A greve nacional da Função Pública registou esta quinta-feira uma adesão superior a 80 por cento, segundo os sindicatos, um número bastante superior ao apontado pelo Governo que refere uma adesão de 5,11 por cento na Administração Central.

Fonte do Ministério das Finanças e da Administração Pública disse esta quinta-feira à agência Lusa que a adesão à greve foi durante a manhã de 5,11 por cento na Administração Central.

As três estruturas sindicais da Função Pública, que convocaram a greve para hoje e sexta-feira, apontam para uma adesão superior a 80 por cento, sendo a saúde, educação, autarquias e segurança social os sectores mais afectados.

Apesar de não ser uma acção conjunta, mas sim coincidente, os sindicatos são unânimes nas razões que levam ao protesto, nomeadamente a «intransigência negocial» do Governo, os aumentos salariais, o aumento das contribuições para a ADSE, o prolongamento do congelamento das progressões nas carreiras, a lei da mobilidade e a revisão do sistema de vínculos, carreiras e remunerações.

Greve de dois dias é passo «arrojado»

A Frente Comum, afecta à CGTP, afirmou hoje em conferência de imprensa que a adesão à greve é superior aos 80 por cento, admitindo que este número possa aumentar sexta-feira, tendo em conta os encargos financeiros que uma paralisação de dois dias tem «nos bolsos dos trabalhadores».

«Dois dias de greve é muito pesado para o bolso dos trabalhadores», disse a coordenadora da Frente Comum, Ana Avoila, acrescentando que os piquetes de greve têm indícios de que alguns trabalhadores que hoje não fizeram greve o possam fazer sexta-feira.

Também o secretário coordenador da FESAP, Jorge Nobre dos Santos, reconheceu em conferência de imprensa que foi «arrojado avançar para uma greve de dois dias», mas sublinhou que a paralisação «está a ser um êxito na medida em que é superior a 80 por cento».

«A generalidade dos serviços sente a greve», disse, por seu turno, o presidente do STE, Bettencourt Picanço, acrescentando que os trabalhadores estão a dar a resposta que os sindicatos esperavam.

Governo acusa sindicatos de «falta de abertura»

O ministro de Estado e das Finanças acusou hoje os sindicatos da Função Pública de «falta de abertura» perante as propostas de reforma feitas pelo executivo ao longo dos últimos meses.

«Os sindicatos estão contra tudo aquilo que o Governo propôs», afirmou Fernando Teixeira dos Santos que falava à entrada do debate da proposta do Orçamento de Estado para 2007 na Assembleia da República.

A coordenadora da Frente Comum reagiu e acusou o Governo de violar a lei da negociação ao apresentar propostas «feitas e fechadas», uma acusação partilhada pelas outras duas estruturas sindicais que falam «em prepotência e autismo do executivo em torno do processo negocial para 2007».

«Esperemos que o Governo pense e que no dia 15 de Novembro (nova ronda negocial para discutir a revisão do Sistema de Vínculos, Carreiras e Remunerações) adopte uma postura totalmente diferente», disse Jorge Nobre dos Santos.

Bettencourt Picanço sublinhou que a greve tem como objectivo levar o Governo a «inflectir a sua postura e o seu comportamento arrogante», acrescentando que a negociação com os sindicatos é um direito do Estado democrático.

Esta é a segunda paralisação do género convocada pelas três estruturas sindicais do sector no período de quatro meses, depois da greve de 06 de Julho contra o novo regime de mobilidade de funcionários públicos, entretanto aprovado na Assembleia da República.