Alex Ferguson apresentou a sua autobiografia. O lançamento oficial será apenas na quinta-feira, mas as ideias mais fortes do livro já correm mundo. O treinador que se retirou no final da época ao fim de 26 anos no Manchester United não faz revelações bombásticas mas deixa uma série de histórias (e bastante veneno...) sobre muita gente. Basicamente, alguns dos grandes protagonistas do futebol internacional dos últimos anos. Cristiano Ronaldo, Beckham, Rooney, Roy Keane, Mourinho, Benitez, Wenger, por aí fora. Aqui ficam 10 das melhores momentos de «Alex Ferguson, a minha autobiografia». Que é, em rigor, uma biografia que começa em 1999, porque Ferguson já tinha escrito outro livro sobre o período anterior da sua vida.

Cristiano Ronaldo, o talento, um tiro, um estrangulamento e uma enxaqueca

São muitas as referências de Alex Ferguson a Cristiano Ronaldo. Antes de mais, esta: «Foi o jogador mais talentoso que treinei. Passou todos os outros grandes que treinei no United. E foram muitos.»

A história da contratação do português também vale a pena. Ferguson recorda o famoso jogo na inauguração do estádio de Alvalade, em Agosto de 2003. Começa por dizer que já no ano anterior Carlos Queiroz lhe tinha chamado a atenção para o jovem talento do Sporting. E diz que nesse jogo, ao intervalo, mandou o roupeiro chamar Peter Kenyon. Quando este lhe perguntou se o miúdo valia mesmo a pena, Ferguson respondeu assim: «O John O’Shea acabou com enxaqueca. Contrata-o!»

O carinho de Sir Alex por Ronaldo fica claro no livro. Na parte em que relata como recusou vendê-lo ao Real Madrid em 2008 e disse que preferia dar-lhe um tiro a deixá-lo sair naquela altura, mas não só. Também lembra o regresso de Ronaldo a Old Trafford este ano, nos oitavos de final da Liga dos Campeões, e o golo decisivo do português: «Não celebrou o golo. O que está bem, porque eu tê-lo-ia estrangulado. Não houve problemas nenhuns com ele. É muito bom rapaz.»

A bota e Beckham, que «pensava que era maior que o treinador»

O episódio da bota, pois, que representou o fim da linha para Beckham no United. Conta Ferguson, num capítulo de 11 páginas dedicado ao médio, que confrontou Beckham no balneário com os erros que cometeu depois de uma derrota com o Arsenal para a Taça, em 2003: «Ele estava a 3,5 metros de mim. Entre nós no chão estava uma fila de botas. O David praguejou. Dirigi-me a ele, e ao aproximar-me pontapeei uma bota. Acertou-lhe mesmo por cima do olho. Ele levantou-se para se atirar a mim e os outros jogadores impediram-no. No dia seguinte a história estava na imprensa.»

«Foi por esses dias que disse à direção que o David tinha de sair. O David achava que era maior que Alex Ferguson. Não tenho dúvidas sobre isso. Não interesse se é o Alex Ferguson ou Pete, o canalizador. O nome do treinador é irrelevante. O que conta é a autoridade. Não podemos deixar um jogador tomar conta do balneário», escreveu Sir Alex. Hoje, na apresentação do livro, diz que o problema de Beckham «foi apaixonar-se pela Victoria»: «Isso mudou tudo.»

Rooney que queria Ozil e não aprende muito depressa

Wayne Rooney também tem um capítulo só para ele. Alex Ferguson conta como o inglês quis deixar o clube em 2010, e acredita que foi instrumentalizado pelo empresário. «Nessa reunião, que foi em outubro, ele foi muito hostil. Senti que tinha sido programado para dizer o que dizia. A base da queixa era que não éramos suficientemente ambiciosos. Disse-lhe que dizer que não éramos ambiciosos não fazia sentido. E o Wayne disse que deviamos ter tentado contratar o Ozil (que tinha ido para o Real Madrid).»

Noutro excerto, mais um pouco de veneno sobre Rooney: «Não era muito rápido a aprender, mas tinha um instinto natural para jogar o jogo. Num exercício no treino não absorvia novos métodos ou ideias depressa.»

Mourinho, o vinho e a reforma

Alex Ferguson admite que ficou mal impressionado quando José Mourinho chegou a Inglaterra intitulando-se «Special One», mas descreve uma relação de aproximação e de respeito pelo treinador português. Conta também que a tradição de beberem vinho juntos começou depois de o FC Porto eliminar o Manchester United em 2004. E, sem fazer revelações sobre se chegou a indicar José Mourinho para seu sucessor, admite que conversou com o português sobre a sua retirada, em 2008. Ao que Mourinho lhe respondeu, conta Fergie: «Não te retires, tu motivas-me.»

Van Nistelrooy, o pontapé a Ronaldo e o insulto a Fergie

Ferguson revela que Van Nistelrooy saiu do United, em 2006, depois de o ter insultado em pleno banco, quando ele lhe disse que ia ficar no banco na final da Taça da Liga. «O Carlos Queiroz virou-se contra ele. Ficou feio no banco.»

Mas conta ainda que o holandês mudou nessa época, não sabe porquê. E que implicava com Cristiano Ronaldo. Uma vez, num treino, pontapeou o português, relata Ferguson, e disse-lhe: «Que vais fazer? Queixar-te ao papá?»

Falava de Carlos Queiroz. Mas Cristiano Ronaldo tinha perdido o pai há pouco e o comentário afectou-o. «Todo o episódio foi muito triste. Não sei por que razão o Rudy mudou.»

Roy Keane, a língua e os olhos assustadores

Um ódio duradouro. Ferguson e o intempestivo Keane sempre chocaram. A ruptura começou, conta o treinador, com as críticas do irlandês às condições de um estágio do United em Vale do Lobo, no Algarve, e consumou-se depois de uma famosa entrevista de Keane à televisão do clube em que criticava muitos dos companheiros de equipa. A entrevista nunca foi publicada, Ferguson confrontou Keane com o que ele disse. E não foi bonito, conta. «Naquele dia quando comecei a discutir com ele notei que os olhos dele começaram a ficar finos, dois riscos negros. Foi assustador. E eu sou de Glasgow.»

«A parte mais dura do corpo de Roy é a língua. Pode debilitar a pessoa mais confiante do mundo em segundos com a língua», diz ainda Ferguson, contando que decidiu naquela altura, com Carlos Queiroz, que o jogador tinha de sair.

Benitez, o erro dele

Rafa Benitez não é uma personagem muito querida para Ferguson, percebe-se. «O erro que ele cometeu foi tornar a nossa rivalidade numa questão pessoal. Assim que o fez não tinha hipótese, porque eu podia esperar», diz, fazendo ainda esta comparação com Mourinho, sobre quem é melhor treinador: «Se vissem o José e o Rafa lado a lado junto à linha, já sabiam quem era o vencedor.»

O Arsenal, Fabregas e a pizza

Entre muitas observações sobre os rivais, Alex Ferguson é nesta autobiografia menos azedo em relação a Arséne Wenger do que na anterior. Sobre o Arsenal, vale muito a pena a parte que conta a batalha no balneário em 2004, depois de uma vitória do United que acabou com uma série de 49 jogos invictos dos Gunners.

Conta Ferguson que tudo começou quando Van Nistelrooy lhe disse que Wenger o tinha insultado. Ferguson foi confrontar o francês. «Ele estava lívido. Eu estava a controlar, sentia-o. Mas de repente, quando dei por mim estava coberto de pizza.»

Alguém no balneário do Arsenal tinha dado um uso alternativo à comida que lhes tinha sido oferecida. «Dizem que foi o Cesc Fabregas que me atirou pizza, mas até hoje não faço ideia quem seja o culpado.» Seguiu-se enorme confusão, claro: «O corredor fora do balneário transformou-se numa rebaldaria.»

Lampard e Gerrard não ficam bem

Há várias referências de Ferguson a rivais no livro. Uma delas particularmente pouco elogiosa, quando fala de Frank Lampard e, de caminho, de Steven Gerrard: «O Lampard, para mim, foi um extraordinário servidor do Chelsea. Mas não o vejo como um jogador de elite internacional. E sou um dos poucos que sente que o Gerrard não foi um jogador de topo.»

A seleção inglesa, eu?

Uma das revelações de Ferguson é a de que foi convidado por duas vezes para treinar a seleção de Inglaterra. Ele, um escocês orgulhoso, recusou: «Nunca podia treinar a Inglaterra. Nem num milhão de anos. Imaginem-me a voltar à Escócia.»