Seis corridas, seis vitórias da Mercedes. Tinha tudo para estar a ser uma época tranquila para a escuderia alemã que está muito à frente das rivais na temporada de 2014 da Fórmula 1. Mas se a F1 ainda é um desporto de equipa, a verdade é que, no final, só ganha um. O que traz sempre dissabores.

Nico Rosberg venceu o Grande Prémio do Mónaco e recuperou a liderança do Mundial, colocando um ponto final numa série de quatro vitórias seguidas de Lewis Hamilton, o seu colega de equipa. Mesmo ganhando menos vezes, está na frente. Bateu o pé ao inglês e mostrou que lhe vai dar luta.

O ambiente entre os dois, esse, parece definitivamente afetado.

Se, aqui e ali, já se começavam a ouvir rumores de uma relação que era essencialmente profissional, agora tudo ficou em pratos limpos. «Não falo com Nico Rosberg», assumiu Hamilton.

O alemão, filho de Keke Rosberg, ex-campeão do mundo, foi acusado de ter cometido um erro propositadamente na qualificação em Monte Carlo. Na zona de Maribeau, Rosberg perdeu o controlo do seu Mercedes e entrou na zona de escapatória. Ao sair provocou uma situação de bandeiras amarelas, que obrigou os pilotos que vinham atrás a desacelerar e a ficarem sem hipóteses de bater o melhor tempo que era do próprio Rosberg. Entre eles…Lewis Hamilton.

«Foi irónico ele ter conseguido a pole assim, não foi?», atirou Hamilton na conferência de imprensa que se seguiu. Rosberg assumiu o erro, negou a premeditação, mas pediu desculpa. Hamiltou rebateu ficando calado. «Não tenho mais nada a comentar», prometendo depois lidar com a situação «como Ayrton Senna faria».

No domingo, depois da corrida, a cerimónia do pódio foi sintomática. Hamilton e Rosberg não se cumprimentaram e nem sequer cruzaram os olhares. Festejaram separados, fizeram os discursos de ocasião e cada um seguiu o seu caminho, já preparando a próxima corrida, no Canadá.

Hamilton lamentou, depois, que a Mercedes tenha apenas uma equipa de estratégia para os dois pilotos. «Na McLaren tínhamos uma para cada um», frisou, no que pareceu uma bicada à própria equipa.

A verdade é que de relações conturbadas entre companheiros de equipa está a história da Fórmula 1 cheia. Rosberg e Hamilton poderão escrever mais um capítulo. E a temporada ainda nem vai a meio.

A
Maisfutebol Total recorda algumas das principais rivalidades dentro da mesma equipa ao longo da história da Fórmula 1.

Wolfgang Von Trips-Phill Hill, em 1961 (Ferrari)



Foi a primeira grande rivalidade no seio da Ferrari, uma equipa com outros exemplos, até porque Enzo Ferrari defendia que era um fator que aumentava a competitividade da equipa.

Von Trips e Hill lutavam pelo título mundial, que se ia decidir em Monza, precisamente a casa da Ferrari. Von Trips queria dar o primeiro título à Alemanha, Hill aos EUA.

Hill vinha de uma família com problemas nos EUA e era apaixonado pelas corridas europeias e pelo glamour da Fórmula 1. Von Trips já sabia bem o que isso era, pois pertencia a uma família de boas posses e havia sido escolhido pelo próprio Enzo Ferrari.

Na ânsia de bater o companheiro de equipa e conquistar aquele título, Von Trips, famoso pelos riscos que corria em pista, arriscou de mais. Um erro de cálculo levou-o a um acidente gravíssimo que lhe tirou a vida. Pior ainda: levou consigo 15 espectadores. 

Phil Hill acabou por vencer o campeonato, o único da sua carreira. É, ainda hoje, o único norte-americano de nascimento a ser campeão do mundo de F1. O outro, Mario Andretti, nasceu em Itália.

Gilles Villeneuve-Didier Pironi, em 1982 (Ferrari)



Mais uma rivalidade que acabou em tragédia e novamente no seio da Ferrari.

A relação atingiu o limite de tensão no Grande Prémio de San Marino, após uma ordem de equipa: Didier Pironi deveria ficar atrás de Gilles Villeneuve. Mas Pironi não gostou da ideia. Tentou tudo até ultrapassar mesmo o canadiano. Villeneuve achou que era um movimento para entreter a plateia e voltou a ganhar o lugar, mas a duas voltas do fim, Pironi passou-o novamente para a vitória. Caldo entornado.

Villeneuve ficou furioso, jurou nunca mais falar com o colega de equipa e acabou por não o fazer, mas pelos piores motivos.

Duas semanas mais tarde, perdeu a vida no circuito de Zolder, Bélgica, quando andava nos limites para bater o tempo de qualificação de...Pironi.

Nigel Mansell-Nelson Piquet, em 1986 (Williams)

Muitas das rivalidades dentro da mesma equipa acontecem quando um piloto consagrado se sente atacado por outro, mais jovem ou simplesmente inexperiente. O caso de Mansell e Piquet é um bom exemplo.

O brasileiro era um piloto consagrado, bicampeão do mundo, e a estrela contratada pela Williams. Nigel Mansell parecia fadado a ser segundo piloto mas os resultados do inglês começaram a surpreender.

A Williams passava, também, por um ano complicado, devido ao acidente que deixou Frank Williams numa cadeira de rodas. Nunca definiu quem era o número um. A relação entre ambos azedou tanto que…Alain Prost aproveitou e levou o título.

No ano seguinte, Mansell sofreu um grave acidente no Japão e Piquet ficou com via aberta para o título. Recentemente disse esse acidente que foi a melhor coisa que aconteceu naquele ano...

Ayrton Senna-Alain Prost, em 1988 (McLaren)



O exemplo que todos recordam pela repercussão que teve em Portugal e pela categoria dos pilotos envolvidos.

Dois dos melhores pilotos de sempre partilharam a boxe da McLaren no final dos anos 80 e iniciaram uma competição que marcou a carreira de ambos.

O caso mais conhecido aconteceu no Japão, em 1988. Os dois partiram com hipóteses de chegar ao título, mas Prost tinha vantagem. Colidiram na chicane do circuito, quando Prost tentava bloquear uma ultrapassagem de Senna. Fim da linha para o francês, mas não para o brasileiro que voltou à pista e venceu a corrida.

Acabou desclassificado numa decisão polémica que deu o terceiro título a Prost. No ano seguinte, já em equipas diferentes, Senna vingou-se...

Em 1988, a McLaren venceu 15 das 16 corridas o que prova que mesmo com pilotos de costas voltadas é possível dominar um campeonato.

Alain Prost-Nigel Mansell, em 1990 (Ferrari)



Se Mansell se livrou de Piquet e Prost de Senna, os dois encontraram-se na Ferrari e…colidiram.

O inglês passou o ano a suspeitar que a Ferrari dava material melhor ao seu colega de equipa, alegando, inclusive, que Prost ficou com o seu chassis e o número foi trocado para eliminar provas.

No GP de Portugal, Prost ficou preso atrás de Mansell e os dois McLaren passaram para a frente, na corrida mais problemática para a Ferrari nesse ano.

A meio da época, Mansell anunciou a sua retirada da F1, embora tenha voltado para a Williams onde foi campeão do mundo em 1992. No ano seguinte, a equipa contratou Alain Prost e…Mansell retirou-se de vez.

Lewis Hamilton e Fernando Alonso, em 2007 (McLaren)

O jovem e o consagrado. Fernando Alonso deixara a Renault, onde fora bicampeão do mundo, para tentar devolver a McLaren à glória que fugia desde Mikka Hakkinen.

Não contava com o surgimento do jovem Lewis Hamilton que esteve perto de levar o título de 2007 e foi mesmo campeão em 2008.

No GP Hungria de 2007, Alonso acusou a equipa de favorecer o companheiro e os dois ainda atrapalharam as voltas de qualificação um do outro.

Alonso deixou a McLaren e voltou à Renault no final desse ano. Nunca mais foi campeão do mundo. Hamilton festejou em 2008, viveu um período de seca e está, agora, na Mercedes a viver situação parecida com Nico Rosberg.

Sebastian Vettel e Mark Webber, em 2013 (Red Bull)



É verdade que a relação entre Vettel e Webber nunca tinha sido perfeita, sobretudo em 2010, ano do primeiro título do alemão. Contudo, foi no Grande Prémio da Malásia de 2013 que o copo transbordou de vez.

Webber estava na frente, com Vettel atrás e a Red Bull solta a famosa ordem «Multi 21», pedindo aos dois para aguentarem as posições até ao final.

O australiano ouve e desarma, o alemão ouve e ataca. Rouba a vitória a Webber e lança-se para o quarto título da carreira, enquanto o companheiro de equipa decide abandonar a Fórmula 1.