É o mais jovem guarda-redes titular entre as equipas da Liga e assumiu papel de figura central na vitória do União da Madeira sobre o Sporting, a maior surpresa da 14ª jornada da Liga. Falamos de André Moreira, a prova de que um triunfo pode começar bem longe da baliza adversária. Na própria baliza, por exemplo.

Com 20 anos acabadinhos de fazer, bate por alguns meses uma outra revelação precoce, Miguel Silva, a nova coqueluche do V. Guimarães. Mas André é titular desde o início da época, falhando apenas um jogo: na receção ao Sp. Braga, à 10ª jornada, por lesão.

De resto, a baliza insular foi sempre sua. O que cumpre o propósito estabelecido quando firmou o empréstimo ao União. O seu passe, recorde-se, pertence ao Atlético Madrid.

«Quando vim para o União meti na cabeça que tinha de trabalhar bastante na pré-época para ser opção. Queria ganhar rodagem na Liga que me permitisse poder dar o salto. Já posso dizer que foi a aposta certa. Temos os nossos altos e baixos, mas acho que é normal numa equipa que luta pela manutenção», afirma André Moreira, em conversa com o Maisfutebol.

Nos jogos com Benfica e Sporting, em que o União surpreendeu o país, André Moreira assumiu lugar de destaque, mas as boas exibições já vinham de outros tempos. Na habitual pontuação decidida pelo nosso jornal a cada jogo, já tinha recebido nota elevada nos embates com Nacional, V. Guimarães e Tondela.

Com Benfica e, agora, Sporting, voltou a agigantar-se. Ele e toda a equipa: «Foi uma resposta que a equipa conseguiu dar ao resultado menos conseguido de Paços de Ferreira. Conseguimos mostrar a nossa qualidade e provar que o que aconteceu em Paços foi um resultado esporádico, por assim dizer.»

De facto, aquele jogo de Paços, em que o União saiu goleado por 6-0, marcou a equipa. André Moreira assume-o. «Percebemos que algo falhou ali, mas sabíamos que foi só um jogo mau. Às vezes acontece. Conseguimos juntar a equipa e dar a resposta que todos viram», destaca.

Ao mesmo tempo, deram um «ânimo extra» ao treinador Luís Norton de Matos, que foi praticamente «despedido» pelo presidente Luís Ferreira mas, nos últimos dois jogos, fez quatro pontos frente ao campeão nacional e ao, na altura, líder do campeonato.

«Foi mais uma situação que acabou por unir o grupo. O presidente fez o que entendeu que deveria fazer, como sempre a pensar no melhor para o clube. Nós tentamos dar a melhor réplica possível e é claro que este resultado também tem dedo do treinador. O mérito das vitórias é sempre de todos»
, resume André Moreira.

O que se passou com o FC Porto? «Golos estranhos…»

O jogo com o Sporting, então. A coleção de intervenções decisivas começou ao minuto 24, quando sacudiu um livre de Jefferson, para canto. Antes do intervalo ainda negou o golo a Slimani, primeiro, e Montero, depois, na melhor defesa do primeiro tempo.

Em cima da meta, já com o União em vantagem, dois «milagres». Primeiro bloqueia, quase por instinto, um desvio de Tanaka e depois, numa bola que parecia de golo certo, evita que Slimani faça o empate. A forma como os companheiros o procuraram para celebrar, depois desse momento, diz tudo sobre a importância que teve em segurar o inesperado triunfo.

Recorde o jogo AO MINUTO

O jovem guarda-redes sublinha que, nos duelos com as equipas mais fortes, já vai preparado para ter vida difícil: «Um jogo com um grande, à partida, representa mais trabalho do ponto de vista defensivo. Como guarda-redes não sou exceção, portanto é normal que tivesse um jogo deste tipo.»

«O segredo foi perceber enquanto equipa o que podíamos fazer para melhorar e acreditar que, mesmo tendo pela frente dois adversários daquele nível, podíamos somar pontos», explica. E não acredita em facilitismos: «É normal que, antes do jogo, possa haver alguma sobranceria, mas só aí. Quando o jogo começa não acredito em facilidades seja de quem for. Os jogos são todos para ganhar e de certeza que o tentaram fazer da melhor forma possível.»

Contra o FC Porto, contudo, a ideia não vingou. A equipa saiu goleada por 4-0. Significa isso que os dragões estão mais fortes que a concorrência, questionamos. «Quando jogamos contra uma equipa grande há sempre uma estratégia específica para aquele jogo. Só que contra o FC Porto, termos sofrido, até de forma estranha, três golos em vinte minutos deitou tudo a perder. Não havia volta a dar, a partir daí, depois de um início daqueles», reage o guardião.



Admirador de Dida e de Manuel Neuer

A exibição frente ao Sporting não rendeu a André Moreira mais do que as felicitações habituais. «Família, amigos, por aí»
, atira.

«Procurei, no final, ir cumprimentar o Gelson, que é meu colega na seleção, mas não falei com mais ninguém do Sporting porque saíram todos rapidamente do campo. O Gelson deu-me os parabéns, eu fiz o mesmo. O normal nestas alturas», acrescenta.

Do clube que detém o seu passe, o Atlético Madrid, também não teve reações, garante. «De forma direta não tenho feedback do Atl. Madrid, mas sei que eles observam os meus jogos», assegura.

André Moreira é de Vila Nova de Famalicão e formou-se no Ribeirão, equipa tradicional dos escalões secundários de Portugal, bem perto da sua cidade natal. De lá, pela mão de Jorge Mendes, saltou para o Atlético Madrid. Ainda não teve, contudo, oportunidade na equipa de Diego Simeone. Mas não desiste.

«Quando assinei e soube que seria emprestado, o meu objetivo sempre foi voltar lá. Quero voltar ao Atlético, é esse o principal objetivo», garante.

Um passo que poderá, portanto, ser decisivo na carreira do miúdo que vê Neuer como o melhor guarda-redes do mundo da atualidade, mas cresceu com outra referência. «Quando era mais jovem, sempre admirei o Dida. Semelhanças? Talvez a estatura…(risos). É difícil fazer estas comparações», remata.