lugar os critérios de selecção, que não são igualitários em relação a treinadores e treinadoras; e em segundo lugar a eventualidade de existirem candidatos admitidos que não preenchem os requisitos», explicou Joaquim Loureiro, advogado de Helena Costa, ao Maisfutebol.

O representante legal da treinadora não quis adiantar detalhes do processo, por força do sigilo profissional, mas o nosso jornal apurou que as dúvidas começam logo nas condições de inscrição. O regulamento exige quatro requisitos: possuir o nível III do curso; treinar dois anos nos campeonatos nacionais; estar pelo menos um ano no activo após a conclusão do curso «UEFA Advanced»; não estar sob o efeito de nenhuma medida disciplinar grave ou muito grave. Fernando Couto, por exemplo, levanta interrogações que se estendem a outros candidatos. O director desportivo do Sp. Braga nunca assumiu a condição de treinador.

Preenchidas as condições de inscrição, os candidatos são ordenados de acordo com critérios de selecção também contestados. «É uma perfeita injustiça entre candidatos masculinos e femininos», defende Joaquim Loureiro, lembrando que apenas as internacionalizações pela selecção principal masculina contam. «Dizer que os critérios são igualitários é uma falácia. Os critérios não permitem a entrada de mulheres, e é por isso que nos últimos três cursos só entrou uma, que foi a seleccionadora Mónica Jorge», acrescentou o advogado.

Sentimento de injustiça nasceu em 2009

Esta não é a primeira vez que Helena Costa contesta a forma como são organizados os cursos de treinadores da Federação Portuguesa de Futebol. Em 2009 foi pedido um parecer à Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE), favorável à posição da treinadora. «A federação entendeu que dizer-se que não havia igualdade era uma injustiça. A Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) foi informada. A F.P.F. disse que tinha alterado os regulamentos. Passou a referir-se a treinadores e treinadoras, mas as competições femininas continuam a não contar», sustenta Joaquim Loureiro.

O advogado de Helena Costa entende que o pedido de impugnação «dificilmente vai alterar alguma coisa», mas defende que era altura de tomar uma medida. «O curso já começou, e a Profª. Helena está no Qatar, mas o mais importante é expressar a injustiça que ela sente, por não preencher os requisitos em igualdade com os colegas. Esta não é uma batalha de hostilidade, mas ela sente que o máximo que pode aspirar é ao III nível.»

O pedido de impugnação deu entrada na Federação Portuguesa de Futebol no final da semana passada, conforme confirmou fonte do organismo ao Maisfutebol. Joaquim Loureiro manifestou ainda a intenção de reportar o caso à CITE e à Secretaria de Estado do Desporto. Contactado pelo nosso jornal, o gabinete de Laurentino Dias garantiu não ter, para já, conhecimento oficial deste caso.