Antes de mais, e na análise às finanças do futebol português, é necessário deixar um facto bem assente: o mérito do prejuízo quase residuak das contas da Superliga é do F.C. Porto. A participação azul e branca na Liga dos Campeões é que justificaram o resultado negativo de apenas 1,2 milhões de euros, resultante da diferença entre os 279,3 milhões de euros de gasto contra os 278,2 milhões de euro de receita.
Voltando atrás, a Deloitte & Touch, empresa responsável pelo Anuário das Finanças do Futebol Profissional, fala inclusivamente de um «efeito F.C. Porto». Diz a empresa que «a época desportiva do Porto alterou os principais indicadores de análise», pelo que, e porque a temporada europeia azul e branca foi uma temporada de excepção, as conclusões deste estudo das finanças do futebol português estão viciadas à partida.
Certo é que as equipas nacionais continuam fortemente endividadas e descapitalizadas. A Superliga teve em 2003/04 receitas totais na ordem dos 278 milhões de euros, o que representa um crescimento das receitas relativamente ao ano anterior de 40 por cento. Ora 40 por cento é precisamente a fatia que o F.C. Porto oferece a este bolo. As receitas dos azuis e brancos foram de 40 por cento das receitas totais do campeonato português, quase metade, portanto. Já agora o Benfica teve receitas de 18 por cento do total, o Sporting de 12 por cento e os restantes dezassete clubes de 30 por cento.
De resto, e como curiosidade, pode acrescentar-se que a maior parte das receitas veio das mais-valias feitas com a venda de jogadores (31 por cento, sendo que quase triplicaram relativamente ao ano anterior), seguida das receitas feitas com as provas desportivas (25 por cento, sendo que mais do que duplicaram), depois as receitas relativas à venda dos direitos televisivos (17 por cento), depois as receitas de publicidade e merchandising (11 por cento), outros tipos de receitas (10 por cento) e no último lugar as receitas relativas aos quotas dos associados dos clubes (seis por cento).
Receitas e resultados financeiros dos clubes portugueses na época 2003/04
F.C. Porto: receitas 110 milhões de euros (lucro de 25 milhões)
Benfica: receitas 49,7 milhões de euros (prejuízo de cerca de seis milhões)
Sporting: receitas 34,2 milhões de euros (prejuízo de cerca de sete milhões)
Boavista: receitas 9,8 milhões de euros (prejuízo de cerca de seis milhões)
Sp. Braga: receitas 9,6 milhões de euros (lucro de cerca de dois milhões)
V. Guimarães: receitas 9,5 milhões de euros (prejuízo de cerca de três milhões)
U. Leiria: receitas 7,8 milhões de euros (lucro de cerca de dois milhões)
Marítimo: receitas 7,1 milhões de euros (resultado zero)
Académica: receitas 6,7 milhões de euros (prejuízo de cerca de um milhão)
Alverca: receitas 5,8 milhões de euros (lucro de cerca de um milhão)
Nacional: receitas 5,4 milhões de euros (resultado zero)
Belenenses: receitas 5,3 milhões de euros (prejuízo de cerca de um milhão)
Beira Mar: receitas 5,2 milhões de euros (resultado zero)
P. Ferreira: receitas 3,2 milhões de euros (resultado zero)
Gil Vicente: receitas 2,6 milhões de euros (prejuízo de 500 mil)
Moreirense: receitas 2,5 milhões de euros (lucro de 500 mil)
Rio Ave: receitas 2,5 milhões de euros (resultado zero)
E. Amadora: receitas 2,3 milhões de euros (prejuízo de 1,5 milhões)
N.R. O estudo entregue à comunicação social não apresenta os custos totais de cada clube, apenas as receitas e o resultado final.